Temas bíblicos – Carta aos Hebreus (2) Introdução (II)
Para manter o fervor da caridade (6,11), manter “o senso moral exercitado para discernir o bem e o mal” (5,14) e “degustar a doutrina da justiça” (5,13), o autor da carta propõe a reflexão sobre o Filho eternamente perfeito (7,28b), o Sumo Sacerdote que entrou no céu como precursor (6,20), nosso Senhor Jesus, que “o Deus da Paz fez subir dentre os mortos, que se tornou, pelo sangue de uma Aliança eterna, o Grande Pastor das ovelhas” (13,20). Deus o levou à perfeição por meio do sofrimento (2,10). Se queremos participar da Glória de Nosso Senhor Jesus devemos passar pelo mesmo sofrimento, para sentarmos com ele à direita da Majestade. Além do mais, sua morte foi sofrida por ele para a nossa redenção. Portanto, tendo sido iluminados, tendo degustado o Espírito da Palavra, tendo participado dos sofrimentos dos santos, aceitado o despojamento dos bens, sabendo de possuir bens maiores, “não negligenciemos tamanha salvação” (2,3).
Temos no céu, “em relação a Deus, um sumo sacerdote misericordioso e fiel para expiar os pecados do povo. Pois, tendo ele mesmo sofrido pela tentação, é capaz de socorrer os que são tentados” (2,18). Em segundo lugar, estamos no tempo definitivo; realizou-se a figura; “guardemos bem a graça do Reino inabalável que Deus nos anuncia pelo Filho glorificado” (12,28). Na sua argumentação, o autor utiliza uma contínua comparação entre a antiga aliança e a nova aliança. A superioridade desta última é motivo de grande segurança para os que crêem. Nos nossos dias que são os últimos, os prodígios que Israel viu, na verdade figuras didáticas, se realizaram. Fomos contemplados por uma Aliança no sangue de Jesus Cristo, conhecemos o verdadeiro Monte do Santo, caminhamos para a verdadeira pátria “que está para vir” (13,14). Nós é que estamos ouvindo aquilo que, em figura, Israel ouviu, porque Deus nos fala no Filho. Podemos distinguir (5,14) entre a vaidade da criação e o que é inabalável: a graça do Reino. Recebemos a graça da Salvação (2,3) e o mistério do Reino (12,28). Sirvamos a Deus, observemos os ensinamentos do Senhor e dos Apóstolos “para não nos transviarmos”. Aceitemos as provações pelas quais Deus nos comunica a santidade (12,10); elas produzem frutos de paz e justiça (v.11). De fato, a vida cristã se desenvolve por etapas: conversão, batismo, Espírito, dons, caridade, perseverança na tribulação, esperança. A Igreja, à qual o autor da carta se dirige, viveu a iluminação, os dons, mas é “de perseverança que tem necessidade”, condição para agradar a Deus em tudo, sem esmorecer. A maneira para se animar é a assembleia dominical pela qual a Palavra habita em nós plenamente (Cl 3,16). Lá há quem, repleto de sabedoria, como Estevão, ensina e admoesta. A ação de graças é promovida (ibid.). Pelo Senhor Jesus, alcançamos toda graça (Jo 14,13;15,16).
O Autor utiliza uma argumentação que sensibiliza os filhos de Abraão: Jesus é o Filho (Sl 2,7), o Rei que, pela sua imolação, desposa a Igreja (Sl 45). Nessa condição, é, também, nosso Sumo Sacerdote porque, Aquele que recebeu o nome de Senhor, Deus, por um juramento, chamou ao sacerdócio, como fez com Aarão (Sl 110,1.4).
Aquele que é superior aos sacerdotes da terra, porque realiza em si a figura de Melquisedec e, por um juramento de Deus, é estabelecido Sumo Sacerdote para sempre, é de condição divina: “Resplendor de sua Glória e Expressão do seu Ser, sustenta o universo com o poder de sua palavra” (1,3). É nessa condição que realiza, com a sua Morte, a purificação dos pecados, abole a primeira tenda, entrando, uma vez por todas, no Santuário que está no céu, passando pelo véu da sua humanidade, e se torna Mediador de uma definitiva aliança. Embora sendo homem, senta à direita da Majestade, porque é Filho.
A nossa herança é a Cidade celeste, da qual participaremos se formos perfeitos como os justos. Será Deus que nos julgará. Temos que proceder com temor e tremor porque ele é um “fogo abrasador (12,29).