Temas Bíblicos – Abril 2018
O Evangelho de São Marcos
Marcos (1) Mc 1
O evangelistaMarcos abre o seu evangelho com uma apresentação solene de Jesus pela voz profética de João Batista. É como se o seu precursor ecoasse a voz de Deus anunciando a vinda gloriosa do Senhor Iahweh. Para isto, Marcoscita, embora só implicitamente, Malaquias,que profetiza a vinda do Senhor (Ml 3,1), ao mesmo tempo em que compara João Batista a um precursor de Iahweh que vem, como um pastor, caminhando com o seu povo. A Glória de Iahweh que João anuncia é Jesus de quem declara a condição divina, proclamando que ele é o “Deus forte”, que merece a nossa adoração. Ele batizará no Espírito Santo.
Marcos logo observa que Jesus faz questão de reconhecer a missão do seu precursor, porque se associa às multidões que vão até João para celebrar o rito de purificação que ele administra nas águas do Rio Jordão. Ao descrever-nos Jesus “impelido pelo Espírito” que vai no deserto para lá viver quarenta dias em jejum e oração, Marcos nos lembra que Jesus, ao iniciar a sua vida messiânica quis que tomássemos conhecimento que ele associava a nossa sorte à sua,na condição de povo de Deus (cf. Hb 3,7-19).
Constatamos que Marcos escreve o seu evangelho com rápidas anotações daquela que foi a pregação de Pedro à comunidade de Roma, como nos lembra Papias (60-130), bispo de Hierápolis. Como abertura da atividade de Jesus, Marcos nos apresenta o seu anúncio programático: Completou-se o tempo, o reino de Deus está próximo, convertei-vos e crede no Evangelho (1,14). Trata-se de temas de importância gigantesca. Por eles, Jesus quer nos lembrar que Deus está oferecendo o máximo dos recursos da sua misericórdia em favor dos homens porque o Filho que ele envia transportará aqueles que, pela sua encarnação, se tornam seus irmãos, do domínio das trevas para o reino que ele estabelecerá. Os homens devem prestar ouvido ao anúncio que ele fará da salvação. Podemos lembrar como digno comentário deste anúncio programático de Jesus o que lemos em Jo 8,31-32: “Se permanecerdes em minha palavra,sereis verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres”.
Os benefícios que o programa atuado por parte de Jesus alcançará, serão, para sempre administrados e oferecidos pela atividade daqueles que ele constituiu seus Apóstolos, que, inicialmente vemos representados por Pedro, André, Tiago e João, que Jesus chama para segui-lo (1,17).
O primeiro gesto da atuação de Jesus, que Mateus descreve como uma grande luz que resplandece nas trevas para os que jazem na sombra da morte (Mt 4,16), é o exorcismo de um endemoninhado que revela ser Jesuso santo de Deus (1,24). Podemos imaginar qual possa ter sido o seu discurso naquele sábado na sinagoga de Cafarnaum, quando nos lembramos do que nos relata Lc 4,16-22. Somos induzidos a pensar dessa forma quando observamos que ambos os evangelistas, Marcos e Lucas relatam, quase que com as mesmas palavras, a reação dos presentes. Com o exorcismo, Jesus revela a sua autoridade divina, enquanto com as outras curas que em seguida realiza, mostra a sua condição de messias.
O episódio que nos apresenta os Apóstolos que encontram Jesus em oração, quando ainda é madrugada,nos revela o equilíbrio com que Jesus se conduzia. Pela sua plena comunhão de vida com Deus Pai, sempre tinha diante de si a perfeita noção do caminho que devia trilhar. O objetivo principal da sua missão erao anúncio do Reino, enquanto os milagres que ele operava tinham a finalidade de comprovar a sua condição messiânico-divina.
A cura do leproso, catequeticamente situada no fim de Mc 1, quer apresentar a condição da qual Jesus quer livrar cada homem. Façamos nosso o seu pedido: “Se queres, tens o poder de purificar-me!”
Pe. Fernando Capra