Temas Bíblicos – 1Jo (14) Tema “O Espírito testemunha em nós”
Demais insistente e repetida é a afirmação de João, que encontramos desde o início da sua carta, “E isto vos escrevemos para que a nossa alegria seja completa” (1,4), para que ignoremos a importância de descobrir o seu verdadeiro sentido. Quem nos dá a sua explicação de forma cabal é o autor da Carta aos Hebreus, embora de forma muito sintetizada, contudo, nem por isso, diminuída no seu sentido pleno: “Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje; ele o será para sempre! Não vos deixeis extraviar por doutrinas ecléticas e estranhas” (Hb 13,8-9). O v.8 está em relação com aquilo que, na afirmação final da sua argumentação, João nos diz de uma forma clara: “Deus nos deu a vida eterna e esta vida está em seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho não tem a vida” (5,12). São palavras que explicitam o conteúdo do exórdio, onde se afirma que a Palavra da Vida é Vida, Vida eterna, que, agora, ajudados pelo autor da Carta aos Hebreus, entendemos que deve ser o conteúdo permanente da nossa fé. O v.9 está em relação com o que João afirma no final da primeira argumentação acerca do testemunho do Espírito, tanto em nós quanto nos Apóstolos: “Agora, filhinhos, permanecei nele, ‘a Palavra da Verdade em quem, tendo crido, fostes selados pelo Espírito da promessa, o Espírito Santo’ (Ef 1,13), para que, quando ele se manifestar, tenhamos plena confiança e não sejamos confundidos por estarmos longe dele, na sua Vinda” (1Jo 2,28). O fiel que persevera na comunhão de fé com os que testemunham, no Espírito Santo, que Jesus é o Filho leva os Apóstolos à alegria plena.
Em 1Jo 4,1-6 vemos João proclamar de forma enfática o valor do testemunho dos Apóstolos acerca da “Palavra da Vida, a Vida, Vida eterna”, diante do perigo dos anticristos que tentam desencaminhar “os que são de Cristo porque o Pai lhos deu” (Jo 17). A forma é enfática e mostra a percepção clara do estrago que uma doutrina eclética e estranha pode provocar, uma vez que neutraliza a própria ação do Espírito Santo: “Nós somos de Deus. Quem conhece a Deus nos ouve, quem não é de Deus não nos ouve” (1Jo 4,6).
Dessa forma, a insistente e repetida afirmação de João nos revela a preocupação que levou o Apóstolo a escrever a sua carta, embora, nela, não se limite a defender apologeticamente a importância do Espírito Santo na vida do fiel e da Igreja. O pecado do fiel que chegasse a negar ser Jesus o Filho de Deus já seria algo de extremamente grave. Ele tornaria, todavia, a sua situação desastrosa porque o fiel perderia a comunhão de vida com o Pai e o Filho, uma vez que perderia a comunhão de fé com os Apóstolos (1,3; cf. 2Jo 9).
A importância do Espírito em nós tem a sua argumentação mais profunda em 1Jo 5,5-12, que acaba justificando duma vez a insistência de João em afirmar o motivo do seu escrito. Aquele Espírito que levou o fiel a dar a sua adesão de fé a tudo aquilo que os Apóstolos pregaram, é Aquele que, juntamente com a água e o sangue que jorraram do lado direito de Cristo na Cruz, dá testemunho. A água e o sangue testemunham, aludindo a Ez 47, que Jesus é o Cordeiro imolado no altar do Templo, do qual jorra a Água da Vida que renova as águas mortas. O Espírito testemunha, nos Apóstolos e nos fiéis que Jesus é o Filho de Deus. Foi o testemunho que o Espírito da Verdade (1Jo 5,6) suscitou em João diante do Cristo crucificado e que o mesmo Espírito suscitou nos fiéis, em virtude do testemunho de fé dos Apóstolos, acompanhado “de sinais, de prodígios e de vários milagres e por dons do Espírito Santo, distribuídos segundo sua vontade” (Hb 2,4).
Pe. Fernando Capra http://comentariosbiblicospadrefernandocapra.blogspot.com.br/p/primeira-carta-de-sao-joao.html