Sínodo dos Bispos sobre as Famílias
Entre os dias 5 e 19 de outubro, foi realizada a 3ª Assembléia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema: “Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização”.
Na homilia da missa de abertura do Sínodo, o Papa Francisco destacou que “também nós somos chamados a trabalhar para a vinha do Senhor, no Sínodo dos Bispos… O Senhor pede-nos para cuidarmos da família, que, desde os primórdios, é parte integrante do desígnio de amor que ele tem para a humanidade… Para não frustrar o sonho do Senhor, é preciso se deixar guiar pelo Espírito Santo, que dá a sabedoria e a capacidade de trabalhar com liberdade e criatividade.”.
A palavra sínodo tem o significado de “fazer juntos o caminho” ou “caminhar junto”, como conjunção de duas outras palavras da língua grega.
Sínodo dos Bispos é uma reunião de vários dias, convocada pelo Papa, com bispos convidados do mundo todo, para tratar de determinado assunto importante da vida da Igreja, de doutrina ou de pastoral (família, Eucaristia, sacerdotes etc.).
A cada quatro anos acontecem os Sínodos Ordinários e, a qualquer tempo, por convocação do Papa, os extraordinários. Após o Sínodo o Papa emite um documento chamado Exortação Apostólica, onde resume e aprova as principais conclusões que os Bispos chegaram no Sínodo.
O último Sínodo sobre a família foi realizado pelo Papa São João Paulo II em 1981, de onde se originou a Exortação Apostólica “Familiaris Consortio”, sobre a doutrina básica permanente da Igreja a respeito da família e do casamento.
Desde a convocação do Sínodo, em outubro de 2013, a Secretaria Geral do Sínodo deu início à preparação. Enviou um Documento Preparatório com um questionário a ser respondido, por parte dos católicos do mundo inteiro, a respeito da realidade das famílias. As respostas foram então devolvidas ao Vaticano. Lá foi preparado, a partir das realidades verificadas, o Documento de trabalho: “Os desafios pastorais sobre a família no contexto da evangelização”.
Durante a Assembleia houve aprofundamento do tema, como preparação para a segunda etapa do Sínodo que acontecerá em 2015, quando então será elaborado um documento final.
Foi dada especial atenção às famílias que vivem em situações de conflito e de perseguição, mas, conforme Dom Odilo scherer “nada irá mudar na doutrina da Igreja, nunca nenhum papa revogou um ponto da doutrina da fé, estabelecido pelo sagrado Magistério. Nunca um Concílio Ecumênico da Igreja revogou ou alterou um ensinamento doutrinário fundamental já definido nas encíclicas ou no Catecismo”.
O Sínodo produziu um relatório final, o Relatio Synodi, com os temas de consenso já trabalhados. O Papa Francisco determinou que ele seja, agora, enviado às conferências episcopais e às dioceses para reflexão, novas consultas e contribuições. O trabalho vai prosseguir na 15ª Assembléia Ordinária do Sínodo, em outubro de 2015, que deverá ter o mesmo tema da família e encontrar as linhas de ação pastorais adequadas.
Esta é parte da mensagem dos padres sinodais ao final da Assembleia Extraordinária:
Nós, Padres Sinodais, vos pedimos para caminhar conosco em direção ao próximo Sínodo. Em vocês se confirma a presença da família de Jesus, Maria e José na sua modesta casa. Também nós, unindo-nos à Família de Nazaré, elevamos ao Pai de todos a nossa invocação pelas famílias da terra:
Senhor, doa a todas as famílias a presença de esposos fortes e sábios, que sejam vertentes de uma família livre e unida.
Senhor, doa aos pais a possibilidade de ter uma casa onde viver em paz com a família.
Senhor, doa aos filhos a possibilidade de ser signo de confiança e aos jovens a coragem do compromisso estável e fiel.
Senhor, doa a todos a possibilidade de ganhar o pão com as suas próprias mãos, de provar a serenidade do espírito e de manter viva a chama da fé mesmo na escuridão.
