Temas Bíblicos – Nov2018
Marcos (8) Mc6
Caracteriza-se Mc 6 pela sua unidade temática: apresenta o dinamismo da ação à qual Jesus deu início com a sua obra, que encontrará a sua perpetuação na sua Igreja, tendo como seu alicerce os Apóstolos. No momento em que Marcos fala daquilo que acontece quando os Apóstolos se reencontram com Jesus, ao voltar da missão à qual foram enviados, nos é revelado qual deve ser a atividade fundamental da Igreja que tem como sua Cabeça, o Princípio, o Primogênito dos mortos, “Aquele em quem habita corporalmente a plenitude da divindade” (Cl 2,9), de quem tudo foi dito pela catequese apostólica e que o evangelista nos relata nos primeiros cinco capítulos do seu evangelho.
Na sinagoga de Nazaré Jesus anuncia o seu programa messiânico (cf. Mc 1,15), declarando que nele se realiza a figura profética de Is 61, que, por sua vez encontra a sua ilustração em Is 11. A sua condição de “Palavra de Vida, Vida, Vida eterna” (1Jo 1,1-2) é explicitada pela sua persistente ação, qual a de ir a todo lugar para anunciar a Boa Nova, “porque, como ele afirma, foi para isto que eu saí” (Mc 1,38).
Aos apóstolos confia a mesma missão que no seu início terá que se assemelhar àquela de João Batista, que pregou a conversão. Acompanhá-la-á, contudo, a ação de exorcizar, para indicar que chegou o Reino de Deus. Jesus, então, lembra aos seus Apóstolos que a sua pregação terá a sua credibilidade se motivada pelo desprendimento de tudo o que o homem deseja possuir, a exemplo do Filho do Homem que “não tem onde deitar a cabeça”.
A incompreensão acompanhada por um espírito de revolta sempre se manifestará como aconteceu para ele, como relata a narrativa paralela de Lc 4,16-30, e como aconteceu para João Batista, vítima da raiva de Herodíades.
O alimento que sustentará o povo, uma vez beneficiado pela cura de todos os seus males, será a Palavra e o Pão que o próprio Jesus se prontifica em oferecer. Constatamo-lo no fato que Jesus toma a iniciativa de pregar ao povo que o procura, não obstante tenha tentando se refugiar num lugar solitário, após a volta dos Apóstolos da sua missão; e no fato que toma até a iniciativa de ele querer alimentar as multidões. Temos que notar que a refeição foi oferecida a “cinco mil homens”. O número indica uma multidão que na sua totalidade sempre se apresentará para ser saciada. Aqui, de fato, num contexto que ilustra o dinamismo de um povo que lembra Israel guiado pelo deserto por Moisés que o alimenta com o maná, é ilustrada a Eucaristia que Jesus instituirá na véspera de dar o seu testemunho e será vítima da incompreensão do povo e da prepotência das autoridades terrenas, que o levarão à morte.
Para que fique claro aos Apóstolos quem é o seu Mestre, Jesus sela todo o seu ensinamento, iniciado na sinagoga de Nazaré, com uma aparição que o revela em toda a sua autoridade divina, ao silenciando o vento e acalmar o mar. É aquilo que devemos entender quando celebramos a Eucaristia. Quem guia a Igreja é Jesus que, pelas Escrituras, nos diz ser Aquele que vem, na potência do Espírito, para nos arrancar do poder das trevas e nos transportar no reino da luz: a Palavra da Vida que nos sustenta para que não esmoreçamos nas tribulações, provocadas pelas perseguições por causa da nossa fé.
Pe. Fernando Capra