Espaço Teológico – Maria, da dor à alegria pascal
Michele Amaral
Nesse mês iremos celebrar o Tríduo Pascal, que nos prepara para a festa mais importante da vida cristã; sim a mais importante, pois como nos lembra S. Paulo nas Cartas aos Coríntios “E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (1Cor 15,14). Diante disso venho convida-los a pensar um pouco sobre a figura de uma mãe, que viu o sofrimento do seu filho e o acompanhou no caminho doloroso que o levou a morte. Essa mulher é Maria.
Iniciamos essa reflexão imaginando a alegria dela, no começo, ao ver o seu filho pregando a Boa Nova do Reino de Deus, curando os doentes, acolhendo os marginalizados, partilhando a mesa com os pobres e os pecadores. Ela sempre esteve de alguma forma presente, de maneira discreta o acompanha em tudo, aprendendo e guardando tudo em seu coração.
Com o passar do tempo, algumas pessoas começam a se incomodar com as palavras e com as ações de Jesus. Essa alegria começa a ser abalada, pois ela sabia as consequências de ter conflitos com as autoridades religiosas e políticas de seu tempo: os escribas e fariseus, na Galileia; o conselho do Sinédrio e Pilatos, em Jerusalém. Mesmo assim, ela manteve a esperança, pois seu filho só estava pregando a esperança. Que mal poderia haver nisso? Cada momento que se passava ela se lembrava das palavras de Simeão: “Eis que este menino está destinado a ser uma causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições, a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações. E uma espada transpassará a tua alma” (Lc 2,34-35).
Sempre em silêncio, refletindo sobre o que estaria por vir, até que certo dia a ‘espada’ transpassa o seu coração. Ela vê o seu filho tão amado experimentando tanto sofrimento, vendo aquele homem que ela carregou em seu ventre sendo condenado à morte, sentindo a dor do desprezo daqueles a quem levou uma palavra de conforto, e estando em completa solidão. E o seu sofrimento não acaba, como já não bastasse a tortura horrenda que Jesus estava vivenciando, ele estava sendo condenado a morte, não uma morte qualquer, mas a morte mais vergonhosa que poderia se imaginar em sua época, uma morte só destinada aos maiores bandidos e inimigos do Império Romano. Como o seu menino, que só lhe enchia de alegria, só tinha palavras de amor e de esperança, poderia passar por aquilo?
Ela se sentiu incapaz, presenciava o sofrimento do seu filho e não podia fazer nada, se sentia impotente diante daquela situação, a única coisa que poderia fazer era acompanhá-lo no caminho doloroso que o esperava. Como ela queria acalentá-lo, ouso dizer, como queria, como muitas mães fazem quando o filho se machuca, pegá-lo no colo, abraçá-lo, beijá-lo e dizer que “passou”, mas não podia fazer nada disso, apenas respirou, levantou e seguiu… Mostrando para o seu pequeno menino que ela estava ali e sempre estaria ao seu lado em qualquer situação.
Com um pequeno grupo, de pessoas, ela o seguiu, mostrando-se forte mesmo no momento de tanta dor. Foi até o fim, mantendo-se de pé, pois isso mostrava a sua persistência, obstinação e adesão a Boa Nova que seu filho tanto pregou. E ao final, estava lá firme, ao pé da cruz, com Madalena e o discípulo amado. Seu gesto silencioso dizia: ‘Eu estou aqui, meu filho, apesar de todo o fracasso, eu acredito em você e na causa’.
Após a sua morte, desolada, ela segura o corpo inerte do seu filho, ainda sem entender como alguém poderia ser capaz de causar tanto sofrimento a um ser humano. Ela o segura em seu colo, o abraça e se coloca em silencio, não havia o que dizer, pois a morte é silêncio. Junto com os discípulos fica meditando sobre tudo o que havia acontecido e se perguntando o que fariam, pois o Mestre, o filho, havia morrido, experimentava o amargo sabor que a angústia da morte nos traz. Tudo havia acabado!
Após se passarem três dias, esse sentimento de amargo da espaço a um filete de esperança: não encontraram o corpo de seu Filho. Ela que antes estava de luto e sofrendo pelo seu filho se enche de alegria, a mesma alegria que sentiu ao receber o anuncio de que seria a mãe do Filho de Deus. E o sofrimento passou, pois seu filho estava vivo!!!! Diante disso se lembraram o que Jesus havia dito: “Vocês vão gemer e se lamentar (..), ficarão angustiados. Mas esta angústia se transformará em alegria. Quando uma mulher dá à luz, fica tão alegre que até esquece das dores de parto” (Jo 16,20-21). E assim aconteceu. Quando eles viram Jesus ressuscitado, foram tomados de uma grande alegria e ninguém conseguiu tirar deles (cf. Jo 16,22).
Nessa Páscoa oremos e peçamos a Deus a perseverança de Maria, para que mesmo no sofrimento possamos permanecer firmes, com a certeza da Ressurreição. Maria é nossa companheira na dor e na alegria, nas situações de morte e de ressurreição, no fracasso e na vitória. Ela nos mostra diante de sua atitude que o cristão nunca deve perder a esperança, e sempre se manter perseverante mesmo que a situação nos mostre o contrário.