Temas bíblicos – Evangelho de João (18-19)
João nos dá a sua versão da crônica da Paixão do Senhor (Jo 18-19). Não nos fala da agonia de Jesus no Horto das Oliveiras, como os outros evangelistas, pelos quais Jesus nos esclarece sobre as suas emoções diante da vontade do Pai que ele beba o cálice que lhe oferece. O que Jesus falou a Nicodemos em Jo 3 sobre a elevação do Filho do Homem, o que respondeu aos Apóstolos quando o convidavam a se alimentar (Jo 4,34), o que proclamou do “Eu sou” em relação à sua Morte (8,27), o que disse acerca da “Hora” que chegou em Jo 12, o que, enfim explicou da sua Passagem para o Pai (Jo 13,19) e do sentido da sua consagração em função da nossa perfeita santificação (Jo 17), revelam suficientemente a disposição de Jesus, na condição de Filho, diante da Morte. Existe uma titubeação que é parte natural da sua natureza humana diante do sacrifício da vida. Ao mesmo tempo existe a determinação da Pessoa divina, consciente de ter vindo ao mundo para “essa hora” (12,27). A forma consciente com que lida em relação à Maria, irmã de Lázaro, que o homenageia derramando perfume sobre os seus pés, a severidade com que admoesta Judas diante da traição que está para consumar, indicam que Jesus, de fato, quando chegam os guardas do templo para prendê-lo, é senhor da situação. Ele é o “Eu sou” que derruba no chão os seus inimigos com a simples pronunciação do seu nome. Confunde Anás, simplesmente lembrando a forma correta do testemunho de quem o escutou na sinagoga e no templo. Caifás, diante disso deixa de agir, simplesmente explorando a forma incauta de Pilatos, que vê seu medo aumentar quando ouve que Jesus se declarou “Filho de Deus”. Jesus caminha de forma triunfal, dando testemunho da Verdade, enquanto Pilatos é derrotado pela chantagem dos Sumos sacerdotes e os sacerdotes são derrotados por se tornarem escravos da mentira. Abdicam até a dignidade nacional reconhecendo, aos brados, César, como seu rei.
Jesus está oferecendo a luz da liberdade da Verdade, a partir do momento em que propõe a si mesmo como modelo e guia. Revela que o verdadeiro homem se constrói pela atuação da regra da realização própria da criatura em relação ao Criador. Ele é o Adão que vive a sua realização. Podemos descobrir esses valores quando estudamos o homem Cristo Jesus à luz das figuras da Profecia: do Servo de Iahweh, o Cordeiro que carrega sobre si as nossas culpas e que nós desprezamos porque cheio de chagas.
A sua condição divina, sem sombra de dúvidas, tanto reconhecida como proclamada por Jesus quando fala de si mesmo, tem a sua ilustração em tudo aquilo que Jesus atribui a si mesmo na condição de Eu Sou, Glória de Iahweh!
Quanto de coragem é exigido para seguir a Jesus, o vemos na determinação com que José de Arimateia e Nicodemos rompem com a sinagoga. O primeiro resgata o corpo de Jesus e compra os lençóis, o segundo traz unguentos para a sepultura. Muitos chefes não tiveram essa coragem (Jo 12,42s).
A ameaçadora influência das autoridades religiosas judaicas revela a profundidade da perfídia que morava nos seus corações. Dela, Jesus não teve medo. Quis suportar as consequências, fiel à sua missão de enviado à casa de Israel.
Quem sabe seguir Jesus poderá usufruir da Luz da Verdade. Os outros, na sua convicção de enxergar, vencidos, contudo, pela covardia, permanecerão nas trevas.
Perguntas para reflexão:
1ª) Quais são os momentos da vida de Jesus que nos esclarecem sobre os seus sentimentos ao longo da sua Paixão?
2ª) Por que a Paixão e Morte do Senhor é o momento da manifestação do “Eu sou”?
3ª) Quando é que o discípulo revela seu verdadeiro amor para Jesus?
Pe. Fernando Capra