Epifania
No dia 6 de janeiro, celebramos a festa dos Reis Magos, oficialmente chamada Epifania ou Revelação do Senhor. Podem fazer-se muitas reflexões em torno dessa festa. Podemos, por exemplo, perguntar o que está por trás da história da estrela de Belém, dos reis magos, da crueldade de Herodes? No Antigo Testamento, alguns profetas sonharam com a restauração de Israel. O “terceiro Isaías”, vivendo logo depois que os judeus voltaram do exílio babilônico, tem uma visão da restauração do povo: todos os povos irão ver a luz de Deus que brilhará sobre a Cidade Santa, Jerusalém. Os judeus dispersos e mesmo os povos pagãos chegarão trazendo ricos presentes. O mundo inteiro proclamará as obras gloriosas do Senhor. Ora, essa confluência de judeus e pagãos realiza-se no povo fundado por Jesus Cristo. Este é o “mistério”, o projeto escondido de Deus, que Paulo conhece por experiência pessoal; ele dedicou sua vida a pregar o evangelho a judeus e pagãos conforme Efésios 3,2-3a.5-6.
Mateus, (Mt 2,1-12), traduz a fé de que Jesus é o Messias universal numa narração que descreve a realização da profecia: reis magos (astrólogos) do Oriente enxergam a luz que brilha sobre Belém, cidade de Davi, na proximidade de Jerusalém. É a estrela do recém-nascido messias, “rei dos judeus”. Querem adorá-lo e oferecer-lhe seus ricos presentes. Ora, o rei de fato, Herodes, juntamente com os doutores e os sacerdotes, não enxerga a estrela que brilha tão perto dele; é obcecado por seu próprio brilho e sua sede de poder. Os reis das nações pagãs vêm de longe para adorar o menino, mas os chefes dos judeus tramam sua morte… As pessoas de boa vontade que realmente buscam o salvador o encontram em Jesus, mas os que só gostam de seu próprio poder têm medo de encontrá-lo.
Significativamente, o medo de Herodes, o Grande, o leva a matar todos os meninos de Belém. Por que se matam ou se deixam morrer crianças também hoje? Porque os poderosos absolutizam seu poder e não querem dar chances aos pequenos, nem sequer para viverem. Preferem sangrar o povo pela indústria do armamento, dos supérfluos, da fome… Jesus é o não-poder, pobre e indefeso. Ele não se defende, nem tem medo. Em redor dele se unem os povos que veem de longe. “E avisados num sonho voltaram por outro caminho.” O caminho, na Bíblia, é o símbolo da opção de vida da pessoa. Os reis magos optaram por obedecer à advertência de Deus; optaram pelo Menino Salvador, contra Herodes e contra todos os que rejeitam o “menino”, matando vida inocente.
Pe. Johan Konings, SJ