Temas Bíblicos – Julho 2016
Carta aos Hebreus (11)
Liturgia dominical e compromisso moral
A Carta aos Hebreus nos permite fazer a ligação mais conveniente entre tudo o que a cristologia possa nos ter ensinado e a santificação que somos chamados a promover em nós, a partir da celebração do Memorial da Morte do Senhor. De fato, a pregação apostólica insiste em recomendar a celebração da Palavra e da Eucaristia no dia do Senhor. Já naquele tempo havia quem deixava de ir às assembléias da sua comunidade de forma que, enfraquecendo-se a sua compreensão acerca do Mistério do Senhor, decaía do fervor cristão inicial; era tomado pelo desânimo “no combate contra o pecado” (12,4) e voltava a viver segundo a carne, cansado de viver “submisso ao Pai dos espíritos” (v. 9) para ter a vida eterna. Os homens de fé que a Escritura nos apresenta como modelos, pelo contrário, eram capazes de um testemunho pleno, porque tinham chegado a reconhecer a sua dependência do Criador de tudo e à certeza que realizaria o que eles esperavam. O fiel que, pelo contrário, pode ver em Jesus Cristo o “autor e realizador da fé”, por razões ainda maiores, está em condições de crer naquilo que o espera e de chegar a possuí-lo se perseverar até o fim. O instrumento, para isso, é a Liturgia dominical porque nela, não somente reconhecemos em Jesus o “caminho novo e vivo, que ele mesmo inaugurou através do véu, quer dizer, através da sua humanidade” (10,20), como, também, por tudo aquilo que ele nos ensina, pela sua imolação e glorificação e como realizador das Escrituras, a ação do Espírito Santo desenvolvendo em nós os seus dons, a partir do espírito de entendimento. Isto nos permite chegar a uma esperança que não será confundida. De fato, ela é uma âncora lançada além do véu, “onde Jesus entrou por nós, como precursor, feito Sumo Sacerdote para a eternidade, segundo a ordem de Melquisedec” (6,20). Pelo memorial da Morte do Senhor aprofundamos sempre mais nossa compreensão do Filho pelo qual Deus nos fala “nos últimos tempos, que são os nossos” (1,2), o que nos leva a guardar bem a graça do Reino inabalável que nos espera. Dele seremos herdeiros com Cristo se com ele sofrermos para sermos glorificados com ele.
Na Carta aos Hebreus, a exortação moral e a reflexão teológica se entrelaçam. Ambas visam motivar à perseverança “a fim de que não se extravie o que é manco, mas antes seja curado” (12,13). De fato, a vida cristã é semeada em nós de forma embrional quando somos iluminados pelo dom da fé e santificados pelo Espírito, no batismo. Ao longo de toda a nossa vida, somos chamados, então, a nos purificar no Sangue de Cristo, isto é, daquele que “depois de ter realizado a purificação dos pecados, sentou-se nas alturas à direita da Majestade” (1,3). Em 1Jo 3,6, lemos que todo aquele que comete o pecado deixa de ver e conhecer a Deus. Torna-se, portanto, necessário “correr com perseverança para o certame que nos é proposto, olhos fixos em Jesus… que sofreu a cruz” (12,1s). Como o Filho, o herdeiro, foi coroado de honra e glória, por causa dos sofrimentos e da morte, da mesma forma, o cristão, enquanto vive em si a Morte de Cristo como purificação dos pecados, aprofundamento no conhecimento, serviço, segundo a sua específica vocação na Igreja, é chamado ao mesmo triunfo.
Pe. Fernando de Capra