Ideologia de gênero
O que será daquele que não busca a Sabedoria? O que há de mais rico a ser desejado? Como vê o homem o seu mundo ao redor sem dele dispor em seu coração? Qual o seu olhar para a realidade e para a natureza humana se tamanha virtude não vier a ser intrínseca às decisões e propostas, mesmo que aparentemente plenas do direito e da justiça? Haveria justiça sem Sabedoria? Por que me faço tais perguntas?
Nunca poderia eu imaginar que ao longo da vida tivesse que abordar o tema, o da “tal ideologia”. Necessito dizer que, mesmo inteligentemente considerando que somos também resultado do meio em que vivemos, e isto deve ser sempre lembrado, sobretudo pelos modelos educacionais que queremos programar e desenvolver, nós trazemos um inquestionável patrimônio resultante da nossa origem. Somos nós, e nós mesmos, já no momento de nossa concepção. Naturalmente ricos, detemos marcas que nos darão desenho, perfil, contorno, aspecto, forma, e que mais nomes queiram dar, que nos chancelam alicerces para a vida. Fazem parte do nosso eu. Entre as marcas podemos identificar e coerentemente afirmar: nascemos meninas ou meninos.
Loucura dos tempos ter que dar resposta a questionamentos sobre esta natureza. Mas isto hoje é necessário, é socialmente urgente.
Uma boa estratégia para desconstrução social e seus valores é a de criar dúvidas, o que pode se dar ao se propor verdadeiro, o ideológico. Ter domínio para separar uma coisa da outra requer motivação, observação, estudo, avaliação, discernimento.
A dúvida inicialmente proposta, nascer menino ou menina, mesmo grave, é o menor diante da dimensão que traz em seu escopo a perniciosa ideologia. Tem objetivos dissimulados, sorrateiramente tramados em sua teia que, sem delírio persecutório ou sem teoria da conspiração, merecem atenção especial das famílias, do pai, da mãe, dos avós, dos educadores, dos profissionais de saúde, enfim, dos cidadãos e das comunidades.
Pensando em trazer o problema à tona na proposta de iniciarem-se estudos e debates foi que a Paróquia de Nossa Senhora de Loreto, em uma iniciativa da Congregação das Irmãs de Belém, reconhecida autoridade em Catequese e Educação, promoveu a realização de um rico seminário para tratar do assunto.
Realizado em treze de dezembro último, contou com a participação de eminentes debatedores sobre a matéria. Apresentaram-se os professores Aurélio Luís, Henrique Lima, Carlos Dias, Ítalo Marsili e Andréia Medrado. Em um rico encontro, que se desenvolveu ao longo de todo o domingo e que terminou com uma sessão de perguntas por parte da motivada plateia que se estendeu por mais de uma hora, foram apresentados e discutidos os aspectos históricos, jurídicos, políticos, psicológicos e psiquiátricos, além das estratégias de ação diante do problema.
Cabe aqui um profundo agradecimento. Nada mais gratificante do em ver o seu pastor interessado naquilo que está sendo desenvolvido pelos leigos em maioria. A presença do padre Sebastião, com sua observação contínua, sua avaliação, sua temperança em suas colocações durante todas as atividades foi para nós um sinalizador de segurança no desenvolvimento dos trabalhos. Muito obrigado.
Ao se considerar a dimensão do assunto, foi possível concluir que, apesar da excelência da qualidade do seminário, ficaria impossível esgotar o tema. Certamente, entretanto, de lá muitos saíram comprometidos em mergulhar no estudo para o aprofundamento do seu conhecimento, ao mesmo tempo empenhados em divulgar os aspectos nele contidos, entendendo o quanto a temática da ideologia de gênero já está tão amplamente disseminada no cotidiano de algumas realidades de nossa sociedade.
Pode-se entender que a leitura nem sempre será agradável. A rejeição ao tema é algo que se possa aceitar como natural, sobretudo quando nos deparamos com textos que estabeleçam elos à teoria queer, à pedofilia, ao aborto, ao incesto. São certamente leituras para profissionais, estudiosos e missionários que busquem defender patrimônios e valores que não merecem ser violados. Atacar de maneira dissimulada a felicidade humana em seus fundamentos, em suas raízes, ao gerar conflitos pessoais e sociais podem se expressar como estratégias vis sempre e muito observadas ao longo da história.
Ao entender que a defesa da vida em sua plenitude merece a nossa total dedicação, devemos nos empenhar em conhecer o problema para que possamos tomar lúcidas e ponderadas atitudes.
Há fatos e circunstâncias que nos remetem à Parábola do Administrador Infiel, talvez esta situação seja uma delas. Para tanto, a Sabedoria será certamente a nossa “arma” estratégica. Nossa oração, nosso estudo, nosso entendimento sobre o tema, além do nosso acompanhamento das agendas que intencionam promulgar normas na área da Educação e do ensino, ora a serem votadas em câmaras municipais tanto no Rio de Janeiro quanto em Niterói, merecerão nossa cuidadosa atenção.
Tomo aqui a liberdade de a todos convidar a ter um olhar apurado ao que, às vezes travestido de modernidade e pobre em Sabedoria, possa provocar encantamento. Entender fatos e propostas sempre merece perspicácia e, sem defesa de uma ou outra bandeira, requerem clara atitude para que efetivamente possamos ser mansos como pombas e sagazes como serpentes.
Cesar Fernandes
Paroquiano da Comunidade de Nossa Senhora de Loreto.