Espaço Teológico – Abr2017
Lava-pés – Uma vida de serviço e doação
A celebração mais importante do ano para o cristão ocorre durante esse mês, que é o Tríduo Pascal. Ele inicia com a belíssima celebração da Quinta-feira Santa, chamada pelo povo da “missa do lava-pés”. Nesta Solenidade relembramos a instituição da Eucaristia, do Sacerdócio e o gesto de maior humildade do mestre. Convido a vocês a meditarem um pouco sobre essa linda Celebração.
Para refletir sobre ela teremos que entender melhor a mensagem que o Evangelista João nos conta em 13,1-15. Temos que ter em mente que as regras de hospitalidade da época eram bastantes claras. Quem caminhasse pelas estradas poeirentas, teria seus pés sujos. A acolhida pressupunha o oferecimento de água para lavar o rosto e os pés. Esse serviço era feito pelo escravo ou escrava da casa.
O mais bonito e marcante nesta celebração é que Jesus não deixa um testemunho de palavras, mas Ele mesmo se reveste de humildade e nos mostrando o caminho do amor. Para esse ultimo momento Ele escolhe um ambiente próprio: a mesa. Nesse ambiente que o amor se estabelecerá e se materializará na forma de alimento e bebida, pois a mesa é o lugar de convívio por excelência.
Nesse ambiente irá tomar a iniciativa de preparar os seus discípulos para esse pacto, e o gesto mais concreto: último ensinamento, contado lentamente para que ficasse gravado no espirito de todos. Na condição de Mestre e Senhor, Jesus assume o lugar de diácono, do servo e do humilde, pois troca o seu manto pelo “avental” e começa a utilizar os instrumentos de um servo: Jarro e Bacia. Ao se cingir quer mostrar que o serviço é a meta dos que querem ter parte com ele (Jo 13,3).
Depois de Lavar os pés, Jesus pergunta se eles entenderam o ensinamento passado (13,12). O gesto de Jesus vai muito além do ato de hospitalidade. A lição que Ele dá é um gesto e uma aliança com compromissos futuros. Por não entender a profundidade do gesto de Jesus, Pedro se recusa a deixar que Jesus lave os seus pés (13,6). E aqui encontramos uma problemática, pois ao negar o gesto de Jesus, estava negando a assumir o lugar de humildade, de serviço diante dos outros, menores que ele. Pedro não está considerando o gesto como uma humilhação excessiva, mas tem medo e não quer o mesmo para si (13,14). Ele se envergonha de si mesmo pela sua incapacidade de lavar os pés de um irmão. Essa atitude é de quem esta em posição privilegiada e tem dificuldade de assumir uma possível mudança de “função”. Lavar os pés é uma condição para participar da mesa. Aqui a mesa simboliza o Reino de Deus e a purificação assume um sentido espiritual. Pedro ao perceber isso quer que Jesus lhe “dê banho”.
“O servo não é maior que o seu senhor, nem o enviado maior que aquele que o enviou” (13,16). Aqui percebemos que a relação entre discípulo-mestre é do menor para o maior, sem tirania. O discípulo fiel vai seguir os ensinamentos do Mestre com fidelidade. Ouvir o que Jesus diz é fácil, mas difícil é assumir um compromisso com os menores, excluídos e marginalizados, como o Mestre fazia. Ele é Aquele que liberta a partir da sua própria doação existencial. O amor é doação, quem ama se doa a todos. Ele quer que continuemos a sua obra de paz e justiça; que não tenhamos medo e nem preguiça para lavarmos os pés, que deixemos de lado toda arrogância e nos coloquemos como menores, ajudando nossos irmãos e irmãs necessitados, nos colocando sempre a serviço e doação.
Michele Amaral
Bacharel em Teologia- Puc Rio