Fé e Política – “A opção pelo Cristo”
Engraçado, mas como a dimensão muda quando personificamos e identificamos as pessoas envolvidas nos contextos da violência e nos verdadeiros problemas sociais de uma cidade. Porém, infelizmente, a grande mídia não aborda dessa forma, pois ela está a serviço de outros interesses. Ela é tão perversa que chega ao ponto de fazer com que você acredite que 450 kg de cocaína encontrado em um helicóptero não é nada e, pior ainda, que o seu verdadeiro inimigo é o jovem pobre e negro morador de uma favela no Rio…Encerro recorrendo a um texto do Profeta Isaías que disse, sete séculos antes de Cristo, “que não há paz sem justiça”. Bom, se queremos paz – e como precisamos de paz – é fundamental, antes de tudo, construir uma estrutura de justiça, sobretudo nas oportunidades promovidas pelo Estado aos nossos jovens… Boa semana a tod@s…
A Semana Santa é um dos momentos mais carregados de sofrimento e esperança na história da própria humanidade. Quantos de nós, ao vivenciarmos a via-sacra, não nos sentimos tocados ao recordar a imensa dor que os discípulos de Jesus passaram ao ver o seu sofrimento? O seu flagelo, passando pelo martírio e morte de cruz, são elementos que nos conduzem a uma profunda reflexão sobre a “não aceitação” do povo daquela época à proposta de Cristo.
Entretanto, eu gostaria de chamar a atenção para a dor de Maria. Só quem é pai ou mãe pode imaginar a dimensão do que ela sentiu. Todos nós, sem exceção, temos o impulso inconsciente de nos imaginarmos naquela situação tentando, de alguma forma, evitar tudo aquilo. É evidente que temos consciência da ressurreição, ponto alto de nossa fé Cristã, mas aquele sofrimento é algo que nos incomoda e nos leva a desejar, em nosso íntimo, uma forma de mudar aquela realidade. Porem, temos a oportunidade quase que cotidiana de livrar o Cristo do seu sofrimento e não o fazemos. O Cristo preso, oprimido, sem moradia, sem terra, sem emprego, oprimido e discriminado. Falo do Cristo presente no irmão excluído, conforme consta em Mateus 25, 31-46. É sempre bom lembrar que Jesus se coloca no lugar do pobre e do excluído quando fala dos critérios para se alcançar a salvação: “Quem fizer isso ao menor dos meus irmãos, foi a mim que o fizeste”.
Essa reflexão nos conduz para outra também muito importante: o mesmo Cristo que se faz presente na Eucaristia confirmando que “Este é o meu corpo que é dado por vós” é exatamente o mesmo que diz “Estive nú e não me vestistes, preso e não fostes me visitar (..) Quem fizer isso ao menor dos meus irmãos, foi a mim que o fizeste”. Assim sendo, conforme nos exorta São João Crisóstomo em sua homilia 50, “Do que adianta um cálice de ouro para adorar o Cristo na Eucaristia se esse mesmo Cristo morre de fome e sede do lado de fora de nossa Igreja?”.
Evidentemente que a adoração ao Santíssimo Sacramento é fundamental na vivência de nossa fé Cristã, mas se essa nossa vivência religiosa se resume apenas na adoração ao Cristo presente verdadeiramente na Eucaristia ela se torna incoerente, pois ele carece de “adoração” também lá fora na sarjeta e na miséria. O que estamos fazendo por esse Cristo pobre e moribundo? O que estamos fazendo para transformar a realidade desse Cristo preso, oprimido, faminto, desempregado ou, como muito bem amplia o Documento de Aparecida, sem-terra, prostituído e exercendo trabalho escravo? Será que essa tem sido a nossa prioridade em nossos serviços pastorais e, principalmente, fora da Igreja? Será que estamos, conforme muito bem aprofunda o Documento de Aparecida, exercendo essa opção prioritária pelos Excluídos, independente do carisma de nossa pastoral? Cuidar do espírito, como muito bem fazemos através de orações belíssimas, é importante, mas quando restringimos a nossa ação pastoral apenas a essa dimensão caímos no erro da morte, como muito bem nos aponta a epístola de São Tiago em seu capítulo 4: “A fé sem obras é morta”. Aliás, por falar em morte, é sempre bom lembrar a Campanha da Fraternidade deste ano que nos mostra a opção pela vida.
Esse é o caminho. Vivenciarmos profundamente as reflexões da semana santa que acabamos de passar no final do último mês para que ela sirva de alimento à nossa prática cotidiana de libertação dos excluídos e dos cativos em nossa vida social, pastoral e política. Afinal de contas, Jesus veio para “libertar os cativos e os oprimidos”, como muito bem nos ensina o Evangelho de São Lucas. Restringir a nossa atitude dentro ou fora da Igreja apenas a questões de espiritualidade e oração é fazer, de forma triste e lamentável, a opção pela morte e pelo distanciamento do Reino de Jesus prometido por Ele no Evangelho.
Robson Leite é professor, escritor, membro da nossa paróquia, Ex-Superintendente Regional do Ministério do Trabalho e Emprego no RJ e foi Deputado Estadual de 2011 a Janeiro de 2014.
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