Terceira Idade – Feliz de quem chega lá.
É fato, que os idosos enfrentam problemas e são muitos. O sistema único de saúde é falho, não comporta atender a demanda cada vez maior, justamente na fase em que a pessoa mais precisa de cuidados médicos. Os planos de saúde são impagáveis e muitos que tiveram plano a vida toda, quando completam 60 anos já não conseguem continuar mantendo as mensalidades absurdas.
O transporte público não é projetado para facilitar o acesso daqueles que não possuem mais mobilidade para subir os degraus tão altos dos ônibus, o empurra-empurra do metrô e a falta de respeito e preparo de muitos profissionais da área para com o idoso.
Mas, nada disso é motivo para que muitos dos nossos vovozinhos e vovozinhas se rendam!
Os que são idosos nesse inicio de século estão quebrando tabus e, aqueles (as) que ficavam na cadeira de balanço lendo jornal ou fazendo crochê, aos poucos vão dando a vez a um tipo de idoso descolado, celular na mão, praticando esportes, adepto do videogame, consumista, trabalhador ativo, reivindicador político, com mais escolaridade e mais renda. Nossos idosos de hoje, em maioria, prorrogaram o tempo de trabalho adiando a aposentadoria e, aqueles que se aposentaram ocupam seu tempo de forma criativa, produtiva e muito saudável. Alguns ainda ajudam financeiramente filhos e netos.
Claro que essa não é uma realidade de todos os idosos brasileiros, cada pessoa tem sua própria trajetória de vida e essas trajetórias são marcadas por desigualdades sociais, regionais e raciais. No Brasil, as pessoas envelhecem desigualmente, o que faz dos idosos, um grupo bastante heterogêneo em todos os sentidos. Mas em todas as classes sociais, os idosos vêm se destacando e o excelente resultado da mudança de comportamento, tem dado a geração adulta atual um ânimo maior para enfrentar em breve, a melhor última fase de suas vidas, tendo preservadas a sua autoestima e autoimagem. Por isso dissemos no início desse artigo que é “feliz quem chega lá”.
Porém, em algum momento da velhice, será indispensável ao idoso que seja acompanhado de perto por alguém que possa ajudá-lo. Aqueles que possuem uma saúde melhor podem vir a precisar um pouco mais tarde, mas os mais debilitados, sobretudo os que possuem artroses ou algum tipo de demência, esses não podem ser expostos aos riscos de acidentes, de erros na administração dos remédios, da falta de cuidados com a higiene e alimentação, problemas comuns àqueles que vivem sozinhos. O papel das famílias, portanto, é fundamental para manter a integridade física e mental do idoso. Os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar seus pais. É dos filhos que todos esperam cuidados e amparo na velhice, garantindo sobrevivência e bem estar.
“O ambiente familiar, onde se predomina uma atmosfera saudável e harmoniosa entre as pessoas, possibilita o crescimento de todos, incluindo o idoso, pois todos possuem funções, papéis, lugares e posições e as diferenças de cada um são respeitadas e levadas em consideração. Em famílias onde há desarmonia, falta de respeito e não reconhecimento de limites, o relacionamento é carregado de frustrações, com indivíduos deprimidos e agressivos. Essas características promovem retrocesso na vida das pessoas, o idoso torna-se isolado socialmente e com medo de cometer erros e ser punido” (ZIMERMAN, 2000).
Contudo, alguns idosos, mesmo tendo boa família, preferem morar sozinhos. É o caso de Regina Viana, 77 anos, aposentada, que embora rodeada de cuidados e amor dos filhos, prefere viver em sua própria casa, no interior do Rio. Gosta de criar galinhas, cuidar das suas plantas, fazer sua própria comida. Mora sozinha há 22 anos; vive trocando os móveis e fazendo obra na casa. A escolha dela é motivo de preocupação para os filhos e netos, mas ela contou, que quando precisa vir ao Rio, para tratamentos médicos, os filhos percebem como ela entristece. “Não há como impedi-la de ser feliz e se vivendo em seu cantinho a faz feliz, temos que aceitar, pelo menos enquanto for possível e seguro”, disseram eles.
Do mesmo modo, vive uma outra conhecida paroquiana nossa, Amélia Ferreira Lima, 82 anos, conhecida como D. Amélia e carinhosamente chamada por muitos de Vó Amelinha.
D. Amélia, tia da Mara do Amaral, irmã da Ir. Nathalia (das Irmãs de Belém), vive sua vida octogenária de uma forma tão intensa, que dá “inveja” a muita gente nova.
Conversar com D. Amélia é uma oportunidade de aprendizado. Com a experiência e sabedoria adquirida ao longo da vida, cada “conto” vira uma linda história. Impossível não se emocionar!
Motivos para sofrer de depressão, viver triste e sem esperança? Talvez sim, já que perdeu o companheiro, depois o seu filho (que faleceu aos 47 anos) e um neto, falecido aos 20 anos. No entanto, ela se recusa a ser triste. Ela não perde a fé, a certeza de que Deus tem um lugar reservado para todos e diz que “a verdadeira felicidade é ter Jesus no coração”.
A disposição de D. Amélia é admirável. “Não tive oportunidade de estudar muito quando jovem, então hoje que posso, não vou deixar escapar a chance. Atualmente, estudo música na Faetec, na Villa Lobos e em dois cursos particulares. Faço aula de flauta, percussão e teclado. Vou e volto de ônibus”, disse. Além dos estudos, é artesã, produz belas peças em diversos materiais e ainda tem tempo para as atividades na Igreja: na Liturgia da Missa das 19:00 horas e no Fé e Dons. Ela diz com alegria que fez o 14º Encontro Fé e Dons, em 2007 e trabalhou em todos os encontros até aqui. Também fez vários cursos da Escola de Evangelização Santo André. Fora isso, concluiu o Curso de Mater Ecclesiae, depois de três anos e meio de estudos e muita dedicação. Perguntada sobre o que a motivava a participar ativamente das atividades, ela respondeu que “precisa conhecer melhor Jesus e merecer a Sua misericórdia”.
Assim são nossos idosos, frutos de gerações irreverentes, ideológicas e batalhadoras. Como eles, serão os idosos do futuro. Viverão ainda mais tempo! Que assim seja.
Sant’Ana e São Joaquim rogai por todos os avôs e avós! Rogai por nós!
Ana Clébia – Pascom
Fonte de pesquisas: Ipea.gov.br