Fé e Política – mar2017
“A (velha) crise da esperança (que insiste em nos atormentar)…”
Vasculhando meus arquivos antigos, eu me deparei com esse artigo que escrevi em fevereiro de 2006 e que tinha como título “a crise da esperança”. Eu fiquei tão perplexo com ele que fiz questão de republicá-lo esse mês, pois infelizmente nada mudou (só o Papa) e ainda há muito que fazer… E só depende de nós… Vamos fazer a nossa parte?
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Sempre tive muito interesse em estudar os hábitos e a cultura do povo Chinês. Considerado um dos povos mais antigos do planeta, os chineses sempre souberam como poucos superar dificuldades e adversidades que a história e o homem os impuseram. Possuem problemas e defeitos? Certamente que sim. Entretanto, muitas lições utilizadas pela sociedade moderna na solução de problemas importantes são originárias dos chineses e da sua cultura. Vamos, por exemplo, aproveitar um pequeno conceito chinês para fazer uma análise sobre a crise política que estamos vivendo, as suas consequências para a nossa sociedade e a possível saída para esta situação em que nos encontramos.
A palavra “crise” em chinês possui dois significados: o primeiro quer dizer grande perigo e o segundo oportunidade. A palavra é a mesma, entretanto qual destes significados vai pautar a nossa “crise” depende única e exclusivamente de nós. E é exatamente aí que se esconde a grande questão sobre qual o caminho a ser seguido para resolver a atual crise política brasileira.
Sanguessuga, mensalão, propinoduto, lista de Furnas e etc. são algumas das expressões que simbolizam o motivo do desencanto e da frustração do brasileiro com a política. Ao que tudo indica essa eleição baterá todos os recordes de abstenção e votos nulos da história do processo político brasileiro. E, infelizmente, esse tipo de atitude somente ajuda aos mandatários envolvidos nos esquemas de corrupção citados acima. Afinal, conforme está na Constituição Federal e no código eleitoral, o voto nulo apenas reduz a quantidade de votos necessários para um parlamentar ser eleito, tanto nas eleições majoritárias (Presidente e Governador) quanto nas proporcionais (Deputados Estaduais e Federais). Qualquer notícia diferente disso, como por exemplo, a possibilidade de se “anular” as eleições anulando o voto, é boato e não passa de “imaginário popular”, conforme o próprio Tribunal Superior Eleitoral já explicou em resposta a uma consulta recente. Essa atitude de anular o voto esconde o lado do “perigo” no primeiro significado chinês da palavra crise. Isso porque ao anular o nosso voto, conforme acabamos de ver acima, estaremos passando uma procuração de plenos poderes para que alguém, que provavelmente nem se quer conhecemos, administre a nossa vida. Virar as costas para o processo eleitoral é continuar permitindo que sejamos atropelados pelas consequências das atitudes dos picaretas de plantão.
Já o segundo significado chinês da palavra crise nos revela a grande chance que temos de mudar esse cenário todo: a nossa participação. Tudo o que está acontecendo hoje é fruto não apenas do nosso voto, mas da nossa ausência no acompanhamento dos mandatos depois da eleição, sobretudo no poder legislativo (minúsculo mesmo) onde está concentrada boa parte dos nossos atuais problemas políticos. Será que temos o hábito de procurar saber o que anda fazendo o nosso representante? Quantos de nós já fizemos uma visita à Assembleia Legislativa do nosso Estado para procurar saber o que os nossos mandatários andam votando e fazendo? E a Câmara Municipal? Será que ninguém nunca reservou um dia da semana durante o horário de almoço para visitá-la e procurar saber qual a agenda de votação? Ou como e quando será votado o orçamento municipal? Um bom exemplo é a taxa de iluminação pública que pagamos no Rio e que foi aprovada naquela casa há muito pouco tempo. Alguém sabe quais vereadores votaram a favor da criação desse absurdo que encarece a nossa vida todo mês?
O nosso envolvimento e a nossa participação são a chave da transformação da nossa sociedade. É claro que atitudes que caracterizam o pecado da venda de votos, como os centros sociais de saúde ou qualquer outro tipo de favores eleitoreiros precisam ser repudiados e denunciados, pois além de crime (conforme consta na Lei 9.840), essas práticas demonstram bem o perfil do mandatário que as utilizam: se fazem isso durante as eleições o que farão depois com os mandatos? Entretanto, o que iremos fazer a partir do dia seguinte das eleições para acompanharmos e fiscalizarmos os futuros mandatários é que irá transformar de forma efetiva o retrato da política brasileira.
Robson Leite
Robson Leite é professor, escritor, membro da nossa paróquia, Ex-Superintendente Regional do Ministério do Trabalho e Emprego no RJ e foi Deputado Estadual de 2011 a Janeiro de 2014.
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