Santo Antonio Maria Zaccaria: de Cremona Italia para o Mundo
Certamente você já notou que a lateral do lado direito do Santuário tem algo em comum com a lateral do lado esquerdo do Loretão. Não?
Vamos dar mais uma dica… Além da nossa Mãe de Loreto, há um santo muito importante para nossa Paróquia? Ainda não?
Última dica… Ele foi o fundador da Ordem dos Clérigos Regulares de São Paulo, mais conhecidos como Barnabitas, isso, a mesma ordem dos nossos queridos padres do Loreto! Agora ficou fácil né?
Vamos falar um pouco sobre Santo Antônio Maria Zaccaria, santo fundador dos Barnabitas e celebrado no dia 05 de julho pela Igreja. Você conhece sua história?
SANTO ANTONIO MARIA ZACCARIA: DE CREMONA ITALIA PARA O MUNDO
Antônio Maria Zaccaria nasceu em Cremona, Itália, em dezembro de 1502. Com poucos meses de vida morreu seu pai, Lázaro Zaccaria. Sua mãe, Antonieta Pescaroli, dedicou-se totalmente à sua educação e sua formação humana e cristã.
Muito jovem, Antônio Maria dedicou-se aos estudos universitários e completou o curso de medicina em Pádua, retornando em seguida para sua terra natal para exercer a profissão.
Ordenou-se sacerdote com 27 anos e mudou-se para Milão, onde seu dinamismo cresceu. Junto com dois companheiros Bartolomeu Ferrari e Tiago Antônio Morigia, fundou a Ordem dos Clérigos Regulares de São Paulo, recebendo a aprovação de Clemente VII em 18 de fevereiro de 1533. Esses religiosos são conhecidos popularmente por Barnabitas, pois sua primeira comunidade ficava na igreja de São Barnabé.
Morreu aos 36 anos, no dia 5 de julho de 1539, nos braços de sua mãe, na mesma casa onde nascera. Foi canonizado em 27 de maio de 1897. Suas relíquias são veneradas na Igreja de São Barnabé, em Milão, Casa Mãe da Congregação dos padres Barnabitas.
Antônio Maria Zaccaria, apesar de ter nascido há quase cinco séculos, podemos dizer que é um santo muito atual, pois seus ensinamentos se estendem para os dias atuais. Uma pessoa que trouxe a figura de São Paulo para a igreja, esse grande apóstolo que foi seu mestre, guia e um importante inspirador. Viveu em um período muito turbulento, quando Lutero lutava para reformar a igreja católica, e acabou ocorrendo a grande separação do cristianismo. Mesmo com tantas dificuldades Antônio Maria se manteve firme se empenhando na expectativa de levar a renovação da vida cristã em uma época difícil.
O grande jovem leigo, médico, religioso e sacerdote tem uma extrema e profunda devoção e intimidade com a eucaristia, chamada por ele de uma forma muito fervorosa de “o Crucificado Vivo”
Escreveu, entre outros, o livro cujo título é “Fogo na Cidade”. Podemos dizer que nosso santo foi o grande “culpado” de uma forma muito positiva de incendiar essa cidade, levando o Crucificado Vivo a iluminar os corações daqueles que estavam na escuridão do pecado, e Cristo através do mesmo, com seu amor infinito e misericordioso iluminou quem necessitava, fazendo arder nos corações do fieis à graça e Sua presença tão real e significativa.
A vocação Barnabita
Há mais de um século, a vida e espiritualidade de Santo Antônio Maria Zaccaria vem inspirando jovens, adultos e muitas vocações.
A Congregação dos Barnabitas foi fundada por três homens: Santo Antônio M. Zaccaria (1502-1539), médico e sacerdote; Venerável Bartolomeu Ferrari (1493-1544), tabelião e sacerdote; Venerável Tiago Antônio Morigia (1493-1546), arquiteto e sacerdote. Apesar de Antônio Maria ser o mais novo dos três, sempre foi considerado o Fundador, por causa de seu espírito vivo, de sua iniciativa e de sua firmeza de atitudes.
Segundo as palavras do próprio fundador, somos “plantas e colunas da renovação do fervor cristão”.
