Fé e Política – Janeiro 2017
“A Igreja, você e a política”
Recentemente, eu fui surpreendido ao final de uma palestra para jovens com a seguinte pergunta: “Quando e por que a Igreja passou a se preocupar com a política? ” Essa indagação, muito comum nos corredores das nossas paróquias, normalmente é seguida de outra: “Qual o motivo da Igreja só ter se preocupado com a questão política nos dias de hoje? ”
Na verdade, a Igreja sempre esteve preocupada com a política. O amadurecimento e aprofundamento deste tema no seio das atividades pastorais se deram com o Concílio Vaticano II, mais precisamente aqui no Brasil com as reflexões conduzidas pela CNBB nas Campanhas da Fraternidade durante a Quaresma. Para entender um pouco melhor esse processo, vamos fazer um rápido histórico do papel desempenhado pela CNBB com os temas das campanhas da Fraternidade ao longo dos anos.
Logo depois do Concílio Vaticano II, a Igreja iniciou um profundo processo de análise e reflexões sobre algumas questões internas ligadas a sua renovação. Isso fica claramente demonstrado nas campanhas que vão de 1964 a 1972. Temas como: “Igreja em renovação”, “Paróquia em Renovação”, “Participação” e “Serviço e vocação” sinalizam o início de um novo tempo. Um tempo onde a participação do leigo dentro da Igreja passa a ser muito mais ativa do que tinha sido até então.
Depois dessa análise, a Igreja no Brasil passa a questionar e refletir o seu papel no mundo. E isso fica claro nos temas que surgiram após 1972. As questões do negro, da saúde, dos sem-teto, do jovem, da mulher, do desempregado e do excluído de uma maneira geral, refletem essa preocupação com o mundo moderno. E isso tudo acontece sob a influência da necessidade da Igreja estar presente nas questões da sociedade atual, conforme a orientação do Concílio Vaticano II.
As campanhas, sempre escolhidas com 3 anos de antecedência pela CNBB, conduziam as reflexões para a busca de alternativas e soluções para estes problemas. Em 1995, logo depois das campanhas anteriores onde os excluídos são analisados um a um com suas peculiaridades (os que passam fome, os sem-terra, os negros, os desempregados, os jovens, os sem-teto e etc.), a CNBB lança um tema específico sobre a exclusão de uma maneira geral, com o claro objetivo de convidar o laicado a aprofundar as questões que conduzem a sociedade a gerar essa massa de excluídos existente hoje. O tema “A Fraternidade e os Excluídos” surge como uma espécie de conclusão, e ao mesmo tempo aprofundamento, aos abordados nos anos anteriores. Fica assim, mais do que evidente, que o Cristão do mundo moderno não pode ficar passivo assistindo a esse crescimento desenfreado da massa de excluídos sem fazer nada para mudar esse cenário.
Em 1996, em pleno ano eleitoral quase como que mostrando a principal via de transformação social e complementando as campanhas anteriores, a CNBB lança o tema “Fraternidade e Política”, com o lema: “Justiça e Paz se abraçarão”. A igreja mostra assim, a necessidade do Leigo não somente se preocupar com a Política, mas de participar dela com o objetivo de promover a Justiça como base de uma sociedade fecunda na Paz. A conclusão de que não existe Paz sem Justiça também soa forte em todas as paróquias com a reflexão desta campanha. O Cristão não pode, sob a pena de impedir que o Reino de Deus se instale ao nosso redor, fechar os olhos para a Política. Essa atitude só ajuda aos “picaretas” e aproveitadores que surgem no período eleitoral.
Além disso, a Igreja mostra e promove a criação de grupos de reflexão alinhados as exigências éticas e pastorais contidas no Concílio Vaticano II.
A partir de então, todos os temas das campanhas da fraternidade sempre abordam a questão política como instrumento de transformação da realidade refletida e questionada ao longo da quaresma.
Sem sombra de dúvidas, o papel do Leigo, frente aos questionamentos atuais, jamais será de indiferença. A indiferença e a omissão são os grandes pecados que a CNBB e a Igreja da América Latina vêm combatendo. E nós, Cristãos engajados com a proposta apaixonante do Evangelho em libertar os pobres e os oprimidos, conforme nos exorta o Santo Padre, o Papa Francisco, jamais poderemos cometer a covardia de virar as costas para esse tema tão importante: “O papel político do Cristão na nossa sociedade”.
Robson Leite é professor, escritor, membro da nossa paróquia, Ex-Superintendente Regional do Ministério do Trabalho e Emprego no RJ e foi Deputado Estadual de 2011 a Janeiro de 2014.
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