Carta aos Hebreus (12) Liturgia dominical: Purificação no Sangue do Filho
O Senhor que celebramos, quando nos reunimos em assembleia no dia de domingo, é o Filho, o Herdeiro, “Resplendor da Glória de Deus, a Expressão do seu Ser” (Hb 1,3), que assumiu a nossa condição humana, feito, por um pouco, inferior aos anjos: aquele que Deus Pai levou à perfeição pelo sofrimento e que, agora, vemos coroado de honra e glória, sentado à direita da Majestade. Passando pelo véu da sua Humanidade, entrou no Céu com o seu Sangue, na condição de Sumo Sacerdote e, diante do Pai, intercede por nós. O seu sacerdócio é eterno e o Sangue da sua imolação nos purifica dos nossos pecados. Foi chamado a essa função pelo Pai, que, no momento da sua ressurreição, o glorificou. O sacerdócio de Melquisedec ilustra a condição do sacerdócio de Cristo. Trata-se de um sacerdócio eterno, superior ao sacerdócio terreno, dos da estirpe de Aarão. A comparação do sacerdócio de Cristo com aquele do sumo sacerdote que, a cada ano, entra no lugar chamado santo, e que, primeiro, purifica a si mesmo, enquanto oferece um sacrifício de expiação pelos seus pecados e de todo o povo, e que, depois, entra, com o sangue dos animais, no santo dos santos, revela a superioridade de Cristo. Este não precisou oferecer um sacrifício para si, e sim, abolindo de uma vez a Tenda, entrou, uma vez por todas, no Templo que está no Céu, com o seu sangue, tendo sofrido a morte uma vez por todas. O sacrifício do sumo sacerdote não tirava os pecados, enquanto o sacrifício de Cristo purifica dos pecados. Jesus é o novo Moisés que estabelece, pela aspersão do seu Sangue, uma Aliança definitiva, o Filho que senta à direita de Deus e nos torna co-herdeiros do Reino inabalável que herdou. É o homem Cristo Jesus que se deu em sacrifício por nós e que o Pai, no momento da Ressurreição, glorificou dizendo-lhe: “Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei” (Sl 2,7). É o Deus que o Sl 45 saúda quando celebra o Rei no dia da sua coroação, que o seu Deus preferiu aos outros companheiros. É Aquele que Deus ungiu e estabeleceu à sua direita para por os inimigos seus debaixo dos seus pés. Jesus realizou em si a figura do Adão, chamado à glorificação pela obediência e imolação. Na condição de primogênito dos mortos, anuncia aos seus irmãos, na grande assembleia, a sua condição e o que se tornou para eles: um Sumo Sacerdote capaz de se compadecer dos que erram, por ter-se tornado, em tudo, igual a nós, exceto o pecado. Ele, até conheceu a morte, contudo, somente na condição de vítima sacrifical.
Quando, no Domingo, que significa, Dia do Senhor (lat.: Dies Domini), celebramos o Senhor ressuscitado pelo Memorial da sua Morte, nos purificamos, em virtude do seu Sangue derramado. No heroísmo da sua imolação, também, encontramos a mais válida motivação para perseverarmos no testemunho da nossa fé. De fato, até chegamos a “degustar a doutrina da justiça” (Hb 5,13), precavendo-nos, dessa forma, de nos tornarmos desertores.
Quando nos nutrimos com a carne do sacrifício que Jesus ofereceu pela imolação de cruz, fora da cidade da Jerusalém terrena, e mais precisamente sobre o Monte Calvário, nos tornamos merecedores de poder entrar na Cidade da Jerusalém celeste. Lá nos espera aquela nuvem de testemunhas que, pela fé, fundamentaram a sua esperança até chegar a ter certeza das realidades celestes, embora ainda não as tivessem alcançado.
Pe. Fernando Capra