Temas bíblicos – Carta aos Hebreus (7) A verdadeira Fé
Hebreus 11 se abre com uma definição da fé que terá o seu comentário nas figuras que serão citadas. Estamos diante de uma forma de vida sugerida pela reflexão apostólica. O mundo não tem essa concepção (v.7). Preocupa-se com a conquista de bens que respondem às exigências da vida que conduzimos na terra: das cidades (Caim); das artes (Jubel), das indústrias (Tubalcaim), dos prazeres (Noema), do poder (Lamec). A fé, pelo contrário, se preocupa com aquilo que Deus revela e que deve ser conquistado com o exercício das virtudes que o Espírito promove, a partir do culto àquele que nos revela ser o Criador e da sua procura. Isto nos é ensinado pelas figuras de Abel e Enoc. Morrer injustiçado por causa de atos que agradam a Deus significa superar a morte por parte de quem está em comunhão com Deus. O sangue de Abel fala até o tempo presente. Garante-nos que, no homem de Deus, há um testemunho que não se esvai com a morte física. O justo alcança a recompensa do Deus que procurou na terra. O mesmo nos é ensinado por Enoc do qual até se canta que foi raptado ao céu para não conhecer a morte. Ele é da descendência dos patriarcas que invocavam o nome de Iahweh. Com palavras de exaltação é proclamada a sua fé e a recompensa por parte de Deus, porque o procurou. Noé, o justo que encontra graça diante dos olhos de Deus, prova ser digno da predileção de Deus, porque crê. Nele podemos apreciar quais benefícios traz a fé, uma vez que por ele a humanidade foi salva, e qual a efetiva recompensa que Deus concede ao homem de fé: a vida para si e para a sua família. Quando pensamos que era figura de Cristo, podemos, ainda mais, avaliar os benefícios da fé. Jesus, na fé, acreditou que o Pai podia salvá-lo da morte. Superada a tentação, seu espírito se abriu a uma esperança que lhe dava, antecipadamente, a posse dos bens futuros e a certeza deles. O Espírito nele dava testemunho e a sua morte foi uma ação de graças até entrar na Glória.
A fé promovida por uma vivência consagrada à procura de Deus, a fim de servi-lo, que chega à certeza de uma recompensa para quem o serve com fidelidade, é o valor que as Escrituras nos ensinam.
Para explicar como devemos viver a fé e nela perseverar, o Autor nos diz que devemos procurar o Deus da história. Chegamos então a entender que “o mundo foi organizado pela Palavra de Deus… Não tem sua origem em coisas manifestas” (v.3). A fé provoca em nós “um bom testemunho” (v. 39), quando vivida na perseverança, nas tribulações: ” uma posse antecipada do que se espera, um meio de demonstrar as realidades que não se vêem” (v.1). A intricada definição inicial acaba explicitada pela apresentação da fé de homens santos. Abraão e Moisés são os tipos que mais esclarecem o seu conceito. Animados por uma confiança inabalável no Deus que lhes aparecera, superam todas as provações. Com isso a sua adesão incondicional se torna sempre mais inabalável. Paulo explica que, quando a justificação que ela vai promovendo, enquanto superamos as provações, transborda em manifestações de amor a Deus, é coroada por uma esperança que nunca vacilará (Rm 5,5). A fé, então, significa possuir a verdade, na expectativa que seja revelada. Os ancestrais dos hebreus revelaram sua fé no seu Deus, que neles se agradou, pelo testemunho que deram da mesma (v. 2). O primeiro testemunho da sua fé foi acerca do seu Deus, que professaram criador de tudo (v. 3). Abel, que é o tipo da descendência que Deus suscita, teve o seu sacrifício aceito a preferência do de Caim, a descendência rebelde. O sangue dele ainda a proclama (v. 4).
11,8 Abraão, Isaac e Jacó são os tipos que nos mostram o sentido da nossa esperança. Foram chamados para possuir a terra. A sua esperança, contudo era orientada a uma pátria que a terra simbolizava. Na sua fé a viram de longe. “É por isso que Deus não se envergonha de ser chamado o seu Deus. Pois, de fato, preparou-lhes uma cidade” (v.16). O sacrifício de Isaac leva à perfeição a fé de Abraão. Sabe que o seu Deus, que já lhe deu uma descendência, contra toda esperança, é capaz de lha dar de novo ressuscitada (v.17). Foi segundo essa fé que viveram Isaac e Jacó (v. 20).
11,23 Moisés repete na sua vida a atitude de Abraão. É figura de Jesus. Prefere a tribulação do seu povo, “olhos fixos na recompensa”. Ele considerou a humilhação, à semelhança de Cristo, condição de uma riqueza melhor. A fé o tornou destemido “como se visse o Invisível”. Na fé, celebrou a páscoa, marcou as casas dos hebreus com o sangue, atravessou o Mar Vermelho. 11,30 A história de Israel é toda ela uma ilustração do que pode a fé, pela qual cremos no Criador e na recompensa que nos dará: muralhas de Jericó, juízes, reis e profetas. Outros, embora mortos, chegaram a uma ressurreição melhor. Os que sofreram hostilizados pelo mundo provaram que o mundo não era digno deles (11,35). Mereceram, pela perseverança, ter em si o testemunho da promessa, embora não vissem a sua realização (11,39). 11,40 Deus estabeleceu que lá chegassem conosco, tendo-nos destinado para algo melhor. É a abertura da exortação de Hb 12.