Temas bíblicos
Evangelho de João (28) Jo 15,18-16,33 (IV). Provação (16,16-28)
A Igreja, chamada por Jesus a viver a sua hora, recebe, nesse momento, o seu conforto. No Apocalipse, voltamos a ouvi-lo quando o Senhor da Igreja, que já exortara a igreja de Esmirne (Ap 2,8) a perseverar para não perder a sua coroa, exorta a igreja de Filadelfia (Ap 3,7). Porque sabe que ela tem pouca força, ele garante que a tribulação que terá que sofrer por causa das perseguições do mundo será de breve duração. Será como num parto, animada pela perspectiva de uma nova vida.
Aquele que persevera na tribulação chega a entender que, por ela, alcançou a condição de experimentar a vida que Jesus viu sempre mais desabrochar na sua Paixão, enquanto se aproximava a consumação da sua imolação. Na perfeição da sua caridade, Jesus vivia a alegria do Espírito Santo que se tornava sempre mais intensa, na medida em que se aproximava a sua glorificação. Podemos ter uma ideia dessa alegria quando vemos Jesus mostrar ser capaz de rezar pelos seus inimigos. Naquele momento, o seu amor aos irmãos é tão puro que torna possível nele a mais plena vida divina, a ponto de poder estar no Pai segundo a sua condição de homem.
Como nos ensina João na sua Primeira Carta, essa condição de perfeição de vida divina se reproduz em cada discípulo de Jesus quando, nele, o amor aos irmãos é tão perfeito que lança fora o temor (1Jo 4,18). A condição de poder pedir a Deus o que quisermos, porque, certamente ele no-lo concederá, é o sinal dessa perfeita caridade.
No momento em que Jesus anuncia essas condições, os Apóstolos estão longe de compreendê-las. De fato, João as lembra aqui, no seu evangelho, em virtude do Espírito que recebeu mais tarde. Seria ilusão pensar que os Apóstolos tenham compreendido os ensinamentos de Jesus naquela hora, tanto é verdade que, como lembrou naquele momento o seu Mestre, eles se dispersaram quando chegou para eles a provação.
Para vencer o mundo não basta ter alcançado o amor do Pai pela fé no Filho que enviou. Torna-se necessário perseverar na tribulação. Disso, porém, é capaz somente aquele que, tendo recebido do Senhor o fruto da Paz, na força do Espírito que ele mereceu, dá testemunho na perseverança.
Jesus, nessa perícope, expõe o seu ensinamento em linguagem proverbial. Propõe um enigma, falando em figuras, que ele mesmo explica. Dessa forma, a situação da sua prisão e da sua morte, às quais sucederá a sua volta aos seus, que voltarão a se alegrar, se torna figura da condição da sua Igreja que se entristecerá, num primeiro momento, porque perseguida pelo mundo, mas que se alegrará, depois. O reencontro com Jesus lhe trará grande alegria, porque conhecerá a sua glória por ter crido ser ele o Filho que veio ao mundo e que, terminada a sua tarefa, saiu do mundo e voltou ao Pai.
Perguntas para reflexão:
1ª) Como foi possível, para Jesus experimentar a “alegria no Espírito Santo” no momento da sua imolação?
2ª) Quando se repete essa condição no discípulo do Senhor?
3ª) Quais são os elementos do ensinamento de Jesus que, nesse caso, nos revelam que está falando em provérbios?
Padre Fernando Capra