Temas Bíblicos – set2017
(13) Chave de leitura da Bíblia A espiral da linha doutrinária
Aquilo que nos permite entender a Revelação em todo o seu conteúdo é a descoberta da sua linha doutrinária, cujo princípio é o fato de ser fruto da inspiração que tem sua origem no Espírito Santo. O seu desenvolvimento final é fruto da argumentação da Catequese apostólica que, seguindo a prática da reflexão sapiencial em Israel, soube ver na pessoa de Jesus a realização da Profecia, enquanto, sempre guiada pelo Espírito, anunciou a sua condição messiânica divina. Fruto desta sua atividade evangélica foi o anúncio da nossa salvação em Jesus Cristo, da participação deste da Vida Trinitária com o Pai e o Espírito, da adoção filial da qual participam todos aqueles que dão a sua adesão de fé ao Filho que o Pai consagrou e enviou ao mundo.
A espiral da doutrina que abraçamos, historicamente, tem como ponto de partida a ação dos profetas que, por sua vez, nos leva a descobrir que ela tem como fundamento a iniciativa pedagógica de Deus, que, desde sempre, determinou tornar os homens participantes da sua natureza divina. Para atuar o seu plano, Deus, diante do fracasso do homem, provocado pela sua rebeldia, sempre pensando no Filho que enviaria e se tornaria “o cordeiro imolado que tira o pecado do mundo”, anunciou uma Descendência, nascida de mulher no meio do povo escolhido, que resultou ser “o filho da Virgem”, profetizado por Is 7,14.
Com Jesus, portanto, se realiza o Plano de Deus que os Apóstolos nos anunciam sob a inspiração do Espírito Santo, enquanto chega a nos anunciar a Vida trinitária em Deus, a partir da condição divina de Jesus, qual foi manifestada pela sua glorificação.
A partir da compreensão que nós temos agora da Vida do Verdadeiro, podemos retomar a leitura da Escritura, começando pela criação, reconhecendo que tudo tem origem de uma ação trinitária, na qual se revela a Sabedoria e o Poder do Deus único existente, aquele que a reflexão sapiencial dos escribas de Israel chegou a definir como “Bondade”.
A obra da criação começa nos apresentando os atributos deste Deus: o seu poder, a sua sabedoria, a sua beleza e a sua bondade. A história de Israel dele nos revela a sua misericórdia e fidelidade. A obra da redenção, através de Jesus, o Cristo, nos revela a sua santidade.
Pelo fato que o cristão encontra na Bíblia a plenitude da revelação, isto é, o conhecimento de Deus e do seu Plano de glorificação do homem através de Jesus Cristo, o Filho que, “chegada à plenitude dos tempos nasceu de mulher… para que recebêssemos a adoção filial” (Gl 4,4), a ela deve sempre voltar para que a “Palavra habite nele abundantemente” (Cl 3,16). Ela é o “pão nosso de cada dia” que Jesus nos ensina a pedir porque, como sempre ele nos ensina, no momento em que vence o tentador, “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4).
Uma vida cristã, por consequente, vivida na procura do “que é bom, do que agrada a Deus e do que é perfeito” (Rm 12,2), é a condição da serenidade nossa diante do julgamento de nosso Senhor Jesus Cristo, quando da sua vinda. É, também, a condição necessária para sermos “livrados de todo Mal”, por termos, como bem nos ensina Paulo “esperado com amor a sua manifestação” (2Tm 4,8).
Pe. Fernando de Capra