Espalhados pelo Brasil e pelo mundo, a vocação Barnabita chama ao serviço ao povo de Deus conforme o espírito do Apóstolo São Paulo (os Barnabitas são a primeira congregação na história da Igreja a ter São Paulo como patrono). Movido de admiração e amor para com São Paulo, Santo Antônio deixou como herança a seus filhos e filhas (Irmãs Angélicas) o espírito deste grande Apóstolo, apresentado por ele como pai e guia.
Barnabitas ou Clérigos Regulares?
O nome oficial da ordem é Clérigos Regulares de São Paulo: Clérigos, por viverem das fileiras do clero diocesano de Milão; Regulares, porque vivem em comunidade, seguem a mesma regra de vida e professam os votos de pobreza, castidade e obediência; de São Paulo, por terem o Apóstolo como pai da congregação, como modelo e guia espiritual.
Logo no início de sua história, o povo de Milão chamou os primeiros padres de “Barnabitas”, porque, na primeira comunidade onde moraram, a igreja era dedicada aos apóstolos Paulo e Barnabé. E, até hoje, assim são conhecidos!
E não apenas nos sacerdotes se resume essa vocação. Também temos outros 2 ramos: as Irmãs Angélicas de São Paulo e o movimento Leigos de São Paulo.
Para conhecer um pouco mais sobre a vocação inspirada em Santo Antônio Maria Zaccaria aqui em nossa Paróquia, batemos um papo com dois de nossos padres, que nos contaram um pouco sobre a influência do nosso querido padroeiro em suas vidas e vocações e com um representante da Juventude Zaccariana, na Entrevista Pastoral. Pura espiritualidade! Vale conferir.
PASCOM: Padre, como o senhor percebeu que tinha vocação ao sacerdócio? E mais que isso, por que a vocação Barnabita?
PADRE SEBASTIÃO: Eu era uma criança lá na minha cidade de Brasópolis e tinha essa vontade de ser padre, mas lá todos os que saiam de lá, praticamente, eram encaminhados para o seminário diocesano de Pouso Alegre, que era a Diocese, mas aí acontece que o Padre Almir, padre Barnabita do seminário de Caxambu, que tinha a missão de ser o recrutador, de procurar pessoas que queriam ir para o seminário. Naquele tempo havia o seminário menor, que pegava a partir de 10 anos, fazia o ginásio no seminário, completei 11 anos no seminário.
O Pe. Almir, Barnabita, fez pregações na cidade, foi no grupo escolar perguntar se alguém gostaria de ser padre e eu falei para ele que eu queria, eu já sentia à vontade, mas não tinha escolhido ainda.
Pe. Almir foi lá e me levou para o seminário Barnabita, não fui eu que escolhi,
Foi a providência de Deus que pôs o Pe. Almir lá na frente da gente, eu não fui procurar os Barnabitas, nem tinha noção de que existia Barnabita naquela época, com 10 anos de idade.
E foi assim que eu conheci um padre que era de um seminário Barnabita, e lá fui eu para um seminário Barnabita.
PADRE LUIS ANTONIO: Eu nasci no Rio de Janeiro, mas minha família vem do interior de Minas, de uma região Barroca da diocese de São João do Rei… na minha família houve e ainda tem outras pessoas na vida consagrada… um tio Padre Diocesano, outra tia já falecida que era Carmelita descalça e duas primas beneditinas, uma que está em Belo Horizonte e outra que está em Embu, perto de Itapecerica da Serra em São Paulo.
Fui educado sempre em uma família católica e quando era tinha 3 anos de idade em 1948 nós fomos morar em Copacabana, onde começamos a frequentar Paróquia de São Paulo Apóstolo confiada até hoje aos padres Barnabitas, desde 1933… Ali então eu cresci espiritualmente… foi onde fiz minha primeira comunhão, fui crismado, fui coroinha e acólito!
Estava dentro de um ambiente com exemplos de Santos Barnabitas, de pessoas muito dedicadas à causa do Povo de Deus, como os falecidos Padre Zé Lindo Saavedra, Padre João Carlos Colombo, Padre Geraldo Carneiro, entre outros que eram extremamente dedicados naquilo que estavam fazendo… Em mim foi crescendo o desejo e então, em 1961 foi que vim aqui para o Loreto fazer o noviciado… Na minha turma estava também o Padre Sebastião.
Minha opção pelos Barnabitas nasce como uma coisa bastante natural por eu estar muito inserido na comunidade, embora tenha sido aluno do Jesuítas no colégio Santo Inácio, e ter participado de encontros vocacionais com eles… não posso dizer que eu tinha muita noção do que era ser Barnabita, mas isso foi acontecendo ao longo da formação.
