Temas Bíblicos – Evangelho de João (Jo 20)
Jo 20
É surpreendente ver como os discípulos de Jesus chegam à experiência do fato mais importante do homem Cristo Jesus, que se declarou para eles Caminho Verdade e Vida, da forma mais comum, em relação a um amigo recém-sepultado. As piedosas mulheres se apressam em ir ao sepulcro quando ainda está escuro, na manhã do primeiro dia da semana, após o repouso sabático. Resignadas diante da morte do seu Mestre, estão prontas a continuar a viver a sua rotina de crentes hebreus, dentro das suas tradições. Jesus seria lembrado como um entre os profetas de Israel. As coisas não mudam nem quando Maria Madalena descobre que o sepulcro foi violado. Reage como o previsto. Corre para avisar Pedro que, por sua vez, corre para constatar o que a mulher lhe relatou. É o discípulo amado que capta a novidade do ocorrido, amadurecido pelo fiel seguimento do seu Mestre. Aos pés da cruz, depois das palavras de Jesus que o levou a receber em sua casa a sua Mãe, na condição de filho, tinha sido agraciado com a intuição de estar diante do Templo do Filho do Homem, do qual fala Ez 47,1, ao ver sair do lado direito do peito trespassado pela lança, a Água, fruto do derramamento do sangue do Cordeiro imolado. Isto já o tinha levado a reconhecer, juntamente com Maria, o Servo de Iahweh que acabava de oferecer a sua vida em sacrifício e que por isso veria prolongados os seus dias, seria abençoado por uma descendência e faria deslanchar o Plano de Deus (Is 53,10). A tumba vazia, com “os panos de linho por terra” (20,6) e o sudário colocado num lugar a parte, eram um claro sinal daquilo que as Escrituras tinham anunciado do Justo sofredor. A esse respeito, Pedro assim se expressará, no dia de Pentecostes, movido por sua vez pelo Espírito: “O Santo, que Davi chama no salmo de Senhor, não podia conhecer a corrupção” (At 2,24-28). Ele tinha realmente ressuscitado da forma que predissera: “O Filho do Homem devia sofrer e ser posto a morte, mas ao terceiro dia ressuscitaria”.
A verdade à qual João chega pelas Escrituras, é conhecida, por Maria Madalena, por uma aparição que Jesus lhe concede. Vemos, contudo, que Jesus a adverte que ela deve viver a realidade da sua ressurreição somente contemplando-o como aquele que está sentado “à direita da Majestade”, “o Sumo Sacerdote que entrou no céu passando pelo véu do seu corpo” (Jo 20,17; Hb 1,3;10,20).
Quando Jesus aparece aos discípulos reunidos no Cenáculo, ali nos revela os valores da nossa religião. O Caminho para uma vida gloriosa é aquele que é ditado pelas chagas que ele mostra. É uma alegria constatar que é realmente aquele que esteve morto e que, agora está vivo. Mas é sobretudo uma garantia que não o seguiremos em vão se carregarmos, na perseverança, a cruz de cada dia. A celebração, portanto, da sua Morte, acompanhada pelo propósito de segui-lo, é o serviço litúrgico pelo qual o Espírito nos será concedido por aquele que foi “elevado na Cruz”. Por ele viveremos a nossa purificação e a nossa adoração dos mistérios de Deus que se revelam na Pessoa do Senhor Jesus Cristo.
Não podemos esperar por um outro Tomé. Se chegarmos a crer sem ter visto, teremos a certeza de estar no caminho que João nos indicou pela sua fidelidade no seguimento do Filho do Homem, de quem falam a Lei e os Profetas.
O João do Apocalipse, por sua vez vive e, consequentemente, nos ilustra a experiência do Apóstolo João que, após Pedro, entrou no sepulcro e que soube “ver claramente”, porque relacionou o sinal da tumba vazia às Escrituras.
A compreensão que o João do Apocalipse tem de Jesus acontece no “dia do Senhor” quando, movido pelo Espírito, ouve, atrás de si uma voz forte como de trombeta. Ao voltar-se cumprem-se, aos seus ouvidos, “as palavras da Escritura” (Lc 4,21). Por meio daquele que vê e que lhe fala, está em condições de escrever, isto é, nos dizer, “as coisas que vê, as que são e as que devem acontecer em breve” (Ap 1,19).
Perguntas para reflexão:
1ª) Por que João e não Pedro, nem Maria Madalena, chega a compreensão do que realmente aconteceu, diante do túmulo vazio?
2ª) Qual é o ensinamento de Jesus que aparece mostrando as suas chagas gloriosas e comunicando o seu Espírito para o entendimento das Escrituras?
3ª) De que forma o Apocalipse nos ensina a tomar conhecimento do que “o Espírito diz às Igrejas”?