Nascimento de Jacarepaguá, Berço do Loreto (4)
Nas primeiras décadas do século XVII, as imediações da Pedra do Galo já possuíam razoável povoamento, em virtude dos diversos arrendamentos feitos por Correia de Sá. A chegada dos primeiros escravos no Rio de Janeiro aconteceu em 1614. A maioria veio para os grandes foros que surgiam em Jacarepaguá. Um dos principais foreiros foi Rodrigo da Veiga, que criou o Engenho D’Água por volta do ano de 1616, bem antes de Gonçalo Correia de Sá fundar o Engenho do Camorim em 1622. Três anos depois, em 1625, Gonçalo ergueria a Capela de São Gonçalo do Amarante nas terras desse engenho. Mais tarde, o Padre Manuel de Araújo construiria, no alto da Pedra do Galo, a Igreja de Nossa Senhora da Pena. Então, lá embaixo, no lugar chamado Porta D’Água, começaria a surgir o primeiro núcleo populacional de Jacarepaguá.
Até então a viagem para Jacarepaguá era somente feita pelo mar, pela Barra da Tijuca e lagoas. Os viajantes, todavia, ficavam na dependência de embarcações de algum calado, para enfrentar o mar. A fim de que esses pioneiros do século XVII pudessem levar a produção de seus engenhos e fazendas para a longínqua Freguesia de São Sebastião do Rio de Janeiro com mais facilidade, foram abertos caminhos que deram origens aos atuais logradouros. As mercadorias atravessavam o Vale do Marangá (atual região da Praça Seca) até o porto fluvial de Irajá (local onde surgiu a Freguesia de Irajá). Daí seguiam em pequenos barcos pelo Rio Irajá e Baía da Guanabara para atingir o cais da atual Praça Quinze.
Gonçalo Correia de Sá casou-se com Dona Esperança da Costa. Dessa união nasceu a filha Vitória de Sá. Em 1628, chegou ao Rio de Janeiro o fidalgo espanhol Dom Luís Céspedes Xeria, que viajava desde Madri para Assunção, a fim de assumir o cargo de governador do Paraguai. Céspedes foi hóspede oficial da cidade, pois, na época, Portugal e Espanha estavam unificados sobre a mesma coroa. No dia 21 de março de 1628, em grande festa na casa do então governador do Rio de Janeiro – Martim Correia de Sá, Céspedes casou-se com Vitória Correia de Sá, filha de Gonçalo e sobrinha de Martim. Como dote de casamento, Gonçalo doou parte de sua sesmaria de Jacarepaguá a Dom Luís Céspedes. Os irmãos Correia de Sá faleceram anos depois: Martim em 1632 e Gonçalo em 1634. Nesse mesmo ano de 1634, a mulher de Gonçalo, D. Esperança, e a filha Vitória venderam a propriedade a Salvador Correia de Sá e Benevides, filho do falecido Martim. Dona Vitória, entretanto, não se desfez de tudo. Ela continuou com a parte que o marido recebera de seu pai como dote de casamento. Essa grande fração de terras seria doada, em testamento feito por ela no dia 30 de janeiro de 1667, ao Mosteiro de São Bento. Até os dias de hoje há brigas judiciais por posses de terrenos, por causa das diversas cadeias sucessórias que se formaram a partir do século XVII.
A seqüência de divisões, heranças e vendas das primeiras sesmarias, deram como resultado, o surgimento de inúmeros engenhos e fazendas na região, durante os anos 1600 e 1700, como veremos nos próximos capítulos.
O mapa abaixo mostra a cidade do Rio de Janeiro por volta de 1700. Ela acabava de descer o morro do Castelo e se expandia pela planície. Pelas indicações do mapa podemos imaginar a dificuldade para se chegar ao centro da cidade.
Podemos também ver o quanto a cidade crescerá nos três séculos seguintes.