PASCOM: Aqui no Loreto, como o senhor consegue viver mais plenamente o carisma do seu fundador?
PADRE LUIZ ANTONIO: O Carisma do fundador e que é nosso também, é a renovação do fervor Cristão… Acho que todos devem concordar que o fervor cristão hoje está muito abalado por uma série de situações e de ideologias e comportamentos assim um pouco mais afastados da vontade de Deus, daquilo que Jesus ensinou… Há muitas ideias em circulação e isso tudo certamente influencia bastante muito no que fazer … Renovar o fervor Cristão é procurar unir a espiritualidade a todos os aspectos da vida de espiritualidade… Não é só promover orações, rezar muitas missas, fazer muitas adorações, fazer muitos encontros, muitos louvores… Não é só isso! É fazer aquilo que Jesus fazia, ou seja, abranger a pessoa humana na sua totalidade espiritual, intelectual, material e Comunitária!
PADRE SEBASTIÃO: Uma das coisas bonitas e importantes, que não é por ser Barnabita, mas que o fato de ser Barnabita e seguidor de SAMZ, dá uma proximidade maior para nós, é a catequese das crianças. SAMZ quis fazer primeiro. Ele fez a primeira escola de formação de catequista da história da Igreja, em Cremona, Itália. Santo Antônio, antes de ser padre, quando se formou em medicina e voltou para a terra dele onde exercia a medicina, ainda que de forma precária, começou a fazer um trabalho de catequese para crianças e jovens na igreja. Embora, leigo, começou a catequisar e se preocupou em preparar as pessoas para cuidar da catequese das crianças. O Concilio de Trento mandou que todas as dioceses tivessem catecismo para as crianças. O Concilio normatizou, prescreveu, que fosse feito uma catequese em cada paróquia, que as dioceses se preocupassem com isso, tivessem catequistas e, SAMZ, contemporaneamente, começou isso ainda antes de ser padre e depois continuou nesse trabalho, formou alguns e fez com que eles continuassem esse trabalho, tinha uma escola lá. Tem um nome: Escola de preparação de meninos e meninas para a comunhão.
Outro ponto de suma importância é a Eucaristia: promover a adoração ao Santíssimo. A Adoração das 40 horas, que ele difundiu, começou lá em Milão. Nessa época, eles não tinham paróquias no começo, eles eram padres de missão, eles saiam para fazer missão em outras cidades em outros lugares, perto de Milão e fazer formação, criar um ambiente melhor para as pessoas viverem a fé, viverem a religião. Tem uma expressão nos seus escritos que diz “eliminar tudo àquilo que é errado e cultivar a vida cristã”. Como tudo que a vida cristã propõe para a gente, exige esforço, ele começou a formar grupos de estudos bíblicos em Milão. Foi dentro desse grupo de reflexão bíblica, que ele escolheu os dois primeiros que foram os co-fundadores. Todos os outros surgiram desse grupo, que não era um grupo só de homens, tinham homens e mulheres, formando assim, um grupo de casais. Eram leigos que faziam essa caminhada religiosa de estudo bíblico, de oração, de uma vida mais santa em família e nos escritos dele, uma das cartas mais bonitas foi escrita por um casal. A pastoral familiar, a catequese são coisas que são características dele lá em 1500 e pouco, isto anima a gente a colocar em prática.
Eu acho muito interessante isso, porque Deus faz uma proposta para a gente, não fui eu que fui procurar fazer do jeito que eu queria, do jeito que eu imaginava, Ele me propôs SAMZ, a seguir SAMZ na congregação Barnabita.
