Vaticano II – A Igreja no coração do povo
“Quero uma Igreja pobre para os pobres.”- provavelmente de imediato você relacionou essa frase ao atual Papa, Francisco, não é mesmo? Sim, essa frase foi dita pelo nosso Vigário de Cristo, mas muito antes dele, outro Santo Padre usou essas palavras para dar start àquele que foi um dos maiores (se não, o maior) evento da Igreja, o Concílio Vaticano II.
Com essas palavras, o então Papa (São) João XXIII, surpreendeu a todos convocando o Vaticano II.
Você já deve ter ouvido falar do Concílio, não é mesmo? Mas você sabe o que ele impactou na nossa Igreja? O que ele trouxe de mudança? Como funcionou? O que ele diz? Você sabia que nesse mês ele completa 56 anos?
“O próximo concílio reúne-se, felizmente, no momento em que a Igreja percebe, de modo mais vivo, o desejo de fortificar a sua fé e de espelhar-se na própria e maravilhosa unidade; como, também, percebe melhor o dever urgente de dar maior eficiência à sua robusta vitalidade, e de promover a santificação de seus membros, a difusão da verdade revelada, a consolidação de suas estruturas. Será esta uma demonstração da Igreja, sempre viva e sempre jovem, que sente o ritmo do tempo e que, em cada século, se orna de um novo esplendor, irradia novas luzes, realiza novas conquistas, permanecendo, contudo, sempre idêntica a si mesma, fiel à imagem divina impressa em sua face pelo esposo que a ama e protege, Jesus Cristo.
Ao mundo, enfim, perplexo, confuso, ansioso sob a contínua ameaça de novos e assustadores conflitos, o próximo concílio é chamado a oferecer uma possibilidade de suscitar, em todos os homens de boa vontade, pensamentos e propósitos de paz: paz que pode e deve vir, sobretudo das realidades espirituais e sobrenaturais da inteligência e da consciência humana, iluminadas e guiadas por Deus, criador e redentor da humanidade.”
(Constituição Apostólica Humanae Salutis do Sumo Pontífice João XXIII para a Convocação do Concílio Vaticano II)
Vamos voltar para o Natal do ano de 1961, dia em que São João XXIII deu início àquele que seria um dos maiores acontecimentos dos últimos tempos na vida da Igreja. Através da Constituição Apostólica Humanae Salutis, estava convocado o Concílio Vaticano II.
A Humanae Salutis apresenta as principais razões que motivaram João XXIII a convocar o concílio, que foram motivadas principalmente na crise da sociedade da época, que se via em um grande progresso material, e ao mesmo tempo encontrava-se em uma profunda decadência moral, gerando uma crise de valores, onde os homens já não ansiavam pelos valores celestes, enfraquecidos diante do impulso aos gozos terrenos, sendo urgente, portanto, resgatar os valores cristãos de forma a possibilitar ao homem contemporâneo à salvação.
Como foi o Concílio Vaticano II?
No seu discurso de inauguração do próprio CVII, o Papa afirmou que “o que mais importa ao concílio ecumênico: que o depósito sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz”. E ainda: “para que esta doutrina atinja os múltiplos níveis da atividade humana (os indivíduos, a família, a vida social) é necessário primeiramente que a Igreja não se aparte do patrimônio sagrado da Verdade recebido dos seus maiores”, essa afirmação é muito clara em seu objetivo, portanto, ninguém deve querer inventar uma nova fé. E ele não para por aí: “Ao mesmo tempo, deve também olhar para o presente, para as novas condições e formas de vida introduzidas no mundo hodierno que abriram novos caminhos ao apostolado católico”. Esta é a finalidade do CVII.
Diferente dos concílios anteriores, que tinham por finalidade os dogmas, o CVII foi um concílio teológico onde a proposta central era expressar de uma forma mais clara as verdades já existentes, sem deturpação.
A primeira sessão do Concílio começou no dia 11 de outubro de 1962, encontrando ainda algumas resistências. Menos de um ano depois, a morte de João XXIII gerou um momento de crise. O Papa Paulo VI deu continuidade ao concílio, que teve mais três sessões e durou até 1965.
O Concílio produziu quatro constituições, oito decretos e três declarações.
Entre os documentos conciliares mais famosos estão Lumen Gentium (sobre a identidade e missão da Igreja), Dei Verbum (sobre a Revelação Divina), Gaudium et Spes (sobre a Igreja no mundo), Sacrosanctum Concilium (sobre Liturgia), Unitatis Redintegratio (ecumenismo e diálogo cristão), Ad Gentes (missão da Igreja) e Inter Mirifica (sobre os Meios de Comunicação Social).
O Espírito do CVII
Os documentos conciliares são exemplos claros do diálogo e da comunhão que se encontrava naquele momento. Ali havia uma comunhão possível pela junção da sabedoria teológica, do diálogo e da inspiração divina. E onde está a polêmica nisso?
