Aleitamento Materno
Algumas pessoas imaginam que dar abrigo a outro ser humano dentro do seu próprio corpo é uma experiência inigualável para as mulheres, e de fato é. No entanto as torrentes de emoções não terminam com o parto. Passados os nove meses de gestação, a mãe deve aproveitar o momento da amamentação do bebê para criar uma intimidade única com o seu filho, curtindo cada segundo e se permitindo momentos de paz. Estabelece-se neste contato, o que chamamos amor.
No entanto, mesmo sendo a amamentação um gesto tão antigo quanto a própria humanidade, ainda são muitas as dúvidas que permeiam as nutrizes nesse gesto de amor. Nada mais justo, então, que no mês que homenageamos nossa mãe Maria e todas as mães, conversamos sobre esse tema.
O aleitamento materno traz diversos benefícios à saúde da criança como a redução de infecções respiratórias, diarreias, otites, meningites, verminoses e cáries, além de reduzirem o risco de doenças crônicas como obesidade, diabetes, hipertensão, doenças inflamatórias intestinais, alergias respiratórias e alimentares. E as vantagens do aleitamento não se restringem às crianças, ele também auxilia na involução uterina da nutriz e reduz o risco de hemorragias, câncer de ovário e câncer de mama. E o mais importante de tudo… o aleitamento propicia um íntimo contato físico e emocional entre mãe e filho.
Apesar de todas essas vantagens e da recomendação do aleitamento materno nos primeiros 2 anos de vida da criança, frequentemente vemos o desmame ocorrer de forma precoce. Isso ocorre porque o início do aleitamento pode ser difícil e diferente do que a sociedade pensa. Amamentar não é um ato inerente da mulher e depende de um processo de aprendizado e adaptação da nutriz com seu recém-nascido. A falta de informação, (pré) conceitos familiares, o marketing agressivo de indústrias de alimentos infantis e o uso de bicos artificiais despontam como principais causas do desmame precoce.
O ponto inicial e mais importante é compreender que o ÚNICO e maior estímulo à produção láctea é a sucção. Muitas vezes na maternidade, vemos mulheres sofrendo porque nas primeiras horas do pós parto não estão com uma “boa” produção, mas realmente não é esperado que as mamas tornem-se túrgidas nesse primeiro momento. Estima-se que a mulher produza cerca de 20 ml de colostro nas primeiras 24 horas de pós parto… e você pode perguntar “o bebê não vai ficar com fome mamando apenas 20 ml?”. A resposta é não, pois Deus com sua imensa sabedoria fez com que os bebês nasçam com uma reserva de energia que eles consumirão nessas primeiras horas, suportando assim esse “jejum” inicial e, além disso, o bebê costuma ser pouco ativo nesse primeiro estágio, o que poupa energia. Compreendido isso, a mulher terá calma para começar a adaptar-se com o processo de amamentação e aqui está outro aspecto crucial: a amamentação é um processo psicofisiológico, ou seja, para uma amamentação eficiente, a nutriz precisa estar confiante e informada, tornando o apoio familiar essencial.
E como apoiar uma nutriz? Escutando seus anseios com plena atenção, não criticando (comentários como “eu produzia muito mais leite” nunca serão bem-vindos), deixando a mulher à vontade e, se ela quiser, respeitando seu direito de estar sozinha ou apenas com seu companheiro e bebê nesse momento de intimidade, sendo cálido e acolhedor e estando disponível a ajudar.
Passadas essas primeiras horas, por vezes muito angustiantes, o bebê começa a ficar mais desperto e nesse momento ele quer mamar “o tempo todo”. Os bebês mamam de 8 a 12 vezes por dia ou até mais. Isso não significa que o leite da mulher seja fraco. Na verdade, o lactente tem um grande gasto metabólico. Lembre-se: ele nunca mais vai crescer e ganhar tanto peso como nesses primeiros meses. Sendo assim, devemos deixar o bebê mamar em “livre demanda”; quando eles se sentem saciados, adormecem ou largam o peito espontaneamente.
Vencido esse momento inicial de adaptação e corridos os primeiros meses, vemos um segundo momento de transição difícil para a mulher, que é o retorno ao trabalho. A legislação brasileira concede a licença maternidade por 120 dias (4 meses) e idealmente o aleitamento materno exclusivo (sem água e alimentos) deve ser realizado até os 6 meses. Seria então, o retorno ao trabalho o fim do aleitamento exclusivo? Claro que não! A mulher pode ordenhar e congelar o leite, armazenando o mesmo em pequenos potes de vidro ou plástico duro esterilizado e reaquecê-lo em banho-maria. O leite materno pode ser armazenado por 15 dias em freezer e 12 horas em congelador: então, para não se confundir, rotule os potes com data e hora da ordenha. Depois de descongelado, o leite não pode ser recongelado. Armazene, então, em cada pote a quantidade aproximada de leite que seu bebê ingere em cada mamada.
Esperamos que nossa conversa ajude as mães da nossa comunidade a viver e aproveitar um dos momentos mais especiais da sua convivência com seu filho ou filha.
Parabéns a todas as mamães.
Giselle Lopes é médica pediatra.