Que coisa bonita a gente conhecer bem São Paulo! Em uma palestra feita por um professor da PUC, ele lembrou que o primeiro livro escrito do Novo Testamento é a primeira carta de São Paulo aos tessalonicenses, o professor situa 20 anos do início do cristianismo, desde que começou o Cristianismo, que foi fundada a religião e 15 anos da conversão de São Paulo, ele já escreveu uma carta para a comunidade, ele já tinha saído de lá de Tessalonica e escreveu para aquela comunidade, com um carinho tão grande, com uma didática muito bonita, muito interessante, é o primeiro livro escrito do novo testamento, e se a gente for comparar por ser Barnabita e clérigo regular de São Paulo, que é o nome oficial, esse ponto acho interessante colocar, como tem franciscanos, ordem dos franciscanos menores, os Barnabitas são clérigos por serem padres, clérigo é o título de padre, regulares, por seguirem uma regra, uma norma, um mandamento, não é igual aos seculares, os diocesanos, são clérigos regulares de São Paulo, ele nos dedicou a São Paulo e nós temos o compromisso de procurar conhecer mais e estudar mais, por isso que fizemos uma peregrinação logo depois que fomos a Terra Santa, o outro foi Caminhos de Paulo, não foi completo, pois não fomos ao norte da Grécia, onde está Tessalônica, fizemos apenas o sul, Atenas e Corinto, mas a cidade da Turquia foi exatamente onde Paulo passou, e imaginar aquelas distâncias enormes que a gente fez de ônibus, passando horas viajando, e ele fez aquilo tudo a pé, ou quando muito, a cavalo… enfrentando perseguição, gente que não entendia, não queria, não aceitava, batia, machucava, e ele seguindo esse caminho todo, é isso que SAMZ mostra para a gente. Isso é um exemplo de um grande, de um general, de um guerreiro que vai à frente da gente e mostra o caminho para seguirmos; é muito bom ser Barnabita, com toda essa espiritualidade de SAMZ e de São Paulo apóstolo.
Pascom: Para encerrarmos essa entrevista e levando em conta que estamos no mês que celebramos a memória do seu Pai espiritual, o que mais inspira o senhor em SAMZ?
PADRE LUIZ ANTONIO: A sua atualidade, aquilo que ele disse no século XVI sob uma influência das obras e da presença do orientador espiritual dele… SAMZ estudou medicina, foi educado por sua mãe, participou da escola paroquial, ele foi formado em um humanismo cristão muito intenso de tal forma que tudo aquilo que ele gostaria de dar a Deus ele dava ao próximo, pois o próximo nos leva a Deus! Leigos, pessoas de vários locais do país dizem a mesma coisa: este é um santo atual, parece que ele mora na casa da esquina, de tão próximo que está de nós!
PADRE SEBASTIAO: Quando a gente começa a conhecer melhor SAMZ, e eu acho que isso muitos de vocês que estão próximos de nós também já conhecem, é a devoção a Jesus Crucificado e a Eucaristia. Esses são os dois pontos que SAMZ, nos seus escritos, nas suas cartas, na orientação que ele dava aos seus primeiros escolhidos, aos companheiros que ele escolhia, sempre voltado muito para a Eucaristia e Jesus Crucificado. Contemplar e olhar para Jesus que entrega sua vida, que faz o seu sacrifício e a Eucaristia como SAMZ fala, o Crucificado vivo e não como morto na Cruz, mas Ele está vivo e é vivo que ele se apresenta para nós na Eucaristia. SAMZ destacou muito esta parte da adoração, da celebração frequente da missa, da participação na missa, a Eucaristia como o centro muito próximo que a gente fica de Jesus na Eucaristia.
A pregação constante de SAMZ nas cartas dele, orienta a congregação nas bases das primeiras constituições. As regras da congregação que ele escreveu, baseado já em outras congregações religiosas, mas ele quis dar um destaque especial à obediência, a pobreza e a castidade. Esses são os principais. A obediência ao superior, que dá uma direção a minha vida, em nome de Deus. O voto de pobreza, sem dispor de nada como realmente meu, isso é uma coisa muito bonita na proposta de vida da gente, a gente viver em comunidade visando construir, ajudando um ao outro nesse crescimento, colocando a obediência aos superiores e a pobreza como simplicidade de vida e a castidade, que é normal para todas as congregações. Tem uma oferta especial quando a gente faz os votos, não é só não se casar, mas cultivar a pureza, a castidade, como valor para a gente.
SAMZ no livro dele, nas constituições, se ele fala dos votos de castidade com cinco linhas, na obediência ele fala muito mais, como é importante você ter essa responsabilidade, de não ser o dono da sua vida, mas colocar a sua vida a disposição na comunidade, através dos superiores.
Que a vida e exemplo de santidade de Santo Antônio Zaccaria sejam capazes de nos guiar nos caminhos da vida, para que nunca percamos o foco no que mais almejamos, o Reino de Cristo!
Que Santo Antônio Maria Zaccaria nos encaminhe para esse Reino!