Vocações
Há algumas edições, viemos falando sobre as vocações, tema importante e sempre muito interessante. Todos queremos saber os motivos, o que leva pessoas a mudar de vida, muitas vezes radicalmente, como no caso das vocações religiosas e sacerdotais.
Nesta edição, fecharemos o ciclo das vocações de vida religiosa relembrando o encontro vocacional que aconteceu em outubro. O discernimento é uma coisa que conforme vamos amadurecendo, vamos lapidando e tendo mais clareza. E para você que acha que só porque nunca sentiu no coração o chamado a vida religiosa não tem mais chance, nesta edição, convidamos uma pessoa muito especial e conhecida por muitos na nossa Paróquia. Ele que foi batizado, fez a primeira comunhão em escola católica, crismado, fez EAC, foi da música, EJC, até que… Jesus resolveu que estava na hora de estar com Ele mais de perto, nesta caminhada.
Vitor Mattos, ou mais conhecido na Paróquia pelos jovens como PS (apelido de infância), sempre viveu sua vida como qualquer jovem comum, estudando, fazendo provas, indo a festas e shows, namorando, enfim, tudo que qualquer um de nós fez ou faz. E por causa disso, viemos trazer uma visão diferente de uma pessoa que sendo leigo, perguntou ao Senhor o que Ele gostaria e, atendeu ao Seu chamado.
- Como era a vida e participação como leigo na Igreja antes de se tornar seminarista?
Sempre fui paroquiano da Igreja Nossa Senhora de Loreto, fui batizado pelo Padre Sebastiao (ainda com cabelos pretos, Vitor brinca). É sempre importante se lembrar da sua “primeira casa”, ou seja, a paróquia de onde participou pela primeira vez, onde seus pais também costumavam frequentar.
Fiz primeira comunhão, perseverança em colégio católico e voltei a paróquia com 16 anos, convidado por amigos a fazer o EAC em 2005. Muitos frutos bons surgiram daí, pois voltei a sentir o carinho de Deus e Jesus, conversando com eles. Entretanto ainda não pensando em sacerdócio. Percebendo ou não, fui conduzido a enxergar a face de Cristo em cada um ali neste encontro. Desde essa volta, nunca mais deixei o serviço na Igreja.
Também participei do grupo de música do Loreto, mas por causa da faculdade, precisei me afastar do ministério de música, mas não me afastei da Igreja. Anos se passaram fui convidado, logo assim que terminou o EAC e o tempo lá, fui convidado a fazer o EJC, assim não teve nem brecha para que me “perdesse” ou deixasse a perseverança na Igreja de lado.
“Aqueles que perseveram até o final, esses são dignos do Reino do Céus e receberão as Graças daquilo que fizeram por amor”.
- O que houve para mudar, para perceber que precisava mudar?
Fazer o encontro de jovens (EJC), é como se Deus te desse uma aprofundada. A diferença do EAC e EJC, é muito a maturidade que você recebe lá. O tema deste encontro foi “filhos do céu”, e assim pude parar para pensar em realmente o que Deus quer de nós. No encontro de jovens, com mais maturidade, tudo aconteceu.
Após isso, no 30º encontro, voltando a uma casa de retiro que não frequentávamos há um tempo, mas uma casa muito boa e especial tanto pela tradição das carmelitas quanto pelos trabalhos delas em clausura e em sua ida ao povo. A minha vida de oração parecia estar estagnada, eu um jovem seguindo minha vida de oração, namorando na época, e meses antes tinha participado de um retiro do silencio. Esse teve como objetivo e tema principal “arrumar a casa”, arrumar o Vitor e me conhecer. Diante disso, fazendo um exame de consciência mais afundo, buscando uma mudança de vida, e buscando uma santidade, sempre. Até então, eu achava que minha vocação era o matrimônio. Chegando no retiro do EJC, já estava com outra visão dos outros retiros anteriores, me deram uma outra visão para refletir e ouvir a voz de Deus.
Na semana do retiro, eu estava responsável por ajudar na equipe de música, e eu fiquei sem voz no encontro e precisava de voz para umas partes, mas não podia fazer mais nada, e chorava muito por isso. Perguntei para Deus o seguinte “senhor, se não é para eu falar, é para ouvir. Então, me fala? O que o senhor tem para mim? Se eu não posso fazer o que eu me preparei, então o que é para fazer? ”
Junto do retiro, eu comecei a perguntar a Deus o que ele queria. Domingo de manhã fui a capela, sozinho, atrás do altar, fiquei abaixado e comecei a conversar com Deus. Poucas vezes eu parei e conversei com Ele de uma maneira tão sincera antes, e perguntei para ele sobre o que realmente e Ele queria de mim. De uma forma bem íntima, dei as opções bem claras: se ele quisesse que eu seguisse o matrimonio, eu já tinha a minha esposa, já que meu namoro melhor, não podia estar. Já tinha visto a minha esposa na minha frente. E depois eu fiz a outra proposta, “se o senhor quer que eu fique mais ao teu lado, mais entregue e consagrado, me diz se é o sacerdócio”. Terminei a oração, voltamos as atividades, e na parte da tarde, veio uma irmã falar comigo.