Senhor, doa a todos a possibilidade de ver florescer uma Igreja sempre mais fiel e credível, uma cidade justa e humana, um mundo que ame a verdade, a justiça e a misericórdia.
O Relatio Synodi – documento conclusivo da Assembléia destacou:
. os grandes desafios da fidelidade conjugal, do enfraquecimento da fé e dos valores, do individualismo, do empobrecimento das relações, do stress.
. que “Cristo quis que sua Igreja fosse uma casa com a porta sempre aberta na acolhida, sem excluir ninguém”. Acolher quem peça, mas não ser tolerante com o pecado.
. que “o amor do homem e da mulher nos ensina que cada um dos dois tem necessidade do outro para ser si mesmo, mesmo permanecendo diferente ao outro na sua identidade, que se abre e se revela no dom mútuo”.
. a indissolubilidade do matrimônio.
. os valores da família instituída por Deus: afeto, diálogo entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos e irmãs. Assim a família se apresenta como autêntica Igreja Doméstica, educando na fé, seguindo o Evangelho, rumo à santidade.
(Redação Rádio Vaticano)
Não obtiveram a maioria necessária de dois terços, os temas da homossexualidade e do acesso à comunhão para os divorciados que tornam a se casar.
O texto final será divulgado em todas as dioceses do mundo, juntamente com um questionário, e o resultado servirá de base para o Sínodo programado para o próximo ano.
O Papa Francisco identificou três atitudes importantes com as quais se poderá renovar a Igreja e a sociedade, para assumir com responsabilidade pastoral as interrogações que esta mudança de época nos traz: a escuta e o confronto sobre a família, com o olhar de Cristo.
“A família é uma escola que encontra no Evangelho a força e a ternura para enfrentar os momentos de infelicidade e de violência. No Evangelho está a salvação que preenche os desejos mais profundos do homem! Desta salvação – obra da misericórdia de Deus e Sua graça – como Igreja somos sinal e instrumento, sacramento vivo e eficaz.”
“Esta é a Igreja, a vinha do Senhor, a Mãe fértil e a Mestra atenciosa, que não tem medo de arregaçar as mangas para derramar o óleo e o vinho nas feridas dos homens (cf. Lc 10, 25-37); que não olha a humanidade de um castelo de vidro para julgar ou classificar as pessoas. Esta é a Igreja Una, Santa, Católica, Apostólica e formada por pecadores, necessitados da Sua misericórdia. Esta é a igreja, a verdadeira esposa de Cristo, que procura ser fiel ao seu Esposo e à sua doutrina. É a Igreja que não tem medo de comer e beber com as prostitutas (cf. Lc 15). A Igreja que tem as portas escancaradas para receber os necessitados, os arrependidos e não somente os justos ou aqueles que acreditam ser perfeitos!
“A Igreja que não se envergonha do irmão caído e não faz de conta de não vê-lo, ao contrário, se sente envolvida e quase obrigada a levantá-lo e a encorajá-lo e retomar o caminho e o acompanha para o encontro definitivo, com o seu Esposo, na Jerusalém celeste. Esta é a Igreja, a nossa mãe!”
“Queridos irmãos e irmãs, agora temos ainda um ano para amadurecer, com verdadeiro discernimento espiritual, as idéias propostas e encontrar soluções concretas às tantas dificuldades e inumeráveis desafios que as famílias devem enfrentar; dar respostas aos tantos desencorajamentos que circundam e sufocam as famílias.
Um ano para trabalhar na “Relatio synodi” que é o resumo fiel e claro de tudo aquilo que foi dito e discutido nesta sala e nos círculos menores. E é apresentado às Conferências episcopais como “Lineamenta”.
Que o senhor nos acompanhe e nos guie neste caminho, pela glória do seu nome, com a intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e de São José! E por favor, não se esqueçam de rezar por mim! Obrigado”.
(Papa Francisco)
O Sínodo foi encerrado no dia 19 de outubro com uma Missa celebrada na Praça de São Pedro, presidida pelo Papa Francisco. Na mesma celebração o Papa beatificou Paulo VI, que instituiu o Sínodo em 1965, como um dos frutos do Concílio Vaticano II.