Temas bíblicos – Carta aos Hebreus (6) O sacerdócio de Jesus
O autor da carta, por duas vezes, afirma categoricamente, que Jesus não pode ser considerado sacerdote em relação à Lei hebraica. Somente os descendentes da família de Araão e a tribo de Levi serviam no templo. Jesus era da tribo de Judá. A sua imolação é, sobretudo, expressão do culto que a criatura eleva ao Criador. Por ela, Jesus chega à perfeição, o que permite ao Criador torná-lo partícipe da sua Glória. Em virtude da sua condição divina, a participação à Glória é de tal forma plena que Paulo diz: “Nele habita corporalmente a plenitude da divindade” (Cl 2,9). Assunto à Glória, Jesus é “constituído abertamente Filho de Deus, com poder, em Espírito de santidade” (Rm 1,4). É o momento em que Deus Pai declara “Tu és meu Filho, eu hoje te gerei” (Sl 2,1), respondendo às suas súplicas feitas ao longo da sua vida na terra. A condição definitiva de Filho e Sacerdote tem seu fundamento naquilo que Jesus, ao entrar no mundo diz ao Pai: “Não te foram aceitos os sacrifícios da Lei, eis-me aqui, ó Pai, para fazer a tua vontade” (Sl 40). O Filho que teve sua origem por obra do Espírito Santo, que oferece a sua vida em sacrifício, vê sua condição divina e sacerdotal manifestada quando chega à perfeição pela graça que Deus lhe concedeu de “provar a morte em favor de todos os homens” (2,9). O autor da carta, todavia, lembra que Jesus foi chamado ao sacerdócio por Deus, à semelhança de Araão, o que lhe permitiu assumir as mesmas funções do Sumo Sacerdote, em relação ao povo, quando ofereceu o seu sacrifício de expiação. Foi, então, que manifestou ser um sacerdote “misericordioso e compassivo”, que entrou no céu, capaz de se compadecer com aqueles que são tentados, porque ele o foi por primeiro (2,18).
O sacerdócio que Jesus exerce no céu resulta ser superior ao sacerdócio que o mesmo Deus instituiu ao chamar Aarão para a função de oferecer sacrifícios e interceder pelo povo. É superior porque é “segundo a ordem de Melquisedec” e extingue, por isso, o sacerdócio da Antiga Aliança; porque é eficaz, uma vez que a purificação dos pecados acontece em virtude da aspersão do seu sangue e eterno porque é daquele que “levado à perfeição” vive eternamente (Hb 7). A profunda semelhança de Jesus com o sumo sacerdote quando oferece o sacrifício de expiação (5,3), torna a figura deste, uma valiosa explicação do sacerdócio de Cristo. Cercado ele mesmo de fraqueza, coisa que lhe faz compreender os irmãos quando erram por ignorância, oferece o sacrifício tanto para si quanto pelo povo. É aquilo que, também Jesus fez. Sabe, todavia, se compadecer com os pecadores, muito mais do que o sumo sacerdote ao oferecer os sacrifícios, porque ofereceu a sua vida de forma eficaz, alcançando a redenção, enquanto, para alcançava para si a perfeição. Quem exerce o seu sacerdócio na Tenda do céu é um sumo sacerdote “tornado perfeito”, que entrou no Santuário atravessando o véu de uma vez por todas. Também, quando rezava para si, não era em vista da remissão dos seus pecados. Embora cercado de fraqueza, ele não conheceu o pecado. Precisava rezar para subtrair de forma definitiva a natureza humana assumida, da condição definitiva de poder ser tentado pelo diabo. Nisto foi atendido. Ele é, agora, no céu, o Sumo Sacerdote eminente, o Filho de Deus que lá entrou pelo véu do seu corpo com o seu Sangue e intercede por nós. “Oferecido uma vez por todas para tirar os pecados da multidão… aparecerá a segunda vez, com exclusão do pecado, àqueles que o esperam para lhes dar a salvação” (9,28).
A condição sacerdotal de Jesus se torna o tema no qual o autor mais se estende para ilustrar a novidade dos últimos tempos. O Filho, nos qual Deus nos fala e que se revelou de condição divina pela sua glorificação que explicou o sentido da sua Morte, pela ressurreição, encontra na figura do sumo sacerdote a mais valiosa ilustração. Essa condição pode ser inicialmente, apresentada através do homem em que se tornou Jesus e que chegou à perfeição pela graça da sua Morte redentora. Nesse caso, eis que Jesus aparece como o sumo sacerdote misericordioso e fiel, que sabe se compadecer daqueles que são tentados. Esse aspecto é desenvolvido ao considerar o caminho que a humanidade de Cristo percorreu para ser poupada da morte, enquanto realizava a purificação dos seus irmãos.
Através das palavras do Sl 110, o autor viu que se podia explicar a superioridade do sacerdócio de Cristo, a sua condição eficaz e eterna (Hb 7).
Hb 8 e 9 aponta para a superioridade do sacerdócio de Jesus ao lembrar que a tenda na terra era figura da Tenda no céu, na qual Cristo entrou como Sumo Sacerdote com o seu sangue, realizada a purificação dos pecados uma vez por todas.
Hb 10 mostra Jesus no exercício do seu sacerdócio, que se revela superior ao sacerdócio da Lei, porque a oferta que faz de si agrada a Deus, em virtude da sua obediência (o que nos faz remontar ao sacrifício criatural e vê-lo como fundamento da ordem sacerdotal).
Temos um eminente sacerdote que Deus constituiu acima da sua casa (10,). “Esta casa somos nós se mantivermos a confiança e o motivo altaneiro da nossa esperança” (3,6). Reconhecemos que o fim de Hb 2 e o início de Hb 3 é a síntese do tema sobre o sacerdócio que a carta desenvolve e pelo qual o autor que ilustrar a novidade do Filho que nos fala “nos últimos tempos que são os nossos” e a sua eminente condição: sentou-se acima dos céus à direita da Majestade, tão superior aos anjos quanto é o nome que herdou.
A argumentação é o válido fundamento da exortação. Consegue até nos conscientizar sobre a grave obrigação moral de prestar atenção a Deus que nos fala.