O Jumento e os Ramos
São Lucas escreveu: “Chegando perto de Betfagé e de Betânia, junto do monte chamado das Oliveiras, Jesus enviou dois dos seus discípulos e disse-lhes: Ide a essa aldeia que está defronte de vós. Entrando nela, achareis um jumentinho atado, em que nunca montou pessoa alguma; desprendei-o e trazei-mo. Se alguém vos perguntar por que o soltais, responder-lhe-eis assim: O Senhor precisa dele. Partiram os dois discípulos e acharam tudo como Jesus tinha dito. (19,29-31).
Com essa narrativa abrimos à Semana que é Santa. Trazemos à memória, a entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém, poucos dias antes de sofrer a Paixão, Morte e Ressurreição. Este domingo é chamado Domingo de Ramos, porque o povo cortou ramos de árvores, ramagens e folhas de palmeiras para cobrir o chão onde Jesus passava montado no burrico. Com folhas de palmeiras nas mãos, o povo o aclamava “Rei dos Judeus”, “Hosana ao Filho de Davi”, “Salve o Messias”. Dessa forma, nosso Senhor, entrou triunfante em Jerusalém deixando os sacerdotes e mestres da lei com inveja, desconfiança e medo de perder o poder. Começa assim, uma trama para condenar Jesus à morte.
Aquele que é o Verbo se fez homem. Nasceu em um estábulo e escolheu um jumentinho para sua última viagem a Jerusalém. Não um cavalo, que era usado pelos soldados, pelos ricos, mas um jumento, que era usado pelo povo. A coerência de Jesus, nos mostra com clareza a sua total obediência aos planos de Deus. Jesus vem salvar aquele que estava perdido: Cura o leproso, o cego, a mulher hemorrágica. Retribui com o perdão a ofensa e o ódio dos inimigos.
Enquanto Ele vem montado no jumento, cá estamos nós, até hoje, balançando os ramos. Observamos nosso Rei e Senhor, despido de vaidades, mas do mesmo modo que nossos irmãozinhos do passado, nós também não compreendemos a lógica de Deus. Acenamos para aquele que pode nos curar, esperamos um salvador que nos liberte da opressão, pedimos benefícios em nosso favor, esperamos recompensas pelo nosso trabalho. Ele insistentemente nos fala do reino onde prevalece a solidariedade, o respeito à criação, o amor ao próximo, o perdão, mas nós não entendemos. Ficamos aguardando que esse reino nos seja dado, que apareça das nuvens.
Constatamos que a Boa Nova, continua novíssima. Jesus caminhou para o calvário por três anos e não só naquela semana de abril, já que durante toda a sua vida pública nos apontou o caminho do amor que resulta em serviço em favor de uma vida justa para todos, onde todos são iguais, com direitos e deveres iguais. Todos somos filhos amados de Deus e todos estamos sujeitos a sua misericórdia. Com isso o reino deve ser uma construção diária. Todos os dias temos que nos preocupar com a vida que vivemos e nosso papel dentro dela. O reino de Deus não é desse mundo, de fato, mas começa aqui. Ele nos deu o dom da vida! Quer exemplo de algo mais perfeito do que a vida? Do que o ecossistema do qual fazemos parte? Enquanto não entendermos que cada um de nós faz parte desse grande projeto de Deus, ficaremos estáticos, apenas balançando os ramos ou, pior ainda, caindo frequentemente na mesma armadilha do inimigo, blasfemamos contra o bem, desacreditando-nos por completo do amor!
Rezemos para que a festa do jumento e dos ramos possa de fato, transformar nosso coração e que nesta Semana Santa, possamos reconhecer nosso papel nessa história, como aqueles que podem fazer a diferença no capítulo final, onde todos são felizes para sempre, num mundo repleto de amor e fraternidade.
Essa é a verdadeira Páscoa de Jesus, quando a vida ressurge da opressão da morte e triunfa soberana. A paixão de Cristo nos renova, quando nos faz refletir essas coisas. Então, renovamos pela paixão do Senhor, vamos viver a Páscoa reconciliados com os planos que Deus fez para nós, comprometidos com a construção de Seu reino.
Uma feliz Páscoa a todos.
Ana Clébia
Pascom Loreto.