Fé e Política – set2017
“A Política como Meio e não como Fim”
Muitos dos nossos irmãos católicos vêm questionando o papel da Igreja no atual cenário político brasileiro. Os argumentos são vários, mas o que mais me chama a atenção é aquele que faz menção ao Evangelho onde Jesus diz: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Uma análise superficial pode nos conduzir a um equívoco terrível em achar que essa passagem demonstra claramente que a Igreja deve se afastar por completo de seu papel transformador da realidade injusta e perversa da nossa sociedade utilizando alguns instrumentos, como por exemplo, a Política.
“Dai a Deus o que é de Deus” mostra claramente que o mais importante é o Reino de Deus. As palavras de Cristo iluminam e servem de guia para a conduta do Cristão no mundo atual. A fé não pede que se fuja das realidades temporais; muito pelo contrário, torna-se instrumento da transformação do indivíduo e, por conseqüência, da sociedade. Esse é o elemento fundamental da instauração do Reino de Deus: “Dar a Deus o que é de Deus”.
Quando analisamos o objetivo fundamental da mensagem Cristã, percebemos claramente a sua finalidade: Deus. E, como chegar até Ele? Diversos caminhos são exemplificados. E, num Continente profundamente mergulhado na exclusão social como o nosso, a Política é a que mais carece de ação pastoral. Porém, vale destacar que ela é Meio. E como tal, se demonstra como ferramenta da ação transformadora para a vinda do Reino. Porém, jamais será Fim. Ela não se basta em si mesma. Ela conduz a uma nova realidade necessária para que o homem chegue até Deus e consequentemente ao seu Reino de paz e justiça!
Tão equivocado quanto se alienar dos processos políticos de nossa sociedade achando que a busca pelo Reino de Deus passa apenas pela oração e pelo espírito, é acreditar que a Política é, por si só, o mecanismo de estabelecimento da verdade plena do Evangelho. Como falei anteriormente, ela é meio de chegar à justiça, mas não é Fim. A meta principal e alimentadora da Verdade plena é o próprio Cristo.
Outro equívoco freqüentemente cometido pelos nossos irmãos e membros de nossa sociedade é a busca incessante pela Paz sem se preocupar com a sua causa. Não. Não estou pregando que buscar a Paz é um equívoco ou fazendo qualquer alusão pela Violência. Pelo contrário. Estou apenas resgatando o que o Profeta Isaías disse sete séculos antes de Cristo: “não há paz sem justiça”. Em outras palavras, o que nós precisamos fazer é buscar e fortalecer os caminhos que levam à paz. Ela não é causa, mas consequência de um Reino de Justiça e de amor. Um Reino sem a opressão, o desemprego, a fome, a miséria e o sofrimento presentes no rosto do próprio Cristo – conforme nos diz São Mateus – que sofre com as injustiças e com o egoísmo do “mundo moderno voltado exclusivamente para o acúmulo de riquezas e de bens”.
Buscar a Paz através da Justiça é, sobretudo, um dos grandes e belos caminhos para se chegar ao Reino, ou melhor, para se trazer o Reino até nós. Assim, tanto a fé quanto a política serão agentes transformadores da nossa sociedade. Porém, isso será uma etapa dessa importante e fundamental tarefa de construirmos o Reino de Deus aqui e agora.
Robson Leite é professor, escritor, membro da nossa paróquia, Ex-Superintendente Regional do Ministério do Trabalho e Emprego no RJ e foi Deputado Estadual de 2011 a Janeiro de 2014.
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