Fé e Política – Mar2018
Há paz sem justiça?”
“Pistas e reflexões retiradas das experiências
de palestras e atividades que venho ministrando
sobre a Campanha da Fraternidade desse ano”
Da mesma forma que a febre no organismo de uma pessoa doente não é a causa de um problema de saúde, mas a consequência de algum distúrbio bem mais sério no corpo humano, a violência que assola a nossa sociedade é o resultado de um processo de anos de desigualdades, de concentração de renda, de injustiças e, sobretudo, da ausência do estado em promover a dignidade plena da pessoa humana através de políticas públicas.
Em diversos estados do nosso país, a política de segurança pública – responsabilidade constitucional das unidades federativas – vem se baseando em uma estrutura de confronto que, lamentavelmente, vem vitimando jovens, trabalhadores, trabalhadoras e moradores de comunidades em situação de risco. Vidas que são ceifadas em nome de uma paz que, infelizmente, não é verdadeira, pois não possui bases sólidas sedimentadas na construção de uma sociedade justa e fraterna.
A Campanha da Fraternidade da CNBB desse ano convida a todos para refletir sobre quais são os caminhos para essa mudança de paradigma.
Percebemos claramente no Brasil de hoje uma política pública de segurança baseada no confronto que em nada resolve o problema. Muito pelo contrário. Vejamos, por exemplo, a polícia do Rio de Janeiro classificada pelos números oficiais do Ministério da Justiça como a que mais mata e a que mais morre no Brasil. Como consequência disso temos um significativo aumento de insegurança, violência e mortes em nosso Estado. É preciso mudar o rumo dessa política aqui e em todos os estados brasileiros que a utilizam como instrumento equivocado de “pacificação”. A polícia deve ser o último braço do estado a entrar em uma comunidade. Muito antes dela precisamos de escolas públicas de qualidade, professores e profissionais de educação bem remunerados, creches públicas de nível de excelência e em regime integral, saneamento e moradias com dignidade além de uma atenção especial para a inserção social através de oficinas culturais e artísticas conjugadas com a educação para os jovens. Mas, infelizmente, a opção é pelo confronto que aumentam os homicídios e não resolvem o problema, como foi o caso da ocupação militar na Maré que foi avaliada pelos próprios militares do exército como desastrosa.
Em função desse quadro é que nós precisamos vir a público para manifestar e denunciar esse sistema de injustiça que impede a construção da paz em nossa sociedade, pois trata-se de um modelo de segurança pública que mata e criminaliza os mais pobres e, principalmente e de modo peculiar, os jovens. A opção pelo confronto tem sido uma constante. O resultado disso é a combinação de ações que levam o Brasil a possuir a terceira maior população carcerária do mundo, além de ser o país que mais prende e mais mata no planeta. E a violência, ao invés de diminuir, só piora com o aumento de todos os índices ligados a terrível cultura de morte (homicídios, assaltos e etc).
Concluímos, infelizmente, que estamos seguindo um caminho equivocado por culpa de um sistema nefasto, mentiroso e equivocado que tenta, a todo o custo, enganar a sociedade e não encarar de frente o problema: a promoção da justiça através de oportunidades para os mais jovens, em especial os que estão em situação de risco.
Precisamos mostrar e debater pistas e alternativas para soluções que sejam diferentes dos profundos equívocos desse modelo em curso. Precisamos nos colocar ao lado do povo que sofre para que eles, e não apenas as autoridades, sejam os grandes protagonistas das políticas públicas. Não podemos nos furtar da missão de incentivar o cidadão e a cidadã de bem a participar ativamente dos processos políticos. Entretanto, para isso, exigimos que esses processos possuam, sobretudo, o foco no cidadão e na preservação da vida, além de um claro compromisso com a democracia e a defesa da dignidade da pessoa humana.
Os caminhos são esses. Essa é a contribuição que a sociedade civil organizada precisa dar ao processo de mudança de paradigma de segurança pública para que, dessa forma, possamos ter uma paz verdadeira, duradoura e edificada nos sólidos pilares da justiça, da solidariedade e da fraternidade. O poder público precisa disputar os nossos jovens com o crime organizado, mas essa disputa não pode ser à bala. Tem que ser através políticas públicas que gerem oportunidades e inclusão social com cidadania aos nossos jovens e adolescentes.
Robson Leite é professor, escritor, membro da nossa paróquia, Ex-Superintendente Regional do Ministério do Trabalho e Emprego no RJ e foi Deputado Estadual de 2011 a Janeiro de 2014.
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