Fé e Política – jul2017
“O Cristo na pobreza: o que temos a ver com isso?”
O Papa Francisco, antes mesmo da celebração de início solene de seu Pontificado, pediu uma Igreja pobre e para os pobres, e insiste sempre que esta Igreja em saída esteja com os pobres e no meio deles.
Em sua visita às Filipinas em janeiro de 2015, o Papa pediu justiça social e resgate dos pobres, e encontrando os bispos do país asiático afirmou que o Evangelho sem os pobres é incompleto. Lembrou também que os pobres estão no centro do Evangelho, no coração deste, e que se os pobres são retirados do Evangelho, não é possível entender plenamente a mensagem de Cristo.
A centralidade dos pobres no Evangelho e, consequentemente, na missão evangelizadora da Igreja, reporta-nos naturalmente ao tema da opção preferencial pelos pobres. E neste sentido, gostaria de trazer para a nossa reflexão a Homilia 50 de São João Crisóstomo. Uma homilia contundente, desafiadora e que faz parte do Magistério da Igreja. Vamos analisar alguns trechos dessa homilia sem, obviamente, deixar de recomendar a leitura inteira e atenta da mesma. Vale muito à pena.
“Queres honrar o Corpo de Cristo? Então não O desprezes nos seus membros, isto é, nos pobres que não têm que vestir, nem O honres no templo com vestes de seda, enquanto O abandonas lá fora ao frio e à nudez. Aquele que disse: «Isto é o Meu Corpo» (Mt 26, 26), e o realizou ao dizê-lo, é o mesmo que disse: «Porque tive fome e não Me destes de comer» (cf. Mt 25, 35); e também: «Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a Mim que o deixastes de fazer» (Mt 25, 42.45).”
Esse trecho da homilia 50 de São João Crisóstomo nos lança um enorme desafio: ver o rosto de Cristo no rosto dos pobres, excluídos e perseguidos. Esse é o centro do Evangelho destacado pelo Papa Francisco e, ao mesmo tempo, apresenta-nos o desafio de mudar essa realidade através de todos os meios que dispomos, inclusive pela política. Esse é um compromisso profundamente cristão. Aliás, essa ação acaba sendo o centro desse comprometimento, uma vez que o Cristo é fim e não meio. E, nesta perspectiva, a política acaba sendo uma maneira para atingir esse objetivo.
No mês passado, na cerimônia de Corpus Christi, celebramos Deus que se fez pão e se doou como alimento ao povo, contrariamente aos opressores que o exploram e o condenam à fome e à miséria, muitas das vezes através da má utilização da política utilizada na corrupção do desvio do erário e na corrupção do desvio de finalidade da própria política, quando a mesma é utilizada à serviço dos interesses do grande capital em detrimento ao trabalho. É incompatível, nessa perspectiva e conforme nos recorda o próprio Papa Francisco na Laudato Si ou o Papa emérito Bento XVI na Cáritas in Veritate, a associação do interesse do grande capital ao pensamento cristão. “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” é um chamamento de Deus ao despojamento, à generosidade e à solidariedade para com esse Cristo presente no rosto dos mais pobres.
Que possamos cada vez mais buscar esse centro do Evangelho compreendendo que a construção da “Casa Comum” passa pelo compromisso em utilizarmos os meios que dispomos, inclusive a política, para denunciar e acabar com todas as formas de opressão, exclusão e violência contra os “mais pequeninos”, ou seja, contra o próprio Cristo!
Robson Leite é professor, escritor, membro da nossa paróquia, Ex-Superintendente Regional do Ministério do Trabalho e Emprego no RJ e foi Deputado Estadual de 2011 a Janeiro de 2014.
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