Ano do Leigo – jun2018
Nhá Chica, a Beata de Baependi
Uma vida dedicada a uma missão: assim é possível resumir o caminho vivido por Nhá Chica, a leiga de Baependi (MG), declarada pela Igreja a primeira beata do Sul de Minas, em 2013. Filha livre de uma ex-escrava, poucos documentos contam a história desta mulher que passou seus dias aconselhando e cuidando de todos que procuravam sua ajuda. Ganhou o título de “Mãe dos Pobres” por seus atos de caridade e sua humildade na forma de viver.
Francisca de Paula de Jesus nasceu em meados de 1810 em Santo Antônio do Rio das Mortes, distrito de São João Del Rei (MG). O primeiro registro que se tem de sua vida foi o atestado de batismo de Francisca, em 26 de abril de 1810. Além disso, somente um inventário do irmão da beata, que era uma pessoa muito rica e importante na cidade, o testamento de Nhá Chica e seu atestado de óbito são os registros oficiais da vida da religiosa. O levantamento foi feito em 1998, quando a comissão histórica para o processo de beatificação de Nhá Chica foi definida.
Francisca se mudou com seu irmão Theotônio Pereira do Amaral e a mãe Isabel Maria para Baependi. Ela tinha cerca de oito anos na época e sua mãe morreu logo depois de chegarem à cidade. Ela nunca se casou, e passou a viver reclusa em sua casinha somente se dedicando às orações e recebendo pessoas para dar conselhos. A fama da sabedoria da religiosa e de graças que conseguia através de suas orações começou a se espalhar pela região e pelo Rio de Janeiro. Já conhecida como Nhá Chica, que significa Senhora Francisca, ela recebia o povo em sua casa para aconselhamento, dos mais pobres até gente importante.
A Capela de Nossa Senhora da Conceição
Quando o irmão de Nhá Chica morreu, em 1861, deixou sua fortuna para ela, que usou o dinheiro para construir uma capela no terreno herdado ao lado de sua casa para Nossa Senhora da Conceição, santa da qual era devota fervorosa. O restante doou para os pobres. É neste período que também se relata que aconteceu o milagre do órgão. Nossa Senhora da Conceição teria pedido à Nhá Chica que comprasse o instrumento para a igreja. Após perguntar para o padre o que era um órgão, a religiosa chegou para o maestro Francisco Raposo, amigo dela que sempre tocava para o imperador no Rio de Janeiro, e pediu que comprasse o instrumento para ela. A ele, Nhá Chica entregou um papel com o endereço na capital de onde ele deveria comprá-lo, na Rua São José, 73.
Raposo levou o órgão de trem até Barra do Piraí (RJ), mas de lá, teve que seguir viagem de carro de boi. Quando o órgão chegou a Baependi, não funcionava. Nhá Chica começou a rezar e disse que Nossa Senhora da Conceição havia dito que o instrumento só funcionaria no dia seguinte, sexta-feira, às 15h. E neste exato momento, o órgão foi tocado pelo maestro para toda a população, que se aglomerou em volta para ver.