Colaboração do Leitor – Mar2019
O Cristo Negro de Portobelo no Panamá
Em janeiro a Cidade do Panamá recebeu dezenas de milhares de cristãos católicos onde celebraram a JMJ 2019. Porém o país e a cidade tornaram-se centro das atenções no Rio também neste mês de março devido ao enredo “A Fé que Emerge das Águas” onde o GRES Estácio de Sá – a 1ª escola de samba fundada no Rio de Janeiro ⁽ ¹ ⁾ – levou ao Sambódromo, tendo sido a 3ª escola do Grupo de Acesso a desfilar no sábado 2 de março.
Mas qual a história do Cristo Negro de Portobelo ⁽ ² ⁾?
A legendária representação de Jesus Cristo conhecida como Cristo Negro de Portobelo, mistura temas de raça e religião, juntamente com uma história com origem mítica, criando um dos muitos objetos de fé e devoção cristã do mundo.
As verdadeiras origens do Cristo Negro são na verdade desconhecidas. Existem 3 lendas, conforme a seguir.
A caixa e a tempestade: A versão mais difundida é a de que a estátua vinha sendo trazida da Europa, quando o mau tempo teria obrigado o navio a aportar em Portobelo. Por cinco dias, os marinheiros tentaram seguir viagem, o que sempre era impedido pela fúria das águas. Até que eles cismaram que o problema era a presença da estátua e jogaram-na ao mar. Segundo a versão, após tal providência, finalmente veio a calmaria e eles seguiram viagem. O ano era o de 1658 e o mês de outubro onde, de acordo com a história, um escravo negro estava pescando na cidade quando viu um grande objeto flutuando na água. Depois de arrastar o objeto misteriosamente embrulhado para o chão, ele desembrulhou-o na visão de várias testemunhas e apareceu a figura do Cristo Negro. A estátua foi recuperada e levada até uma capela onde ficou até a construção da Igreja de San Felipe, onde está hoje. Sua cor escura vem da madeira original na qual foi entalhada por um artesão espanhol.
A caixa e a epidemia: Outra importante versão foi a que muitos moradores locais sentiram através de sua fé que a aparição da estátua era um sinal de que Jesus estava com eles em um sentido muito mais amplo e concreto. Essa veneração foi recompensada e verificada quando a praga que assolava a região foi desaparecendo, assim que a imagem do Cristo Negro chegou à cidade.
Troca das imagens: Uma terceira lenda assegura que a Igreja de Taboga (uma ilha do Pacífico), ordenou a imagem de um Jesus Nazareno a um fornecedor da Espanha. Por outro lado, a Igreja de Portobelo pediu ao mesmo artesão uma imagem de São Pedro. Houve um erro ao enviar as imagens havendo a troca no envio das mesmas, sendo que a de São Pedro foi para Taboga e a do Cristo Negro acabou em Portobelo. Todos os esforços que foram feitos para tentar corrigir o erro não obtiveram sucesso, porque sempre acontecia algo que impedia a imagem de deixar a cidade. Desta forma, a comunidade interpretou as dificuldades como uma mensagem divina e abandonou a ideia de trocar imagens.
O manto da estátua é trocado duas vezes por ano, durante a Semana Santa e no festival em outubro. Desde então e para honrar as ações miraculosas do Cristo, uma procissão é celebrada todo dia 21 de outubro. Durante a procissão, os peregrinos caminham por vários quilômetros pela cidade, muitos vestindo mantos cerimoniais homenageando à figura do Cristo até chegar a igreja. É levada sobre os ombros dos fiéis por uma distância, representando o caminho que ele andou arrastando do mar. A procissão segue um conjunto de passos – quatro passos à frente, três passos para trás e ao ritmo de música típica – que vai se prolongando durante toda cerimônia e por horas. À meia-noite a imagem retorna ao seu lugar na Igreja.
Durante o Festival do Cristo Negro, milhares de peregrinos chegam a Portobelo. Histórias mágicas e milagres são contados em torno da imagem numa atmosfera onde se mistura todo o fervor religioso com a festividade. São vendidos diversos artigos religiosos e por tradição os fiéis colocam cera quente sobre seus corpos durante a procissão. Esse ritual faz com que estas pessoas sintam um pouco de dor como forma de penitência e purificação. Ao mesmo tempo, a música ao vivo é tocada durante o festival.
Celebridade Internacional esteve no desfile da Estácio de Sá
Panamá e Brasil estiveram reunidos no desfile de 2019 da Estácio de Sá através de um dos nomes mais celebrados e queridos hoje na América Latina. Filha de uma brasileira e nascida no Panamá, Érika Ender aceitou o convite da primeira escola de samba do Brasil e foi destaque no desfile que celebrou a fé e devoção do povo panamenho ao Cristo Negro de Portobelo. Símbolo pop, a cantora coleciona vários Grammy, Billboard, entre outros. No Brasil, seu hit Despacito foi cantado por artistas de diferentes segmentos e até Roberto Carlos se rendeu ao talento, carisma e beleza da artista. Atualmente, a estrela da música pop latina, tem o seu mais novo hit “Dónde” – dueto com o grupo cubano Gente de Zona –, que foi incorporado a trilha sonora da novela “O Tempo Não Pára” da Rede Globo de Televisão.
Colaborou com o texto (adaptado): Paulo Renato
PASCOM
Fontes: Sites da Estácio de Sá, Enroute Blog (em espanhol) e Blog do Mestre Carnaval.
Fotos: Wikipédia, Estácio de Sá, Seracat e perfil do Facebook oficial da Érika Ender.
⁽ ¹ ⁾ A “Deixa Falar” foi fundada em 12/08/1928. Em 1955 passou a chamar-se “Unidos de São Carlos” e em 1983 mudou novamente para Estácio de Sá.
⁽ ² ⁾ Portobelo é uma cidade panamenha situada na província de Cólon, ao norte do Canal do Panamá.
Pai Nosso que emerge das águas
Perdoai as ofensas daqueles que não o entendem
Daqueles que não compreendem que sua cor é negra
Um Cristo que carrega a cruz das três raçasÓ, Cristo Nazareno Negrón
Nesta noite te oferecemos flores em devoção
Que seja feita, aqui e aí, a tua vontade
Assim na Terra como no céu:
Glória e prosperidade ao Panamá
E alegria a nosso povo da Estácio de SáAmém.
(Trechos retirados da sinopse do Enredo)