Ela disse que estava em oração com outra irmã que pediu para conversar comigo e disse que o Espírito Santo ia guiar, e Deus havia colocado no coração dela a necessidade de me dizer uma coisa. Eu já tinha apresentado minha namorada a ela entes, e ela mesmo assim disse que precisava falar comigo. Descemos, sentamos aos pés da imagem de São José – não existe coincidência para Deus, já que estou hoje me preparando para entrar no seminário São José – e ela falou que tinha uma coisa para falar comigo porque eu estava questionando à Deus alguma coisa. Comecei a ficar nervoso, porque ninguém estava comigo na capela de manhã, me certifiquei disso.
Ela me falou que eu estava perguntando a Deus o que ele queria de mim e que ela sentia algo muito especial. Eu comecei a chorar, muito, lembrando da conversa que tive com Deus. Não parou por aí, ela disse que minha namorada era uma princesa, mas… que eu não era o príncipe dela. Chorei mais ainda, e ela começou a me dar vários testemunhos de outros sacerdotes que passaram pela mesma situação, eram noivos e terminaram noivado para entrar no sacerdócio… E me convidou para fazer o discernimento, já que eu estava muito comovido, e ela propôs que se Deus estava chamando, estava pedindo a ela, não foi algo à toa. Já que elas rezam todo dia e se colocam diante Dele. Optei então por fazer esse discernimento.
Uma das primeiras pessoas que conversei, logico foi a minha namorada, que perguntou como tinha sido, expliquei tudo, e foi bem surpreendente para ela, que ficou abismada e perguntou o que iria acontecer. Eu disse que ia fazer o discernimento, e que não me impediria de namorar, de estudar nem de fazer nada disso, mas que na minha vida de oração eu colocaria para Deus o que estaria sendo apresentado e pedindo a Ele, que pelas situações da minha vida como está sendo regida, Ele falasse comigo e a partir daí, dessas situações concretas, iria tendo o caminho e a confiança para dar determinados passos.
Depois disso, ainda namoramos por alguns meses, até que chegou o momento que de uma forma muito madura – ou eu me entregava a Deus de uma forma mais profunda ou a minha namorada – ela me ajudou a dar esse passo em águas mais profundas. Graças a Deus! Uma amizade muito grande ficou.
- O que você está fazendo agora? Como é sua vida depois de ter entrado no seminário?
Atualmente sou seminarista da Arquidiocese do Rio de Janeiro, faço parte do primeiro ano do seminário Propedêutico Rainha dos Apóstolos, no qual recebemos instruções e introduções do que é e como é a vida de seminário para proposta do seminário diocesano. Passando vida de oração e comunidade com o carisma de Cristo, bom pastor.
- Por que é importante as pessoas descobrirem suas vocações?
Hoje em dia estamos sendo levados cada vez mais a não fazer o discernimento. Procure dia a dia, tentar ouvir a voz de Deus, ser fiel à sua consciência, pois Deus fala na nossa consciência. Uma frase marcante para mim é: A vontade Dele é a melhor coisa que eu posso arranjar para minha vida, é a melhor coisa que existe para minha vida. Quando a gente descobre isso, quando caminhamos em direção a isso, não tem tristeza, não tem desespero. Você está na rocha firme.
E eu convido a todos a darem um tempo, durante o dia e perguntarem “Senhor o que você quer de mim? ”. A gente aprende muitas das vezes por repetição, por rotina. No trabalho, nos estudos, em casa. A vida de oração é como essas rotinas do dia a dia. E se a gente não começa a rezar, e trabalhar nossa vida de oração, a gente não reza nunca. Se não nos colocamos na presença de deus durante o dia não adianta. Pode ser por oração verbal ou mental, estamos alimentando nosso discernimento, e assim alimentando nossa vocação pois assim como nossa fé nos promete, um dia vamos poder encontrar com Ele na vida eterna… Aos que perseveram.
E você, já parou para se perguntar qual é realmente sua vocação?
Tamara Ribeiro – Pascom Loreto.