Temas bíblicos – Carta aos Hebreus – Introdução (I)
A Carta aos Hebreus é uma avalanche de motivações que um espírito perfeito apresenta aos “companheiros da vocação celeste” (3,1) que precisam ser sustentados na fé, num momento de desânimo. Os quadros teológicos são grandiosos. As citações das Escrituras são oportunas. A noção da fé é abrangente. Somos colocados diante de uma realidade que Deus oferece e garante a ponto de vermos quão preferível ela é em comparação ao que ele exige, segundo o que Paulo nos diz: “Os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que há de revelar-se em nós” (Rm 8,18). A argumentação sobre a fé em Hb 11 chega a nos transmitir a sensação de quão valiosa ela é, embora exija que perseveremos até o fim, à semelhança de Abraão, Moisés e dos mártires que “recusaram ser libertados mediante resgate, para chegar a uma ressurreição melhor” (11,35).
A Carta aos Hebreus, segundo a expressão final: “Irmãos, eu vos peço que suporteis esta palavra de exortação” (13,22), é um escrito que, lido na assembleia dominical, visa ser uma tentativa de ajudar uma comunidade, que está para ser tomada pelo desânimo (12,3), a perseverar na fé, porque, a partir da deserção das assembleias dominicais, decaiu no ardor da caridade e, por isso, tornou-se lenta à compreensão (5,11), necessitada de perseverança, perto de ser rejeitada (6,8). O Autor não quer que seus membros percam a sua “segurança”, pelo contrário, quer que, renovado o ardor da sua fé, “levem até o fim o pleno desenvolvimento da esperança” (6,12; 10,35s); resistam até o sangue na luta contra o pecado, porque é somente pela perseverança que alcançarão a herança da salvação (10,36; 1,14). A parte exortativa da Carta é considerável, enquanto, continuamente, se entrelaça com a exposição doutrinal sobre “Jesus que sofreu a cruz, desprezando a vergonha, e se assentou à direita do trono de Deus” (12,2). Quem escreve é um fiel que revela possuir o carisma de doutor, que conhece Timóteo (13,23), que quer contribuir para a santificação dos seus “santos irmãos e companheiros da vocação celestial” (3,1), mediante uma reflexão sobre nosso Senhor Jesus (13,20), que chegou à glória pelo sofrimento e que, agora, é nosso Mediador da graça da qual necessitamos para superar a tentação do desânimo. Trata-se de um escriba judeu-cristão que se dirige a judeu-cristãos, filhos de Abraão (2,16), que acreditaram em Jesus Cristo. É um discípulo de Jesus Cristo que, pela perseverança, chegou à estatura adulta da fé, capaz de “degustar a doutrina da justiça” (5,13) e de discernir entre o bem e o mal, “convicto de possuir uma consciência boa, com a vontade de se comportar bem em toda ocasião” (13,18). Considera, portanto, o Reino inabalável que Deus nos concedeu pelo Filho glorificado (12,25) “uma fortuna melhor e mais durável’ (10,34) que qualquer riqueza terrena”. Por isso, assim admoesta “os seus santos irmãos e companheiros da vocação celestial” (3,1): “É de perseverança que tendes necessidade” (10,36). Os que tudo deixaram (5,18) importa que observem cuidadosamente os ensinamentos para não transviar: “Desejamos somente que cada um de vós demonstre o mesmo ardor em levar até o fim o pleno desenvolvimento da esperança” (6,11).