Temas Bíblicos – out2018
Marcos (7) Mc 5,21-43
A cura da hemorroíssa e a ressurreição da filha de Jairo, juntamente com a cura do endemoninhado de Gerasa, são compêndios de narrativas extensas da catequese apostólica que o evangelista Marcos redigiu no quinto capítulo do seu evangelho. Notamos, também, que, por sua vez, são evoluções de temáticas já apresentadas. Isto pode ser constatado quando aproximamos a cura do endemoninhado de Gerasa, à cura do endemoninhado na sinagoga de Cafarnaum (Mc 1,21-27). Estas temáticas são lembradas sumariamente em Mc 3,10-11: “Aqueles que tinham doenças se atiravam sobre ele para tocá-lo. E os espíritos impuros, ao vê-lo, caíam a seus pés, gritando: ‘Tu és o Filho de Deus’”. Entendemos que a catequese apostólica quer ilustrar, por meio delas, a condição messiânica de Jesus, sobretudo porque vemos que os exorcismos são estritamente associados ao anúncio da Boa Nova: “Vamos a outros lugares, nas aldeias da redondeza, a fim de que, lá também, eu proclame a Boa Nova. Pois foi para isso que eu saí” (Mc 1,38-39).
A narrativa da hemorroíssa sublinha uma específica peculiaridade qual é aquela da “força que saía de Jesus”. Temos então, de um lado o desejo de ser curado, e isto por parte do enfermo, enquanto, de outro lado, temos Jesus que realiza a cura em virtude da força que está nele. Com isto, entendemos que os milagres de Jesus visam nos lembrar qual é a específica condição do Messias, que o diferencia de todo outro profeta. Os profetas invocam a intervenção divina. Jesus opera na força da divindade que é própria da sua pessoa. A cura das enfermidades está ligada ao exorcismo no sentido de que Jesus veio para ser o médico dos doentes, sejam eles a sogra de Pedro (1,30-31) ou Mateus, o publicano pecador (2,17).
A ressurreição dos mortos, embora possa lembrar os prodígios de Elias e Eliseu, se caracteriza exatamente por essa força que está em Jesus e que o leva a dizer: “Menina Eu te digo…”. Está sendo revelado de Jesus algo antes nunca lembrado. Começa a ser a primeira ilustração do poder que está em Jesus de ressuscitar dos mortos de forma definitiva (cf. Jo 11,25). É importante logo ressaltar que a ressurreição de Jesus tem somente um sinal na revitalização dos cadáveres de filha de Jairo, do filho da viúva de Naim e de Lázaro. Enquanto ainda podemos entender a revitalização de um morto, embora seja necessária uma intervenção divina, tudo nos escapa da natureza da ressurreição de Jesus que o faz passar de uma condição de vida transitória, qual é a nossa, e que continuou a existir na filha de Jairo, no filho da viúva de Naim e em Lazaro, para uma condição de vida definitiva, própria da vida de Deus. Dessa condição de vida teremos parte, uma vez que “sepultados na morte com Cristo, ressurgimos para uma vida nova” (Rm 6,4). Sabemos que isto acontecerá em virtude de uma nova ação do Criador, como o testemunha a ressurreição de Cristo Jesus, da qual, porém, não conhecemos a natureza e as leis, porque escapam completamente à nossa experiência, limitada à interação com este mundo.
Pe. Fernando Capra