Os Mistérios da Vida Pública de Jesus – O Julgamento de Jesus
Dissensões entre as autoridades judaicas em relação a Jesus
Além dos discípulos secretos: Nicodemos e José de Arimatéia, muitas outras autoridades religiosas criam em Jesus.
“No entanto, até entre os chefes, muitos acreditaram n’Ele, mas por causa dos fariseus não o confessavam, para não serem excluídos das sinagoga.” (Jo 12,42) Neste momento de tensão esses judeus principais não têm a coragem de confessar publicamente; deixam-se vencer pelo medo de ser excomungados da comunidade judaica e de se enfrentarem com graves dificuldades na sociedade.
Vemos em At 7,6 que no dia seguinte de Pentecostes “uma multidão de sacerdotes haviam abraçado a fé” e até mesmo alguns fariseus; At 15,5 “alguns da seita dos fariseus, que haviam abraçado a fé…”. Em At 21,20 S Tiago diz a S. Paulo que “zelosos partidários da Lei, milhares de judeus abraçaram a fé”.
Havia dúvidas entre as autoridades religiosas. Os fariseus ameaçavam os que os seguissem de excomunhão: “Isto disseram os pais dele, porque tinham medo dos judeus. É que os judeus já haviam combinado que, se alguém reconhecesse a Jesus como o Messias, seria excluído da sinagoga” (Jo 9,22). Este versículo está no contexto da cura de um cego de nascença quando os fariseus interrogam os seus pais.
O Sinédrio considerando Jesus como blasfemador o declara como “réu de morte” (Mt 26,66) e como sua autoridade não chegava a tanto o entregam aos romanos, acusando-o de revolta política: “…Encontramos este homem subvertendo nossa nação, impedindo que se paguem os impostos a Cesar e pretendendo ser Cristo Rei” (Lc 23,2). Para tramar as acusações com aparências de verdade recorrem ao procedimento das meias verdades, tiradas do seu contexto e interpretadas tendenciosamente. Jesus tinha ensinado “Dai, pois, a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21) e tinha pregado que a Sua condição de Messias, além de Profeta e Sacerdote, incluía o ser Rei; mas o próprio Jesus tinha afirmado reiteradas vezes que esta realeza era espiritual e, por conseguinte, tinha rejeitado com energia todos os intentos do povo para nomeá-lo rei. “Mas Jesus, percebendo que queriam levá-lo pra proclamarem rei, retirou-se novamente, sozinho para a montanha” (Jo 6,15).
Os chefes dos sacerdotes provocam Pilatos: “…Se o libertares, não és amigo de Cesar: todo aquele que se faz rei declara-se contra Cesar” (Jo 19,12) e este com medo de uma reação de Roma resolve concordar, lavando suas mãos. Com isso todo Jesus fica em pé de igualdade com Barrabás e eles gritam por sua crucifixão.
Os judeus não são coletivamente responsáveis pela morte de Jesus
A multidão que pede a morte de Jesus “Crucifica-O, crucifica-O” foi manipulada por um grupo. Não se pode atribuir tal responsabilidade a essa multidão de judeus. “Jesus dizia: Perdoa-lhes, ó Pai, que não sabem o que fazem” (Lc 23,34).
Explicando esta responsabilidade a Igreja no Concílio Vaticano II na Declaração sobre as relações da Igreja com as religiões não Cristãs Nostra Aetate 4 nos diz “Aquilo que se perpetrou em Sua Paixão não pode indistintamente ser imputado a todos os judeus que viviam então, nem aos de hoje…Os judeus não devem ser apresentados nem como condenados por Deus, nem como amaldiçoados, como se isto decorresse das Sagradas Escrituras. Haja por isso cuidado, da parte de todos, para que, tanto na catequese como na pregação da Palavra de Deus, não se ensine algo que não se coadune com a verdade evangélica e com o espírito de Cristo”. ( Continua no próximo número)