Temas Bíblicos – nov2016
(3) Chave de leitura da Bíblia – Gêneros literários (I)
Quando abrimos a bíblia, vemos que o seu primeiro livro começa com uma narrativa. Trata-se, mais precisamente, de uma proclamação que quer promover em nós a admiração diante do saber, do poder, da sabedoria e esplendor do Deus criador. Na verdade, o autor quis nela expressar toda a sua admiração diante de tão grande manifestação daquele que, por essência, é a Bondade. A obra da criação é distribuída em seis dias. No fim de cada um deles, excetuado o segundo dia, o autor escreve um refrão: “E Deus viu que tudo era bom”. E conclui: “Eis uma tarde, eis uma manhã”, cujo sentido pode ser deduzido daquilo que Deus anuncia a Moisés quando realiza o milagre do maná: “À tarde vereis o meu poder e pela manhã manifestarei a minha glória” (Ex 16,6-7). O texto de Gn 1, originariamente, era uma aula catequética, proclamada na sinagoga em dia de sábado, para motivar os judeus a consagrar ao Senhor o último dia da semana. O seu valor doutrinário e a sua beleza literária a tornaram a primeira aula do nosso manual catequético, que é a Bíblia. Por ela somos motivados a santificar o dia do Senhor, a partir da contemplação das obras da criação que revelam ser, o nosso Deus, a Bondade que, com poder e sabedoria, se manifesta em todo o seu esplendor.
Gn 2 nos fala das condições do homem em relação ao seu Criador. Através de uma narrativa lendária, no-lo apresenta no meio do Éden onde está a árvore da vida. Para poder se nutrir dos seus frutos, o homem deve abster-se dos frutos da outra árvore, aquela da ciência do bem e do mal. Com uma segunda narrativa lendária, para definir as condições de igualdade em dignidade do homem e da mulher e da sua complementaridade, descreve a criação da mulher, a partir de uma costela do homem.
Pelos primeiros dois capítulos do Gênesis podemos notar que o autor da Bíblia está utilizando uma linguagem figurativa para nos transmitir verdades doutrinais. Estamos diante de uma linguagem catequética que, para ser devidamente entendida, exige, de nossa parte, que sempre tomemos sentido da oportuna forma literária que o autor adota.
Com Gn 3, quando lemos que há uma serpente que fala, devemos dizer que o autor está utilizando uma fábula para expor uma doutrina: o homem, esquecido dos benefícios recebidos, se rebela ao seu Criador. Resultado da sua rebeldia são o despojamento de tudo e a condição de sofrimento. Deus, contudo, não abandona o homem ao seu destino de morte. Fiel à sua bondade anuncia um Redentor, que nós sabemos ser Jesus, como nos explica Paulo quando escreve aos Gálatas: “Chegada a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, sujeito à Lei, para que recebêssemos a adoção filial” (Gl 4,4).
Pelos primeiros três capítulos do livro do Gênesis (palavra grega que significa origem), entendemos, diante da linguagem catequética, que se apresenta com os seus diferentes gêneros literários, que o seu autor quer nos ensinar as seguintes verdades: o universo é fruto da ação onipotente e sapientíssima de Deus. O homem é sua criatura cujo caminho de desenvolvimento é aquele da obediência aos mandamentos do seu Criador. Por causa da sua rebeldia, por si, Deus o abandonaria ao seu destino. Este, contudo, porque, por natureza é a Bondade, no seu amor, quer recuperar o homem pela obra da Redenção efetuada pela Descendência da Mulher, que nós conhecemos ser Jesus Cristo, o Cordeiro imolado, que ele contempla desde antes a criação do mundo (1Pd 1,19-20).
Pe. Fernando Capra