Fé e Política – Mai2017
“A paz é fruto da justiça”
Essa frase do profeta Isaías, “A paz é fruto da justiça”, orientou e inspirou diversas campanhas da fraternidade em nossa Igreja. Ela nos desafia a buscar a paz como consequência de uma sociedade justa e fraterna. Além disso, ela nos inquieta frente a qualquer tipo de exclusão social existente em seu seio. Qual deve ser o nosso papel frente a essa declaração tão desafiadora do Profeta Isaías? Estamos realmente dispostos a contribuir decisivamente com o projeto de instaurar o Reino de Deus aqui na terra? Qual é a origem, por exemplo, da violência existente no nosso Estado, em especial nas comunidades mais pobres onde as balas perdidas vitimam diariamente trabalhadores, homens, mulheres, crianças e jovens? Aliás, a nossa juventude é a mais atingida pela violência cotidiana desse modelo equivocado de segurança pública, onde há uma clara ausência do estado em construir uma política que não criminalize a pobreza e não paute a sua atuação no extermínio e no confronto, mas que gere oportunidades, educação de qualidade e inclusão social. E tudo isso como parte de um grande projeto que gere a redução do abismo hoje ainda existente entre os mais ricos e os mais pobres em nosso país.
Jesus Cristo, também vitimado pela violência de sua época, permaneceu fiel à sua missão, mesmo quando a rejeição à sua mensagem o conduziu a morte de cruz. Sua coragem ao desafiar o sistema profundamente injusto de sua época, conforme vemos, por exemplo, no evangelho de São João capítulo 18 versículo 23, quando Jesus questiona o guarda romano que lhe dá uma bofetada por responder a pergunta do sumo sacerdote: “se falei mal, prova-o, mas se falei bem, por que me bates?”, é o exemplo que fica para que nós, seus seguidores, possamos questionar com a mesma coragem a injustiça da nossa sociedade. Uma excelente oportunidade que temos para esse questionamento é a situação atual do sistema carcerário brasileiro que não educa, não insere e nem recupera, mas apenas pune despertando o nefasto e prejudicial sentimento de ódio e vingança em detrimento a um caráter restaurador da justiça e reduzindo, cada vez mais, a necessária construção de vida e oportunidades para os ex-detentos. Afinal, quem daria um emprego para um ex-presidiário que já cumpriu sua pena e pagou a sua dívida com a sociedade? Por que não há uma política de incentivo tributário para as empresas que empreguem ex-detentos? Essa situação só deixa para essa pessoa uma alternativa: voltar para o crime. Talvez isso explique um pouco o fato do Brasil possuir a terceira maior população carcerária do planeta. Para piorar um pouco mais, somos o país que mais prende no mundo – o que por si só já mostra que há algo muito errado nesse modelo, pois a violência não para de crescer. Se não fizermos nada, em breve esse sistema voltará contra nós mesmos entrando em colapso e vindo a romper o tecido social. Já há claros sinais nesse sentido evidenciados nas ultimas rebeliões ocorridas recentemente no Brasil.
Os desafios são grandes na área carcerária, mas a nossa fé cristã nos impõe um compromisso: fazermos a construção do Reino aqui e agora através da nossa atitude lutando, ao menos, contra esse preconceito existente em nossa sociedade ao ex-detento. Trata-se também de um compromisso Cristão presente claramente no próprio Evangelho de São Mateus, capítulo 25, quando Jesus nos ensina como alcançar a salvação colocando, como um dos critérios, a atenção aos presidiários que possuem, segundo Suas palavras, o Seu próprio rosto: “Estive preso e foste me visitar”.
Sei que muitos podem achar bastante complicado, ou até mesmo inatingível, o objetivo dessa minha reflexão. Para esses, eu encerro esse artigo com os versos de Mário Quintana: “Se as coisas são inatingíveis… ora! / Não é motivo para não querê-las… / Que tristes os caminhos, se não fora / A mágica presença das estrelas!”.
Robson Leite é professor, escritor, membro da nossa paróquia, Ex-Superintendente Regional do Ministério do Trabalho e Emprego no RJ e foi Deputado Estadual de 2011 a Janeiro de 2014.
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