Temas Bíblicos – Junho 2016
A figura de Jesus em Hebreus
Para o autor da Carta aos Hebreus, Jesus é o Senhor da Igreja, constituído acima da casa de Deus, na condição de Filho, “o grande Pastor das nossas almas” (Hb 13,20). Ele é aquele que somos chamados a contemplar na condição heroica de quem desprezou a humilhação da cruz, na certeza de que, pelo sacrifício da sua vida, alcançaria a glorificação. De fato, por ela, sentou-se à direita de Deus.
O autor da Carta aos Hebreus abre o seu discurso ilustrando, de Jesus, a sua condição divina, declarando ser ele “o Resplendor da Glória de Deus, a Imagem do seu Ser” (1,3), logo associando à sua condição divina a descrição da perfeição alcançada pela sua humanidade através do sofrimento. Jesus, de condição humano-divina é o Filho que se torna o Herdeiro. Estaremos associados à sua sorte “se mantivermos a confiança e o motivo altaneiro da esperança” (3,6).
Jesus, dessa forma, não é simplesmente o modelo de cada fiel. Pode ser comparado ao sumo sacerdote que, escolhido entre os homens, oferece sacrifícios para si e pelos irmãos (5,3) Foi o que aconteceu quando “nos dias de sua vida mortal, ofereceu a Deus súplicas e lágrimas e foi atendido por causa da sua submissão” (v.7). Essa atitude de Jesus nos explica o porquê da perfeição por ele alcançada, que tanto agradou a Deus. Jesus, desse modo, realizou em si a figura do verdadeiro adão que Deus Pai, no momento da sua ressurreição, declara ser seu Filho e constitui nosso Sumo Sacerdote.
As condições que permitiram que, em Jesus, se realizasse um sacerdócio tão santo podem ser ilustradas pela figura de Melquisec, rei de Salém, portanto Rei de justiça (hbr. tzedec) e de paz (hbr. shalom), como canta o Sl 45: “Cinge a espada à altura do teu flanco, em defesa da justiça e da verdade”.
Enquanto o sacerdócio era exercido segundo a antiga Lei, não era eficaz. Cristo Jesus, tendo oferecido a sua vida uma vez por todas, realizada a purificação dos pecados, entra no céu com o seu sangue.
Ao passar pelo véu do seu Corpo, tendo oferecido um sacrifício segundo um Espírito eterno, realiza a figura do sumo sacerdote que, a cada ano entrava no Santo dos Santos para lá aspergir, com o sangue dos animais sacrificados, os objetos sagrados que lá se encontravam. Ao entrar no Templo do Céu com o seu Sangue, intercede por nós.
Jesus é o nosso Sacerdote, misericordioso e fiel, capaz de compadecer-se com aqueles que sofrem, por ter sofrido por primeiro, e de interceder por nós para alcançarmos as graças de que precisamos. “Tal é precisamente o Sumo sacerdote que nos convinha: santo, inocente, imaculado, elevado mais alto do que os céus. A Lei, com efeito, estabeleceu sumos sacerdotes sujeitos à fraqueza. A palavra do juramento, porém, estabeleceu um Filho eternamente perfeito” (Hb 7,26;28).
Padre Fernando Capra