Temas Bíblicos – Jo 17
A oração que Jesus eleva ao Pai, após uma longa instrução dirigida aos Apóstolos, que começou como o gesto do Lava-pés, apresenta uma teologia da Vida que ele nos mereceu com a sua Morte de Cruz.
Pela sua Morte, Jesus se consagra, isto é, se oferece como vítima sacrifical, para que os Apóstolos e, por eles, todos os que crerem nele, “sejam consagrados na Verdade” (17,19). Trata-se de uma condição necessária para que os Apóstolos, enviados, e a Igreja, possam ter credibilidade diante do mundo e, para que todos os que crerem em Jesus perpetuem o testemunho dos Apóstolos.
Enquanto Jesus estava na terra, guardou os seus, no Nome do Pai, isto é, na força do Poder que o Pai a ele concedeu sobre toda carne. Trata-se do Espírito que Jesus possuía sem medida; que “repousava sobre ele”, como já tinha anunciado João Batista, e que agia pelas palavras com que comunicava os preceitos de Deus. Os Apóstolos , ao escutá-lo chegaram a crer nele e o reconheceram como o Enviado de Deus. Essa condição, embora os santificasse, não era ainda plena Vida divina. De fato, o próprio Jesus, o Mestre, declara a Pedro que ele não pode segui-lo, não obstante todo o seu entusiasmo (13,37s).
Torna-se necessário que o Pai guarde os Apóstolos, no seu Nome, isto é envie o Espírito para que cheguem a toda Verdade. Dessa forma terão os mesmos sentimentos de Cristo, Caminho, Verdade e Vida. Para isso, Jesus aceita a sua imolação de Cruz.
As palavras que formulam a sua aceitação devem ser interpretadas com as palavras que encontramos no início da sua oração, momento em que, pela sua imolação, Jesus pede a sua glorificação que o porá em condições de impetrar do Pai que, por ele, os seus sejam, por sua vez, glorificados. Os seus estarão, então, em condições de tornar a sua vida “um sacrifício espiritual”.
Rm 5,1-5 ilustra essa condição perfeita na vida do cristão, que permite experimentar a “alegria do Espírito”, porque o fiel chega a viver em si os sentimentos que Cristo experimentou na sua Paixão: “Justificados pela fé, tenhamos paz com Deus” (Rm 5,1). Existe perfeita vida cristã no fiel quando vive em plena comunhão com o Pai e com o Filho: o que acontece quando “conhece”, isto é, vê claramente de que maneira o Espírito age nele.
No terceiro momento da sua oração, Jesus pede que os seus estejam com ele. Isto será uma participação da Glória divina, após eles terem glorificado na terra o Pai, à semelhança do seu Mestre.
Os Apóstolos percorreram a duras penas o caminho da sua santificação. Foi duro para eles renunciar à perspectiva nacionalista que tanto teriam gostado que o seu Mestre realizasse. Também na condição de homens de fé, foi árduo viver o seu testemunho no meio de tantas perseguições. A própria perspectiva de glorificação, não encontrava tantas testemunhas que os encorajassem.
Devemos nos considerar felizardos porque a doutrina da messianidade de Jesus se tornou uma preciosidade para nós, que os de religião hebraica ainda não alcançaram. Também, porque podemos nos confortar ao ver como o heroísmo dos Apóstolos em seguir Jesus no Caminho da Cruz torna realmente o fiel capaz de glorificação; porque, enfim, podemos ver “qual é a riqueza da Glória reservada aos santos” (Ef 1,17).
Precisamos pôr Jesus em condições de agir como Cabeça da Igreja porque, ao ressuscitá-lo dos mortos, Deus o constituiu Plenitude que plenifica tudo em todos, pelo Espírito (Ef 1,23). Isto acontecerá se, como nos lembra Rm 5,3-5, nos gloriarmos nas tribulações para alcançarmos a constância que fará desabrochar uma esperança que coroará a nossa caridade, a ponto de nada nos fazer esmorecer no testemunho da nossa fé.
Perguntas para reflexão:
1ª) Qual é a graça que Jesus nos mereceu com a sua imolação?
2ª) Qual é o caminho para chegar a toda Verdade?
3ª) Com que termos Rm 5,1-5 descreve o processo da nossa santificação?
Pe. Fernando Capra