Espaço Litúrgico – Janeiro 2017
Os Magos do Oriente
Nesse mês a solenidade da Epifania do Senhor, que em nosso calendário é marcada para o dia 06 de janeiro, mas depois da reforma do calendário litúrgico em 1969, passou a ser celebrada dois domingos após o Natal.
A palavra Epifania vem do grego e significa aparição, manifestação, um fenômeno miraculoso. A Igreja celebra como Epifania três eventos da vida de Jesus: a manifestação aos Magos do Oriente (Mt 2,1-12), a manifestação diante de João Batista no rio Jordão (Mt 3,13-17; Mc 1,9 e Lc 3,21-23) e o fenômeno do milagre de Cana (Go 2,1-11).
Nessa edição iremos nos deter a figura dos Magos do Oriente ou, como popularmente conhecemos, aos reis magos. Muitas perguntas são feitas sobre eles, iremos responder algumas, lembrando que muitas das repostas vêm da tradição oral e popular:
Quem eram? Quantos eram? Eram magos? E quais eram seus nomes?
Eram sábios que vinham ‘do Leste’ (considerando Israel como referência) para adorar a Cristo. O nome ‘mago’ era sinônimo de sábio. Eram considerados grandes estudiosos dos astros, por isso considerados astrônomos, como também sacerdotes ou conselheiros. Dizemos que são três pela quantidade de presentes que foram entregues ao menino, pois o evangelista Mateus não diz quantos eram. O evangelho cita os seus nomes, somente se referem a magos vindo do oriente.
Ora de onde vêm os nomes deles então?
Os nomes que receberam vêm da tradição, mas não possuem base histórica ou bíblica. No século VIII, São Beda, monge inglês, que em seu tratado “Excerpta et Colletanea”, relata que: “Melquior (Belquior) era velho de setenta anos, de cabelos e barbas brancas, tendo partido de Ur, terra dos Caldeus. Gaspar era moço, de vinte anos, robusto e partira de uma distante região montanhosa, perto do Mar Cáspio. E Baltasar era mouro, de barba cerrada e com quarenta anos, partira do Golfo Pérsico, na Arábia Feliz”. (São Beda – Excerpta et Colletanea). Esses nomes tem um significado forte: Melquior quer dizer: “Meu Rei é Luz”, Gaspar significa “aquele que vai inspecionar” e Baltasar se traduz por “Deus manifesta o Rei”.
E quantos aos presentes?
A tradição nos ensina que cada presente tem um significado simbólico: o ouro mostra o reconhecimento da realeza de Jesus, pois na antiguidade era um presente reservado aos reis, o incenso (ou olíbano) reconhece a divindade, presente reservado aos sacerdotes e a mirra o reconhecimento da sua humanidade, presente destinado aos profetas, utilizada para embalsamar os corpos e representada simbolicamente a imortalidade.
De onde vinha e o que houve com eles depois de terem visto Jesus?
Segundo a tradição, um era negro, o outro branco e o terceiro moreno. Alguns estudiosos defendem que eles vieram do Iraque, do Irã e da Arábia Saudita, mas outros já defende a ideia de que vieram da África, Ásia e da Europa, pois era os três continentes conhecidos da época. Esse estudo ainda não foi concluído. São João Crisóstomo, irá nos ensinar que eles foram batizados pelo Apóstolo São Tomé e trabalharam muito para a expansão do Cristianismo. (Cf. Patrologia Grega, LVI, 644). A fama da santidade deles é tão grande que seus restos mortais são venerados na nave central da Catedral de Colônia, Alemanha. As relíquias deles foram descobertas na Pérsia pela imperatriz Santa Helena e levadas a Constantinopla, capital do Império Romano de Oriente. Depois foram transferidas a outra capital imperial no Ocidente – Milão –, até que foram guardadas definitivamente na Catedral de Colônia em 1163 (Acta SS., I, 323).
Para os magos, a luz assume a forma de um astro celeste, tão brilhante que era visível de muito longe. Aqui percebemos que as antigas profecias são confirmadas pelo cosmo: “uma estrela sai de Jacob e um cetro flamejante surge do seio de Israel…” (Nm 24, 17). Lembremos que eles eram pagãos e mesmo assim reconhecem no “menino envolto em faixas” (Lc 2,7) o “rei dos Judeus que acaba de nascer” (Mt 2, 2), mostrando assim a dimensão universal da salvação. O menino que será a ‘luz dos povos’, “a luz verdadeira que, vindo ao mundo, a todo o homem ilumina” (Jo 1,9).
“Os reis de Társis e das ilhas lhe trarão presentes, os reis da Arábia e de Sabá oferecer-lhe-ão seus dons. 11. Todos os reis hão de adorá-lo, hão de servi-lo todas as nações”. (Sl. 71(72), 10-11).
Michele Amaral – Bacharel em Teologia – Puc RIO