Loretando – Jovens Vidas Que se Foram
Momento de dor, momento de muita, muita dor. Esse é o meu estado de espírito neste momento, mesmo passado alguns dias de um grave acidente automobilístico ocorrido numa das principais ruas de nossa paróquia, continuo triste, muito triste. Três jovens perderam a vida física e outros três sobreviventes, com certeza, perderam suas vidas espirituais, pois por mais que o tempo passe, as imagens desse terrível acidente não sairão de suas mentes. Eram todos jovens, ricos em saúde e alegria de viver, viviam seus momentos com intensidade e esbanjavam o frescor da juventude. Não há um pai que sabendo do acidente não pense nos seus filhos. Eu chorei quando soube e mais ainda ao saber das diversas ligações de amizade que uniam esses jovens a outros tantos jovens conhecidos de nossa comunidade. Definitivamente não há palavras que possa amenizar a dor no peito desses pais, mesmo orando, mesmo voltando sus pensamentos a Deus a dor persiste, assim como persistiu no coração de Maria ao ver seu filho amado dando o último suspiro. Tanta coisa se passa nesse momento, tanta coisa que poderia ter sido dita, tanto carinho que poderia ter sido feito, dado, recebido. Tanta coisa pra dizer e ser ouvida, tanta vida pela frente e numa fração de segundos tudo se apaga, a vida se esvai como areia entre os dedos. Definitivamente não há dor maior que perder um filho. Nós cristãos católicos que alimentamos nossa fé na ressurreição dos mortos, buscamos forças no infinito para crer mais e se apegar nesses ensinamentos de Jesus, mas, creiam-me, somos humanos, não duvidamos, apenas sofremos com o fulgor de todas as dores. Não significa que duvidamos do amor infinito que Deus tem por nós, mas somos humanos e como tal, sofremos com nossas perdas. Um dos meninos falecidos chamava-se Felipe, assim como o meu filho e ao ler esse nome no destaque da notícia, não pude deixar de emocionar-me, era o filho de alguém que poderia ser o meu e poderia ser o de qualquer um de nós.
Deus, não questiono, mas sinceramente não entendo essas inversões da vida, afinal, jovens foram feitos para viverem suas vidas até o fim, foram feitos para chegar bem longe assim como eu cheguei. Jovens não deveriam morrer nunca. Não deveriam sofrer nunca.
Nesse mês dedicamos grande espaço para falarmos da Bíblia, o nosso manual de instruções, nela com certeza encontraremos palavras de conforto para amenizar este momento tão sofrido, as palavras que Jesus usou, suas mensagens e sua trajetória nela descrita nos fortalecem e impulsionam a acreditar mais ainda na vida eterna, na vida ao lado do Pai Eterno. Neste momento de dor extrema, só mesmo a compreensão divina e o acolhimento dos amigos e parentes poderão trazer de volta o consolo no coração desses pais que perderam seus filhos e para aqueles que sobreviveram.
Neste momento, quase um mês depois, ainda com as chagas abertas, quero pedir a Deus o consolo eterno a todos os familiares e amigos das vítimas. Quero também dizer aos jovens que consideram “mico” a preocupação dos pais, a forma grudenta que temos de trata-los, essa necessidade que temos de ficar perto de vocês, de abraça-los na frente das pessoas, de beija-los, de sentir sua respiração junto da nossa, nada mais é do que amor em sua pura essência, uma coisa estranha que sentimos que não dá pra esperar pelo dia de amanhã, pois o amanhã é efêmero, o amanhã é aquilo que existe, mas pode deixar de existir no minuto seguinte. Compartilhem e retribuam todos esses gestos de carinho, eles são únicos e verdadeiros, não esperem pelo amanhã.
Fiquem com Deus meus “filhos” Lilian Andrade, Rafael Sbrana e Filipe de Paula Marmello.
Nesse mesmo final de semana perdemos a Marina, do Ranulfo. Ela era uma mulher elegante, fina, falava as palavras com todas as letras, mantinha o sorriso largo, estava sempre pronta pra uma palavra bonita e gostosa. Marina criou os três filhos, Batista, Julia e Irmã Graça com verdadeira dedicação, na verdade quatro, porque o Ranulfo era uma criança grande que ela criava com muito esmero. Uma família honrada e dedicada as obras do Senhor. Quando Marina falava de Nossa Senhora parecia que uma grande janela se abria e uma forte claridade entrava, acho que isso é coisa de mãe e ter grande intimidade com Maria. Minha mãe, D. Quita, também é assim; quando estou no sufoco, ligo pra ela. –“mãe tô lascado, reza pra Nossa Senhora me ajudar”. Marina também passava essa certeza de que o amor da mãe de Jesus era precioso e infinito. Ela partiu rodeada de amigos e parentes, com a benção do nosso pároco Pe. Sebastião e com todas as nossas orações. Alguém merece presente maior? Que divina graça entrar no reino dos céus embalado por orações tão sinceras e amorosas. Vida que segue e seu legado é precioso, suas sementes geraram frutos positivos, frutos de boa qualidade. Nossos sentimentos a família, nosso grande adeus a Marina, eternamente do Ranulfo.
P.S. Deus tenha piedade desses corações sofridos.
P.S. do P.S. Deus tenha compaixão e nos dê consolo. Amém.