Fé e Política – “Farinha pouca, meu pirão primeiro?”
* Robson Leite
Quando abordamos a questão da ética no cenário político, normalmente as pessoas esperam que a abordagem seja simplesmente sobre o estado, os mandatários e aqueles que lidam com a máquina pública. Sem dúvida alguma, a imagem dessas pessoas vem se desgastando junto à população ao longo do tempo. E isso faz com que o centro dessa discussão se prenda no papel vergonhoso que alguns mandatários – não todos – desempenham no cenário político brasileiro. Mas não podemos nos restringir apenas ao mandatário. Há outros aspectos importantes que envolvem esse tema e que merecem a nossa atenção.
Sob o ponto de vista ético e cristão, podemos abordar dois cenários bastante claros de atuação do leigo: o mandatário e o eleitor. Ambos com igual responsabilidade no desempenho de suas funções. O primeiro precisa, antes de qualquer coisa, entender que o seu papel é a busca constante pelo bem comum. E sob este aspecto, faz-se necessário lembrar que o bem estar do coletivo deve ser prioridade e sobrepujar o interesse pessoal. É inadmissível, sob o ponto de vista ético-cristão, que o comportamento de um mandatário não esteja em sintonia com essa visão, muito bem destacada em diversos documentos da CNBB e no próprio Texto Base da Campanha da Fraternidade desse ano, onde fica claro que todo o mandato e a ação de um mandatário são públicos. E no mais correto entendimento deste termo, o que é público, tem que ser de todos.
Ainda nessa linha, faz-se necessário romper o laço que une a política aos negócios. O processo político democrático administra o interesse de todo o povo e não os negócios privados de quem quer que seja. Enquanto a força do poder econômico determinar a política, sobretudo através do financiamento privado de campanhas, ela – a política – será fonte de corrupção, injustiça e instabilidade social. Ou será que alguém acredita que um empresário doe 400 ou 500 mil reais para um Deputado porque deseja um país melhor? Ele o faz para obter retorno, pois essa é a natureza empresarial. E normalmente esse retorno fere de morte os interesses coletivos da população e dos trabalhadores.
O outro ponto importante é o do eleitor: a relação dele com o voto precisa ser regida pelos princípios éticos. É inaceitável que um eleitor troque o seu voto por interesses particulares, sejam eles quais forem. Promessas de empregos, festas, benefícios e vantagens em determinadas ações do mandatário para fins particulares são incompatíveis com o comportamento ético-cristão. Temos em nossas mãos uma grande arma e que precisa ser tratada com seriedade e em benefício do bem-comum: o voto. Precisamos respaldar a nossa conduta política na ética cristã, pois a política é, por essência, ética, já que se refere sempre à liberdade e, essencialmente, à justiça. Aliás, recorro-me a Santo Agostinho, que muito oportunamente, declarou: “removida a justiça, o que são os reinos senão um bando de ladrões?”.
(*) Robson Leite é professor, escritor, membro da nossa paróquia, funcionário concursado da Petrobras e foi Deputado Estadual de 2011 a Janeiro de 2014.
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