Superação… Que força é essa?
Em agosto deste ano, assistimos entusiasmados grandes atletas atingirem e superarem recordes, vencendo limitações muitas vezes inimagináveis, durante os Jogos Olímpicos. Agora, em setembro, chega à vez dos Jogos Paralímpicos – Rio 2016. A Paralimpíadas é o maior evento de superação do planeta. Se ser atleta é se superar a cada momento, o que dizer de um paratleta? É treino, disciplina e dedicação em dobro. Ser paratleta é viver o esporte de todas as maneiras possíveis e nunca imaginadas: usando as mãos, os cotovelos, o peito, o queixo, a cabeça ou até mesmo os cinco sentidos.
Há anos a ciência tem buscado respostas para o fato de que certas pessoas tem a capacidade de enfrentar as piores situações enquanto outras ficam estagnadas na infelicidade e na angustia. Para a Biologia, a resistência nos momentos de dificuldade pode ser explicada através de potenciais genéticos, a psicologia ressalta a importância de uma boa estrutura familiar como um pilar fundamental nos momentos de enfrentamento da crise, enquanto a sociologia defende que somos seres do meio, sofrendo influência da cultura e da realidade a que somos submetidos. Também a fé em Deus é apontada como uma importante resposta do homem às situações adversas, como no caso de enfrentamento de doenças graves, com risco de morte, pois pode ajudar a combater a depressão, ansiedade e problemas de sono. Para comprovar essa tese, um trabalho do Instituto Dante Pazzanese, com quase 250 artigos de todo o mundo, concluiu que a prática regular de atividades religiosas pode reduzir o risco de morte em 30%. Isso porque ter uma religião promove bem-estar psicológico, menos pensamentos e comportamentos suicidas, menos consumo de álcool e drogas e um maior incentivo a hábitos saudáveis. O fato é que algumas pessoas conseguem motivar-se diante de uma situação ruim, movendo-se nas dificuldades, transformando positivamente os reveses da sua existência, enxergando inclusive uma nova perspectiva da vida, redescobrindo-se melhores e mais fortalecidas. Mas, nem todos sustentam o mesmo ânimo e muitas vezes adoecem gravemente diante de um problema. Segundo dados do IBGE, no Brasil, 7,6 % dos adultos já foram diagnosticados com depressão, o que equivale a 11 milhões de pessoas. A doença causa sérios problemas, podendo levar a morte.
Em ano olímpico e paraolímpico, poderíamos citar aqui inúmeros atletas que são exemplos de superação e cultivam a sua maior beleza nas ideias para o qual despertaram, enxergando infinitas possibilidades diante da oportunidade da vida, aprendendo a usar o seu corpo no máximo da sua capacidade, valorizando as suas ideias e o dom da vida. É preciso ter consciência de que as pessoas com algum tipo de deficiência, física ou intelectual, continuam a enfrentar barreiras diárias para a sua plena acessibilidade e inclusão na sociedade e de que, ainda, há uma longa caminhada de luta para que esses direitos sejam de fato respeitados; porém, todos nós em algum momento de nossas vidas precisaremos superar alguma dificuldade; quem nunca sofreu uma decepção? A existência é recheada de sonhos inatingidos, obstáculos e colinas tortuosas. Os problemas podem ser físicos ou emocionais, desde a descoberta de uma doença até dificuldades financeiras, desemprego, depressão, morte e etc.
Em nossa comunidade temos um grande exemplo de superação, na dura realidade dos acolhidos da casa de Betânia, onde uma batalha é travada diariamente na luta contra a dependência química. Na verdade, o desafio maior eles enfrentam consigo mesmo, pois apesar de toda a solidariedade, trabalho e amor que a casa oferece, precisam fazer brotar do âmago das suas entranhas a tal força superadora, descobrindo uma possibilidade no que antes parecia ser impossível. E se pesquisarmos na história da humanidade encontraremos muitos relatos de superação, como a do compositor alemão Bethoven, que foi ao limite da sua dificuldade quando descobriu que estava ficando surdo, ainda assim não desistiu e continuou compondo seus sucessos, entre eles, a nona sinfonia.
O sentimento de superação está intrínseco em nossas vidas, é inerente a natureza humana, ainda que por vezes não nos permitamos vivencia-lo.
Grandes ideias nasceram em meio às adversidades, onde momentos difíceis trouxeram mudanças positivas e uma nova visão acerca da vida. Com o Paul Daves, publicitário Londrino e fundador da ONG Embaixadores da Alegria foi assim. No ano de 2004 devido a uma hérnia de disco ele não pode desfilar na Viradouro e precisou assistir de casa, diante da TV, a sua escola atravessar a avenida. Foi ai que Paul pensou nas pessoas que gostariam de desfilar no carnaval carioca, mas são impedidas por algum tipo de deficiência. Surgiu a ideia de criar uma escola de samba voltada para a inclusão social de pessoas com deficiência física e intelectual.
Assim nasceu a Embaixadores da Alegria, projeto social sem fins lucrativos que visa à utilização da arte, cultura e educação como instrumentos de transformação social. O projeto, 100% carioca, pioneiro nesse tipo de formato, tão inovador e único no mundo, vai além da inclusão das pessoas com deficiência nos desfiles, mas também estimula a participação de familiares e outros profissionais, promovendo especialmente a integração na diversidade e a socialização dentro e fora da avenida. Apesar do maravilhoso espetáculo que apresentam nos desfiles, a escola vem enfrentando inúmeras dificuldades ao longo do tempo, desde a falta de uma sede para ministrar as suas oficinas até a luta para conseguir um patrocínio que possa ajudar na realização dos desfiles. Ano passado, a poucas semanas do carnaval, ainda não tinham nada pronto e nem recursos financeiros para começar, mas havia quase 2000 pessoas, felizes e ansiosas, aguardando o desfile, não podiam simplesmente chegar e dar essa notícia, logo um milagre aconteceu, o milagre da solidariedade, do trabalho duro e da dedicação de muitos que, movidos por um sentimento de superação, diante das dificuldades fizeram acontecer.
Receitas de superação congestionam as estantes das livrarias, mas, que força é essa afinal? A melhor compreensão para o sentimento de superação talvez seja a de que ele não tem a ver com limitações, como a deficiência física ou intelectual, muito menos com um “grau” de dificuldade que atribuem ao seu problema, mas com as suas ideias. Segundo Stella Young, “Estamos mais desabilitados pela sociedade, do que pelo corpo ou problema que possuímos.”, não permita que isso aconteça! Se você sentir que pode fraquejar, seja qual for a sua história, supere a vergonha e busque ajuda.
Como já dizia Roberto e Erasmo Carlos, “É preciso saber viver!”
Luciana Magalhães
Pascom Loreto