Fé e Política – “Terra, Teto e Trabalho para todos”
* Robson Leite
Extraordinário e ao mesmo tempo contundente o discurso do Papa Francisco no recente encontro com os movimentos populares na Bolívia, quando de forma direta e objetiva, ele condenou duramente a ditadura sutil do capitalismo que mata, corrompe e destrói em nome do lucro e do egoísmo. “O serviço do bem comum fica em segundo plano quando o capital se torna um ídolo e dirige as opções dos seres humanos, quando a avidez do dinheiro domina todo o sistema socioeconômico, arruína a sociedade, condena o homem, transforma-o em escravo, destrói a fraternidade inter-humana, faz lutar povo contra povo e até, como vemos, põe em risco esta nossa casa comum”.
E ele disse mais: “Não quero alongar-me na descrição dos efeitos malignos desta ditadura sutil: vós conhecei-los! Mas também não basta assinalar as causas estruturais do drama social e ambiental contemporâneo. Sofremos de certo excesso de diagnóstico, que às vezes nos leva a um pessimismo charlatão ou a rejubilar com o negativo. Ao ver a crônica negra de cada dia, pensamos que não haja nada que se possa fazer para além de cuidar de nós mesmos e do pequeno círculo da família e dos amigos”. Completa o Papa Francisco a sua reflexão desse trecho com essa importante indagação: “Que posso fazer eu, recolhedor de papelão, catador de lixo, limpador, reciclador, frente a tantos problemas, se mal ganho para comer? Que posso fazer eu, artesão, vendedor ambulante, carregador, trabalhador irregular, se não tenho sequer direitos laborais? Que posso fazer eu, camponesa, indígena, pescador que dificilmente consigo resistir à propagação das grandes corporações? Que posso fazer eu, a partir da minha comunidade, do meu barraco, da minha povoação, da minha favela, quando sou diariamente discriminado e marginalizado? Que pode fazer aquele estudante, aquele jovem, aquele militante, aquele missionário que atravessa as favelas e os paradeiros com o coração cheio de sonhos, mas quase sem nenhuma solução para os meus problemas? Muito! Podem fazer muito. Vós, os mais humildes, os explorados, os pobres e excluídos, podeis e fazeis muito. Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, nas vossas mãos, na vossa capacidade de vos organizar e promover alternativas criativas na busca diária dos “3 T” (trabalho, teto, terra), e também na vossa participação como protagonistas nos grandes processos de mudança nacionais, regionais e mundiais. Não se acanhem!”.
Essas palavras do Papa Francisco soam forte aos nossos ouvidos principalmente quando vemos que o grande capital determina suas opções sacrificando vidas em prol do lucro. Sacrificando a dignidade do povo trabalhador para saciar seus desejos fundamentados no egoísmo e no individualismo. E ele, de forma contundente, convoca o povo pobre e excluído a ser agente dessa mudança. E principalmente a nós, católicos, a sermos firmes na abertura de espaços para a emancipação dos mais pobres e termos, em nossas ações pastorais e, inclusive, políticas, a escolha da opção preferencial pelos pobres e excluídos.
Vale muito a pena a sua leitura na íntegra… Leitura e reflexão da necessidade de irmos ao encontro do centro do Evangelho. De voltarmos as nossas atitudes para a construção da sociedade do bem viver e buscarmos, acima de tudo, a atitude da partilha e da solidariedade.
“Sofremos de certo excesso de diagnóstico, que às vezes nos leva a um pessimismo charlatão ou a rejubilar com o negativo. Ao ver a crônica negra de cada dia, pensamos que não haja nada que se possa fazer para além de cuidar de nós mesmos e do pequeno círculo da família e dos amigos”.
(*) Robson Leite é professor, escritor, membro da nossa paróquia, funcionário concursado da Petrobras e foi Deputado Estadual de 2011 a Janeiro de 2014.
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