O CVII permanece escondido ainda mais de 50 anos depois. Ele precisa chegar aos fieis. Mas por que não chegou depois de tanto tempo? Não é interessante para muitos que o CVII seja descoberto?
Na época do Concílio havia três grandes correntes teológicas:
– a primeira, conservadora, era a corrente tomista, formada por homens que viam em Santo Tomás de Aquino um grande tesouro para a Igreja.
– a segunda, denominada Teologia das Fontes, formada por teólogos que, embora venerassem Santo Tomás de Aquino, criam que as outras riquezas da Igreja presentes na Patrística, na Bíblia, na Liturgia deveriam ser recuperadas.
– o terceiro grupo estava voltado para a filosofia moderna, para o mundo moderno. Estes teólogos queriam um diálogo com o mundo, que a Igreja falasse uma linguagem que os homens modernos compreendessem.
O equilíbrio entre essas três correntes foi alcançado e os documentos são prova disso.
Comprova-se claramente a presença das três grandes correntes teológicas em perfeita harmonia. Trata-se de um texto católico, porém algumas pessoas pertencentes ao grupo ligado à filosofia moderna, ainda hoje se apropriaram da última frase que diz o nº 16 do documento do CVII, Optatam Totius:
“A teologia dogmática ordene-se de tal forma que os temas bíblicos se proponham em primeiro lugar. Exponha-se aos alunos o contributo dos Padres da Igreja oriental e ocidental para a Interpretação e transmissão fiel de cada uma das verdades da Revelação, bem como a história posterior do Dogma tendo em conta a sua relação com a história geral da Igreja. Depois, para aclarar, quanto for possível, os mistérios da salvação de forma perfeita, aprendam a penetra-los mais profundamente pela especulação, tendo por guia Santo Tomás, e a ver o nexo existente entre eles. Aprendam a vê-los presentes e operantes nas ações litúrgicas e em toda a vida da Igreja. Saibam buscar, à luz da Revelação, a solução dos problemas humanos, aplicar as verdades eternas à condição mutável das coisas humanas e anuncia-las de modo conveniente aos homens seus contemporâneos.”
Esse grupo esquece de todo o resto, jogando-o no lixo. Eles se autodenominam intérpretes e representantes do Concílio Vaticano II, utilizando-se dos que sempre procuram “um novo jeito de ser Igreja” através de suas “novas teologias e doutrinas”. Nesse momento nasce um desequilíbrio no evento conciliar!
É por isso que tornarem conhecidos e apreciados os documentos elaborados neste Concílio não é interessante para eles: evidenciaria apenas o caráter católico dos documentos e comprovaria o acerto da hermenêutica da continuidade proposta pelo Papa Bento XVI (leitura dos documentos conciliares em sintonia com os concílios anteriores).
A chamada de hermenêutica da ruptura, formada por essa 3ª corrente, estava presente desde as reuniões conciliares e infelizmente é um grupo que “seqüestra” o Concílio Vaticano II, transformando-o numa novidade, nomeando essa “novidade” como o espírito do Concílio.
Falácias a parte, lembremos que o verdadeiro espírito do Concílio Vaticano II é o católico:
O Papa Emérito Bento XVI convocou o Ano da Fé, que foi o momento propício para que todos os fiéis pudessem realizar aquilo que era a intenção original de São João XXIII, pois, somente “arraigados solidamente na doutrina que recebemos dos nossos maiores” podemos agora apresentá-la ao homem moderno.
Este é o verdadeiro espírito do Concílio Vaticano II.
São João XXIII e a conclusão do Concílio
São João XXIII não acompanhou o transcorrer nem a conclusão daquele que é considerado um dos maiores eventos católicos até hoje. Ele morreu na noite do dia 3 de junho de 1963.
Em 21 de junho do mesmo ano, foi eleito Sumo Pontífice o Cardeal Giovanni Battista Montini, o Papa Paulo VI. Foi ele quem deu continuidade ao Concílio e o concluiu em 8 de dezembro de 1965.
Na cerimônia de conclusão do Concílio Ecumênico Vaticano II, o Papa Paulo VI leu a Carta Apostólica In Spiritu Sancto que encerrava o evento. “Mandamos também e ordenamos que tudo quanto foi estabelecido conciliarmente seja observado santa e religiosamente por todos os fiéis, para glória de Deus, honra da santa mãe Igreja, tranquilidade e paz de todos os homens”, afirma um trecho da carta.
Leia mais conheça e descubra a fundo as mudanças trazidas com o Vaticano II! Mas cuidado, busque fontes confiáveis, como o site do Vaticano por exemplo.
VOCÊ SABIA?
As missas passaram a ser rezadas na língua de cada país após o Concílio Vat. II – antes eram celebradas sempre em latim