Temas Bíblicos – Carta aos Hebreus (4) Jesus, o Filho
A Carta aos Hebreus, segundo o que nos declara o seu autor, é uma exortação (13,22) de um pastor de almas que experimentou em si a grandeza da vocação cristã (13,18) e deseja que todos a vivam. Ele nota que falta perseverança na vida dos fiéis (10,36), o que não lhes permite avançarem na compreensão da grandeza dos mistérios da sua fé (6,11) e firmarem sua esperança, para se tornarem, dessa forma, herdeiros das promessas, juntamente com aqueles que perseveraram na fé (6,12). Estes, iluminados e santificados pelo Espírito, conheceram a beleza da Palavra de Deus, a força das realidades futuras, praticaram as boas obras, deram testemunho de Cristo e, pela perseverança, adquiriram a constância e se abriram à esperança, fruto do Espírito. Lançaram, dessa forma, uma âncora que penetrou além do véu de forma que esperam no Cristo, Sumo-sacerdote para a eternidade (6,19s).
Ele é o Filho, isto é o “Unigênito Deus” (Jo 1,18) que se manifestou pela Encarnação, a Pessoa divina, pela qual Deus falou aos homens, de forma definitiva. Outrora, este já tinha falado pelos profetas. O Filho é o herdeiro. Criador do mundo, que sustenta o universo com o poder de sua palavra, é o Resplendor da Glória de Deus e a Expressão do seu ser. Ele é o realizador da nossa redenção, que nos chama à purificação dos nossos pecados, da qual somos capazes em virtude da sua condição gloriosa (1Jo 2; 2Pe 1,5-10): um processo enobrecedor.
O Filho é Aquele que é de condição divina e que, pela Encarnação, se tornou a Revelação do Pai. Autor da nossa salvação, pela mesma obra da nossa redenção foi levado à perfeição pelos sofrimentos. Ele é aquele que o Pai constitui Dia, ressuscitando-o dos mortos (Sl 2,7), o Rei-Deus que cinge a espada, “o Verbo de Deus” (Ap 19,11-12), que cavalga em defesa da justiça e da verdade (Sl 45), Aquele que Deus faz sentar à sua direita (Sl 110,1). É o homem, “pouco menos que um deus” (Sl 8,6), agora, coroado de honra e glória, por causa dos sofrimentos da morte. Nos céus, é o nosso Sumo-sacerdote capaz de expiar os pecados do povo e de socorrer os que são tentados. É Sumo-sacerdote porque o Pai o consagrou quando lhe disse “Tu és meu Filho, eu hoje te gerei” (Sl 2,7), “Tu és sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedec” (Sl 110,4): Aquele que foi salvo da morte por causa da sua submissão, que, pela obediência, no sofrimento foi levado à perfeição e que “se tornou para todos os que lhe obedecem princípio de salvação eterna” (5,9).
Jesus é superior a Moisés, que foi constituído administrador da casa de Deus como servo, porque ele é o Filho. É superior ao sumo sacerdote porque dura eternamente. O seu sacerdócio é segundo a ordem de Melquisedec. O seu sacrifício foi oferecido uma vez por todas e expia os pecados dos homens. Jesus entrou, uma vez por todas, no Santuário que está no céu e intercede por nós.
Fomos chamados a uma vocação celestial, merecedora de consideração, sobretudo porque, em Jesus, temos o Apóstolo e Sumo-sacerdote da nossa profissão de fé. Não podemos deixar endurecer o nosso coração pela sedução do pecado e nos afastar do Deus vivo pela incredulidade. Sabemos o que aconteceu a Israel no deserto, por causa da sua indocilidade (Sl 95).Teremos que prestar conta à Palavra de Cristo “espada de dois gumes” (4,12; Ap 1,16).
Pe. Fernando Capra