Fé e Política – Junho 2016
“Em quem votar neste ano?”
Mais uma eleição se aproxima e, como era de se esperar, uma velha discussão começa a ganhar espaço nos corredores das nossas Igrejas e comunidades: a Igreja Católica deve ou não indicar uma lista de candidatos para os fiéis votarem?
Sei que muitos amigos leitores da nossa coluna responderiam afirmativamente a esta pergunta. O motivo parece bastante razoável: a corrupção endêmica da máquina pública brasileira necessita urgentemente de homens públicos éticos e de conduta ilibada. Dentro deste cenário, nada melhor do que a própria Igreja para montar uma “lista” de candidatos confiáveis para que nós, fiéis preocupados e interessados com o bem comum, pudéssemos escolher e votar. Parece bastante lógico, não? Entretanto, ao longo das últimas eleições e, ao que tudo indica nesta também, a Igreja tem seguido outro caminho: a conscientização e preparação dos seus fiéis para um processo eleitoral consciente e participativo.
Respeito bastante à opinião das pessoas que acreditam na construção da lista. Entretanto, faço coro a brilhante estratégia adotada pela CNBB no Brasil de não indicar, mas conscientizar o eleitor. O motivo? É o que vamos rapidamente abordar na coluna deste mês.
Em primeiro lugar, o problema da corrupção existente hoje na política não é exclusividade deste meio. Lamento informar, mas as práticas de corrupção estão presentes na sociedade brasileira como um todo. Basta olhar ao nosso redor e observarmos o quanto a cultura do “levar vantagem” existe no nosso dia-a-dia. Não quero ficar aqui citando exemplos, mas todo mundo conhece alguém que se justifica na corrupção dos políticos para sonegar o imposto de renda, passar uma “conversinha” no guarda para se livrar da multa justa ou utilizar critérios baseados em favores pessoais para escolher seus candidatos. Enquanto existirem esses graves “deslizes” enraizados na nossa sociedade altamente individualista, pode existir lista de candidatos da Igreja (ou de qualquer outra instituição que goze da confiança da sociedade) que a corrupção vai continuar existindo firme e forte no meio político.
Em segundo lugar, a corrupção existente no meio político não é simplesmente apenas consequência do mau voto da sociedade. O processo da eleição, ou melhor, o voto dado dentro da cabine de votação é o que menos importa. Ele é somente a ponta de um iceberg. A atuação do mandatário precisa do forte engajamento popular durante o decorrer de todo o mandato. É como uma via de duas mãos: Uma é a atuação mandatária e outra é a participação popular pressionando, cobrando e acompanhando não somente através da internet (que já é uma ferramenta e tanto para este trabalho), mas principalmente das audiências públicas, dos conselhos municipais e dos grupos de fé e política. Se uma instituição como a CNBB, por exemplo, montasse uma lista de candidatos, ela inconscientemente tiraria essa importante e fundamental responsabilidade dos ombros do cidadão: O da participação plena, ou em outras palavras, da participação em todo o processo e não apenas na eleição. Se a CNBB assim o fizesse, ela estaria se rendendo a essa sociedade individualista que tenta a todo custo transformar os seus membros em seres egoístas e consumistas que se dizem “sem tempo” para se preocupar com essas coisas da política. E isso, amigos leitores, está muito longe da proposta do Reino do Pai trazida por Jesus Cristo através do amor ao próximo.
Em terceiro lugar temos a questão da formação da consciência crítica. Quando uma instituição, seja ela qual for, monta uma lista de candidatos “confiáveis”, ela tira do seu membro a capacidade de discernir e formar a sua consciência crítica. É o que acontece com algumas (é bom que se diga sempre que são apenas algumas) Igrejas Cristãs não católicas. A indicação de candidatos utilizada por elas transforma os seus membros em meros meio-cidadãos e cria um novo modelo de voto de cabresto: O voto de cabresto “neo-pentecostal”.
Existem alguns outros motivos que também fortalecem a opção da CNBB pela conscientização da sociedade ao invés da criação de listas nas eleições. Entretanto, eu acredito que estes são os mais contundentes para que possamos refletir e agir em prol da construção da civilização do amor fundamentada nos ideais do Bem Comum.
(*) Robson Leite é professor, escritor, membro da nossa paróquia, Ex-Superintendente Regional do Ministério do Trabalho e Emprego no RJ e foi Deputado Estadual de 2011 a Janeiro de 2014.
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