Fé e Política – out2018
“Uma copa dos sonhos…”
Recentemente, na noite que antecedia um jogo do Brasil na copa, eu tive um sonho. Sonhei que ao sair à rua eu observava que todas as pessoas estavam mobilizadas com um grande sentimento patriótico. Camisas verde e amarela por todas as partes, bandeiras, as pessoas correndo apressadas para chegar mais cedo ao trabalho com o claro objetivo de compensar as horas que em breve seriam despendidas com o mais importante acontecimento patriótico do ano. Em alguns casos, essa saída “mais cedo” do serviço era antecedida de uma intensa negociação com os chefes e patrões. Porém, graças ao censo patriótico comum, apenas os serviços essenciais à população eram mantidos. Os demais seriam suspensos ou compensados.
De repente, durante este meu sonho, eu me vejo caminhando junto com a imensa multidão que portava bandeiras, faixas de apoio e gritos de guerra em direção ao Maracanã. Subimos todos juntos a rampa que dá acesso a arquibancada e ao sentar, para a minha surpresa, percebo que toda a arquibancada é composta de uma só torcida. “Bom, estamos jogando em casa e a torcida adversária não veio”, penso eu. Ao olhar para o campo fico mais perplexo ainda: Vejo cadeiras perfiladas em frente a uma grande mesa como se fosse um plenário. Pergunto ao torcedor que está do meu lado:
– “Ué. Que cadeiras são aquelas? Como que o jogo vai transcorrer com aquelas cadeiras em campo?”.
O torcedor que está ao meu lado me olha surpreso e dispara:
– “Que jogo o que, rapaz. Ficou louco? Estamos aqui para acompanhar a votação do orçamento de nossa cidade. Naquelas cadeiras sentarão os nossos representantes. Aqueles que fizerem emendas eleitoreiras para os seus centros de saúde e assistência social com o claro objetivo de comprar votos, nós vaiaremos e exigiremos que o treinador o troque. Aqueles que brigarem para que seja mantida a Lei de Diretrizes e Bases da Educação destinando assim mais recursos para as escolas públicas nós aplaudiremos e apoiaremos. É esse o nosso papel aqui. Aliás, isso está acontecendo em todo o País. Todos param durante esses dias a tarde para acompanharmos de perto a votação do orçamento municipal em nossas cidades”.
Logo em seguida o meu despertador toca e eu acordo com aquele sentimento triste ao constatar que se tratava apenas de um sonho. Para piorar ainda mais, eu ligo a televisão e observo os preparativos para o jogo do Brasil na copa que aconteceria ainda naquele dia: As pessoas correndo, se preparando e se mobilizando com um senso de organização e cooperação raro em nossa sociedade brasileira. Infelizmente, tudo isso é apenas para uma copa do mundo. Muito provavelmente em função do sonho que tive na noite anterior e, motivado pela demonstração de patriotismo e união que vejo na televisão, eu paro e me pergunto: “Que País nós teríamos se as pessoas dedicassem para a política o mesmo engajamento e a mesma participação que dedica para uma copa do mundo?”. É, com certeza teríamos um Brasil mais fraterno, menos desigual e muito mais próximo da civilização do Amor citada nos Evangelhos.
(*) Robson Leite é professor, escritor, membro da nossa paróquia, Ex-Superintendente Regional do Ministério do Trabalho e Emprego no RJ e foi Deputado Estadual de 2011 a Janeiro de 2014.
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