Fé e Política – Abril 2019
“Xenofobia e etnocentrismo: Os obstáculos à construção de um novo mundo possível”
Xenofobia é uma aversão apresentada diante do diferente. Um medo excessivo e descontrolado do desconhecido. É um termo também utilizado para se referir a qualquer forma de preconceito. Quando o preconceito ou a discriminação surge como consequência da xenofobia temos aí a possibilidade real de uma patologia que precisa ser tratada. O problema – onde quero chegar nessa reflexão – é o caso do preconceito e da discriminação gerados tanto pelo medo natural do desconhecido como pela simples crença de que a nossa cultura ou a nossa “verdade” é melhor do que a do outro. Algo que, em pleno século XXI, motiva ódios, guerras, destruições e mortes.
Quando se rotula pejorativamente um grupo há uma clara demonstração de uma crença equivocada de que o “nosso” grupo é “superior” ao outro quando, na verdade, eles são apenas diferentes – caracterizando-se, nesse caso, o que a antropologia convencionou chamar de etnocentrismo. Essa é a grande dificuldade para se avançar na concepção de humanidade que, ao longo dos anos, proporcionou mortes, explorações e opressões. Vejamos, por exemplo, o que os Europeus fizeram ao chegar à América há 5 séculos atrás: encontraram uma cultura diferente e, imediatamente, a rotularam de “atrasada” e “ultrapassada”. Em função disso, oprimiram-na e dominaram-na. Não muito diferente disso vemos as grandes potências mundiais construírem guerras e mortes motivadas por interesses financeiros, mas utilizando-se – para disfarçar os interesses econômicos – de uma crença errada de que a nossa cultura é superior à do outro. De que a nossa verdade e a nossa cultura estão acima das verdades e culturas de outros povos. Um erro triste e grave, pois além de justificar junto à opinião pública do ocidente as guerras e as dominações, também gera um enorme preconceito mundial às outras culturas. Quantos árabes, chineses, muçulmanos, negros, latino-americanos e outros grupos étnicos são claramente discriminados em aeroportos e locais públicos no ocidente e principalmente nos EUA? Essa estratégia é tão sutil que a civilização ocidental ignora situações incríveis, como, por exemplo, o fato de que o berço da filosofia não é a Grécia, mas a China; que muito antes de Gutemberg “inventar” a imprensa a China já tinha imprimido jornais e boletins; que a pólvora foi inventada na Ásia e não na Europa; e que o Egito – com todas as suas belezas e histórias do berço da civilização – fica na África. Afinal de contas há um horroroso senso comum que as grandes belezas da história da humanidade e as invenções da ciência moderna vieram apenas e sobretudo da Europa ou dos EUA.
Em nosso país também há casos de situações que retratam bem esse tipo de conduta. A guerra do Paraguai é um exemplo contundente disso. Por interesses puramente econômicos, a Inglaterra incitou o nosso país a entrar em guerra com esse país vizinho nosso onde, infelizmente, dizimamos boa parte da população paraguaia causando danos até hoje em seu desenvolvimento como nação. Para piorar ainda mais, um dos tristes frutos dessa guerra é um forte preconceito cultural nosso para com esse país vizinho aonde chegamos ao absurdo de rotular produtos de qualidade inferior como “paraguaios”. Também temos os tristes exemplos de disputas regionais no Brasil onde se buscam rótulos e apelidos para pessoas que tenham origem em alguns estados brasileiros.
Só avançaremos como humanidade quando nos preocuparmos efetivamente com o direito às diversidades culturais, religiosas ou étnicas dos nossos povos dentro e fora das fronteiras dos países. Quando buscarmos o diálogo e a compreensão das motivações e verdades dos diferentes povos e culturas. Quando, acima das diferenças, houver o desejo de construir, de maneira efetiva, uma verdadeira mentalidade de que todas e todos possuem o importante e fundamental direito à felicidade, à vida e à dignidade plena.
Esse é o caminho para, acima de tudo, buscarmos o bem comum e a cidadania plena de todas e todas. Em outras palavras, o caminho para a construção do Reino de Deus aqui e agora!
(*) Robson Leite é professor, escritor, membro da nossa paróquia, Ex-Superintendente Regional do Ministério do Trabalho e Emprego no RJ e foi Deputado Estadual de 2011 a Janeiro de 2014.
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